A Alibaba foi fundado em 1999 com uma missão clara de “tornar o modo de se fazer negócios ao redor do globo sem complexidades”. Seu fundador, Jack Ma, entendeu desde muito cedo que o poder da tecnologia transformaria o mundo dos negócios, e que os mais impactados por esta transformação seriam pequenas e médias empresas que não tivessem os incentivos necessários para esta mudança.
Assim, a Alibaba nasceu com uma visão ambiciosa de criar um impacto social positivo no mundo tecnológico, através de três milestones. O primeiro seria atingir a marca dois bilhões de clientes, o segundo seria a criação de 100 milhões de empregos (diretos e indiretos), e o terceiro seria tornar dez milhões de pequenas e médias empresas plenamente rentáveis.
Ao longo dos seus 21 anos, a Alibaba tem sido não apenas um leading case para a indústria de varejo com plataformas de e-commerce, mas também uma escola para empreendedores que buscam e precisam localizar novas formas de fazer negócios, inclusive em períodos de crise. Veja, a crise decorrente da COVID-19 não é a primeira crise advinda da saúde que a Alibaba enfrenta ao longo de sua jornada.
Em 2003, durante o surto do SARS, a Alibaba não apenas saiu ilesa do período caótico, como também soube incrementar seus modelos de negócio com novas features. Além disso, utilizou de suas ferramentas de inovação para criar o Taobao, uma das plataformas mais rentáveis de e-commerce da China, demonstrando ao mundo que cenários de stress poderiam ser gatilhos à inovação.
Em tempos de Coronavírus, a Alibaba – uma empresa com valuation estimado de U$ 500 bilhões até o ano passado – tem surpreendido a economia global com lições verdadeiramente profundas de empreendedorismo pautadas no modo resiliente chinês de analisar e sistematizar modelos de negócio. Dentre estas lições destaco cinco como sendo essenciais àqueles que desejam sobreviver e reinventar o modo de fazer negócios na era da transformação digital.
1) “Parceria estratégica”. Enquanto o mundo busca o isolamento através do distanciamento social, a Alibaba entendeu rapidamente que a criação de parcerias estratégicas é essencial a qualquer modelo de negócio que deseja sobreviver na nova era digital.
Exemplifico o conceito de parcerias estratégicas por meio do Mybank – banco de seu grupo econômico inteiramente digital focado em pequenas e médias empresas -, que durante a crise realizou parcerias com mais de 100 bancos chineses para, juntos, lançarem “Contactless Loans”, focados em apoiar dez milhões de pequenas e médias empresas na China com dificuldade em manter suas contas em dia durante a COVID-19. Este modelo inovador de empréstimos possibilita que empreendedores realizem pedidos de empréstimos em menos de três minutos e recebam resposta pela aprovação ou não, em menos de um segundo, sem que haja intervenção de seres humanos durante todo o processo.
2) “Execução e implementação”. Não basta ter uma clara estratégia teórica, é preciso a prática efetiva. A rapidez da execução e implementação do plano estratégico é fator preponderantemente essencial para os modelos de negócio da Alibaba.
Nesta frente, cito o caso da Ant Financial – empresa financeira de seu grupo econômico – que durante a COVID-19 tem atuado para a criação e desenvolvimento de mini-apps (programas de interface com Wechat) que possam impactar seus clientes durante o período da crise. Apenas em uma semana, os desenvolvedores da Ant Financial reportaram a criação de 181 mini-apps. Outro caso emblemático é a solução criativa da plataforma Ele.me – plataforma digital da Alibaba -, que durante a crise tem buscado atender novas demandas de empregos criadas durante a COVID-19.
3) “Missão e propósito”. Estes conceitos são a peça-chave para melhor entendimento da significação da companhia durante a crise. Ao longo da toda o período de lockdown na China, a Alibaba tem deixado claro qual seria seu papel durante todo o período de combate ao vírus.
Neste sentido, destaca-se o apoio aos serviços médicos, aos clientes, e às pequenas e médias empresas como pedras angulares de sua missão e propósito. A fim de que este plano seja atingido, a Alibaba entendeu que a comunicação em tempo real com seus funcionários; a conexão e troca de informações entre seus stakeholders com relação às medidas de combate à COVID-19; e a inspiração realizada de modo contínuo pela liderança da Alibaba seriam fatores preponderantes para que a missão e propósito fossem atingidos com sucesso.
4) “Novos Negócios”. Atualmente, a Alibaba – reconhecida pela sua cesta diversificada de companhias dentro de seu portfólio e pelos seus modelos de negócio inovadores criados a partir de problemas efetivos -, não isenta a importância, mesmo durante a crise, da busca de novas oportunidades.
Nesta linha, trago como exemplo o lançamento de uma série de soluções tecnológicas com vistas a suportar os agentes de saúde que estão na linha de frente. Durante o período de crise, o Alibaba Cloud localizou que dentro dos nichos de monitoramento e diagnóstico do COVID-19 poderiam surgir excelentes negócios. Assim, foram implementados três soluções inovadoras e rentáveis: a Epidemic Prediction Service, uma solução com foco em estimar período de pico, áreas de risco e contágio; Genome Sequencing Data Analysis, uma solução que através de inteligência artificial aprimora a análise do genoma do vírus; e o CT Image Analytic Service, uma solução cujo foco é melhorar a performance dos testes de COVID-19.
Outro caso emblemático na linha de novos negócios tem sido a busca de solução aos problemas de pequenas e médias empresas que ainda não completaram a transformação digital. Desse modo, ao longo de todo o período caótico que as empresas têm enfrentado, a Alibaba tem buscado acelerar a criação de produtos plug-and-play, além de soluções na área de multimídia e vídeo livestreaming, com objetivo de ser a solução de sobrevivência rápida e efetiva para pequenas e médias empresas por meio da transformação digital.
5) “Inspiração humanitária”. A Alibaba, por meio da Alibaba Global Iniatives (AGI), que promove o desenvolvimento e treinamento de pequenos e médios empreendedores com impacto social relevante, já treinou mais de 281 plataformas de negócio em mais de 28 países dos continentes africano e asiático. Notadamente cito dois casos emblemáticos.
O primeiro refere-se ao caso da Nigerian eFounders, que se tornou uma solução criativa de delivery durante o lockdown em Lagos, e o da plataforma de educação digital O`Genius Panda, que ajudou estudantes de Rwanda a migrar para a educação online durante o período de lockdown. Vale ressaltar que ambos os modelos de negócio em suas comunidades têm sido verdadeiras molas propulsoras de inovação e inclusão tecnológica graças aos incentivos concedidos pela Alibaba.
A contribuição de um gigante asiático como a Alibaba tem ultrapassado as barreiras das zonas de confortos por mais de 20 anos e tem deixado lições profundas não apenas de sobrevivência e transformação de modelos de negócio, mas também de ações de impacto social extremamente necessárias e relevantes frente ao novo mundo digital.
Assim, partindo do pressuposto de que o mundo se prepara para um novo modo de fazer negócios pós-COVID 19, podemos antever que a Alibaba, que já atua na vanguarda dos próximos ditames da transformação digital do globo, logo nos surpreenderá com novas lições empreendedoras a fim de “tornar o modo de se fazer negócios ao redor do globo sem complexidades”.
Rodolfo Barrueco é advogado, empresário, fomentador do Innovation Hub do IBMEC e comentarista de inovação e tecnologia, além de advisor sobre novos negócios e tecnologias entre Brasil e China.
Fonte HBR