Estamos no meio de uma pandemia global. Os riscos de infecção estão em alta, os mercados de ações estão despencando, a economia está à beira de uma recessão global e as empresas enfrentam incertezas generalizadas. É bem provável que você esteja se sentindo sobrecarregado, estressado e receoso.
Isso é normal. A parte do nosso cérebro relacionada à sobrevivência (mais especificamente, a amígdala cerebral) é acionada quando percebemos uma ameaça, levando nosso cérebro a se contrair. Esse é um mecanismo útil quando enfrentamos uma ameaça imediata, mas também pode levar nosso raciocínio a seguir padrões improdutivos. Ficamos mais propensos a entrar no pensamento de acreditar na pior hipótese ou, ao contrário, de negar a ameaça; passamos a ter menor acesso a áreas mais criativas ou analíticas do nosso cérebro; e sofremos prejuízo na nossa capacidade de sentir empatia, ouvir e nos relacionar com os outros.
Infelizmente, essas são justamente as habilidades necessárias aos líderes em momentos de crise. Precisamos do nosso cérebro funcionando em capacidade máxima, para conseguirmos avaliar as melhores opções, questionar nossas premissas, encontrar formas novas e mais criativas de fazer as coisas, e manter a calma necessária para tranquilizar funcionários, clientes e parceiros de negócio ao escutarmos suas preocupações.
A meditação pode ser de grande ajuda em momentos como este. A prática de meditação já se provou útil para reduzir a ansiedade, tranquilizar a amígdala cerebral, melhorar a capacidade de pensar de forma criativa e de se colocar no lugar do outro. Steve Jobs, um adepto da meditação, descrevia sua experiência da seguinte forma: “Você começa a enxergar tudo com mais clareza e se torna mais presente. Sua mente desacelera, e o momento presente se expande. Você enxerga muito mais do que conseguia enxergar antes.”
No meu trabalho com executivos, tenho observado três tipos de práticas úteis em momentos de crise.
Meditar logo pela manhã
Em tempos de incerteza, é grande a tentação de começar o dia já olhando os e-mails e as notícias. Porém, ao fazer isso, estamos entrando no modo reativo, de apagar um incêndio atrás do outro. Por outro lado, começar o dia com alguns minutos de meditação poderá ajudá-lo a se equilibrar e acalmar os pensamentos. Há várias formas de se fazer isso: Você pode utilizar um aplicativo, como o Insight Timer e sentar-se na cama acompanhando uma meditação guiada. Pessoalmente, prefiro me levantar e, após uma xícara de café, sentar-me em uma almofada ou cadeira, para uma prática de meditação para atenção plena.
Com o tempo, você vai notar que começa o dia mais aberto e atento às possibilidades que antes não percebia. É o que o mestre Zen Shunryu Suzuki, um dos pioneiros da meditação nos EUA, chama de “mente inicial” – quando os pensamentos se aquietam e a mente se abre para enxergar a realidade presente com menos julgamento e menos ideias pré-concebidas. O CEO da área de vendas Marc Benioff, adepto fervoroso da meditação, descreve esse efeito da seguinte forma: “A mente inicial me diz para recuar, para poder criar o que está por vir, não o que já passou. Sei que o futuro não é igual ao passado. Sei que preciso estar aqui no momento presente.”
Começar as reuniões com alguns minutos de meditação
Temos o viés de agir em momentos como este, o que, às vezes, pode ser um bom instinto. No entanto, reservar um instante antes de uma reunião (virtual ou presencial) para estar presente, perceber suas emoções, e começar o encontro com maior capacidade de ouvir e estar aberto a ideias pode ajudar as equipes na solução de problemas.
Para algumas equipes, pode ser uma nova experiência, mas algumas pessoas podem achar “frescura”. Portanto, comece dizendo à sua equipe que precisa que todos estejam presentes e com o foco na reunião. Depois, sugira fazer uma experiência: peça a todos que se concentrem na própria respiração por um minuto. Caso se distraiam, aconselhe-os a simplesmente trazer a atenção de volta à respiração. Muitos novatos costumam se surpreender com o quanto é fácil se distrair e difícil ficar atento ao momento presente por um minuto. A maior parte da equipe irá se sentir mais calma e presente depois dessa experiência. Ela perceberá que um minuto pode mudar a natureza de uma reunião. Como um executivo, que descreveu assim o efeito percebido: “Enquanto, na maioria das reuniões, todos ficavam conversando, dessa vez os integrantes da equipe pareciam mais presentes, ouvindo mais, escutando os outros com abertura para aprender”.
Recuar ao se perceber repetindo padrões de pensamentos improdutivos
Quando se sentir ansioso o dia todo, pare por um momento para respirar e observar seus próprios pensamentos. É bem provável que você tenha saído do momento presente e entrado em um labirinto de pensamentos sobre cenários futuros. Embora o planejamento de cenários seja fundamental, isso deve ser feito com presença e um estado de espírito de tranquilidade, examinando-se fatos concretos, e não criações da sua própria mente. Na prática, funciona mais ou menos assim: sente-se em uma cadeira, feche os olhos e concentre sua atenção no movimento da sua barriga, a cada inspiração e expiração. Depois de um tempo, vai perceber que seus pensamentos se acalmaram e vai se sentir mais presente e vivo, além de começar a perceber as novas possibilidades e oportunidades que se abrem.
Uma das principais vantagens da meditação é que nos permite sair do pensamento centrado na auto sobrevivência, para nos conectarmos com os outros de forma empática. Isso é importante porque, de acordo com pesquisas, o medo nos torna mais egocêntricos, dificultando a atitude de nos colocarmos no lugar dos outros. Entretanto, dentro e fora da sua empresa, há pessoas passando por dificuldades neste momento. Esta é uma oportunidade de demonstrar compaixão e cuidado com os outros; uma oportunidade de mostrar à sua equipe e empresa que tipo de líder você é.
Adepto da prática há mais de duas décadas, Matthias Birk já ensinou meditação e liderança a centenas de executivos na Columbia Business School, NYU, além de empresas como Goldman Sachs e McKinsey & Company.
Fonte HBR