Muitas empresas falam hoje de “tornarem-se globais”, mas tornar-se uma forte marca global não se trata apenas de expandir para mercados internacionais. Trata-se também de ser bem-sucedido nesses mercados e evitar as dificuldades transculturais.
Enquanto os líderes empresariais tendem a se concentrar em capturar o máximo de participação no mercado externo — adicionando novos idiomas, lançando mais escritórios, adotando novas moedas, e assim por diante — isso é apenas parte do quebra-cabeça. As empresas também precisam estar operacionalmente prontas para alcançar seu potencial internacional pleno. Isso significa que os líderes devem trabalhar simultaneamente para incutir um senso de pensamento global em suas culturas corporativas e nas maneiras como operam na rotina diária. Isso não é uma tarefa fácil, mas existem várias maneiras para começar a colocar sua organização no caminho do crescimento global.
Faça da globalização um mantra. Pesquisas mostram que para preencher a lacuna entre estratégia e execução é importante se concentrar no que os colaboradores pensam, e não apenas no que eles fazem. Por exemplo, um erro comum é pensar que você pode desenhar um produto para seu mercado local e introduzir esse mesmo produto nos mercados internacionais. O problema com esta mentalidade é que todo país possui nuances de leves diferenças, usos e necessidades. Em vez disso, você quer que as pessoas pensem de maneira que desenhem produtos, recursos, campanhas ou processos para vários mercados desde o início.
Codificar essa filosofia e torná-la parte de sua cultura faz com que as pessoas construam com maior facilidade uma mentalidade global no seu trabalho diário. Na tentativa para que os colaboradores “pensem de forma global”, talvez você queira padronizar a iniciativa internamente (usando termos como “disponibilidade global”, “amigável globalmente” ou “global primeiro”) para fazer com que os colaboradores adotem o hábito. Você também pode designar “campeões” globais ou “embaixadores” em várias equipes para ajudar os outros a projetar melhores processos globais.
Estimule mais experiência internacional. A única e melhor maneira para uma empresa acelerar o processo de tornar-se global é acumular mais experiência internacional. Ganhar esse tipo de experiência não é rápido nem fácil, mas existem formas de acelerar esse processo:
Contrate mais pessoas com experiência internacional. Pessoas que já trabalharam no exterior e em funções internacionais são raras, mas valiosas. Adicionar uma frase à sua descrição padrão de emprego, como “experiência internacional desejável”, pode melhorar o nível dos candidatos a essa vaga. Considere a ideia de treinar recrutadores para procurar por pessoas que frequentaram escola em outros países, falam outros idiomas ou que tenham vivido e trabalhado em outros países, especialmente pessoas que imigraram para outro país.
Estimule e capacite funcionários existentes com experiência internacional. Com muita frequência, as empresas não têm uma boa compreensão do poder de fogo internacional que já possuem em seus quadros. Pesquise sobre os colaboradores e peça que eles incluam todos os idiomas que falam ao seu perfil, juntamente com os países em que trabalharam, estudaram ou moraram antes. Esses colaboradores representam um importante ativo estratégico que pode passar desapercebido na maioria das empresas.
Estimule os colaboradores atuais a ganhar mais experiência internacional. Sempre que possível, envie seus colaboradores para outros países para aprenderem diretamente a cultura de outros colaboradores, parceiros e clientes. Se você tiver um escritório em outro país e, especialmente, se o trabalho remoto é algo que sua empresa já adota, suas únicas barreiras serão o fuso horário e o conhecimento sobre os requisitos internacionais para obtenção de visto. Invista em experiência de mobilidade internacional via um advogado especializado em imigração o mais rápido possível para facilitar esse processo. Mesmo curtas viagens a outros escritórios pode ser um enorme despertar para colaboradores que normalmente não se expõem a clientes internacionais.
Mude seu desenho organizacional. Considere colocar funcionários importantes em outros escritórios fora do país onde está sua matriz. Ao fazer isso, você irá quase que instantaneamente oferecer um enfoque mais global do que colocar a mesma função no seu escritório principal. Crie mais funções que sejam globais no escopo e cujo sucesso dependa do atingimento de metas que não estão apenas limitadas a uma região, mas que englobem varias. Isso forçará esses funcionários a olhar para fora do país de origem e a tomar decisões que beneficiem o negócio internacional.
Conecte os escritórios internacionais. Você quer que cada escritório tenha sua cultura e sabor próprios, mas para evitar a formação de silos, você precisará garantir que os funcionários realmente saibam o que a sua empresa representa e o que você acredita, para que todos estejam alinhados e movendo-se na mesma direção. Na HubSpot, criamos versões locais do nosso Código de Cultura, nossos princípios orientadores para o negócio. Para fazer isso foi necessário não apenas tradução, mas adaptação cultural para cada mercado. E para ajudar os funcionários de todos os países a se sentirem mais conectados uns aos outros, criamos um programa de amigos internacional simples, que chamamos de Programa Tomodachi (“amigo” em japonês). Todos os meses centenas de “colegas” com perfis semelhantes encontram-se para um bate-papo informal com alguém de outro escritório e normalmente de outro fuso horário, via videoconferência. O programa provou ser popular, o feedback do colaborador é consistentemente positivo, e até mesmo executivos participam e se alinham com funcionários estrangeiros.
Crie um grupo de orientação internacional. Outra maneira de chamar a atenção para a importância da globalização é criar um grupo de orientação internacional responsável por identificar os desafios para seus negócios internacionais e criar planos para resolvê-los. O grupo pode realizar reuniões regulares e pelo menos um representante de outra função deve participar, incluindo executivos de nível C e nível VP. A reunião pode ser usada para rever as principais métricas de desempenho internacional e aprofundar-se na razão pela qual alguma meta não foi atingida. Por exemplo, se o crescimento desacelera em um mês, em um mercado específico, existem fatores socioeconômicos locais que influenciaram? A taxa de câmbio mudou recentemente? O recrutamento de vendedores locais diminuiu? Outra coisa mudou recentemente na equipe local? O grupo de orientação recomenda quais os próximos passos que a empresa deve dar.
Cuidado com os sistemas e processos herdados. Um dos maiores obstáculos que as empresas enfrentam quando são internacionais, mas ainda não globais, é a tomada de decisões do passado. Muitas vezes, um processo, um software ou um fornecedor que foi escolhido anos antes do sucesso dos negócios internacionais pode impedir o progresso e impedir que uma empresa avance globalmente. Isso é especialmente verdadeiro para empresas que tiveram um crescimento internacional acima da média, já que implementar processos internos e infraestrutura globais pode levar tempo para acompanhar a expansão externa da empresa.
Podemos citar exemplos comuns como um aplicativo de software que foi testado e selecionado com apenas um idioma ou moeda em mente, mas não pode ser personalizado para oferecer suporte a mais idiomas. Ou um processo que necessitou a revisão por alguém apenas no país da matriz, sem obter informações dos mercados locais. Em última análise, os sistemas e processos que eram bons para uma empresa centrada nos EUA frequentemente se quebram sob o teste de pressão final de um negócio global e toda a complexidade que o acompanha.
Reconheça que a mudança organizacional deve ocorrer. O fator imperativo empresarial para crescer globalmente entra muitas vezes em conflito com a paciência e a disciplina necessárias para realizar o trabalho de globalização interno que apoiará a expansão internacional. Portanto, da próxima vez que você se frustrar por já ser uma empresa internacional de sucesso, mas o crescimento global ainda parece mais difícil do que deveria, lembre-se que sua empresa e colaboradores estão provavelmente no mesmo caminho para aprender o que significa ser de verdade uma empresa global. O trabalho organizacional necessário para tornar-se uma empresa global geralmente fica aquém da medida externa de expansão, mas a boa notícia é que o primeiro permite ainda mais resultados do segundo.
Nataly Kelly é VP da International Operations and Strategy a HubSpot. Seu último livro é o Found in Translation (Penguin).
Fonte HBR