Por que correr atrás do dinheiro não traz mais felicidade — e o que trará.
Adam (nome fictício de um personagem real) era bom funcionário. Foi-lhe designado um projeto fácil que, segundo ele, poderia lhe render uma promoção e ascensão na empresa. Assumí-lo parecia claramente trivial: trabalhar muito, cumprir a missão e ganhar mais. Ele sabia que teria de dedicar várias horas a mais por dia e alguns fins de semana, o que significaria sacrificar tempo livre com sua jovem família. Ele sabia que os prazos seriam estressantes, como também seriam a gestão das pessoas e as expectativas envolvidas. Mas ele sabia também que no final seria recompensado e poderia recuperar o tempo perdido.
Exceto que ele não recebeu recompensa alguma. Embora seu projeto tenha sido um sucesso, a promoção e a ascensão que ele esperava foram para um colega de outro projeto, que também merecia. Depois de ser elogiado pelo trabalho bem-feito, Adam continuou a trabalhar em seu projeto bem-sucedido, mas não se sentia feliz. À noite, parado no trânsito engarrafado, ele pensava no que tinha acontecido, calculava todas as horas que tinha investido, e para quê?
Era impossível evitar sentir que desperdiçara — não que perdera — um tempo precioso.
Embora Adam esteja certo, a pesquisa mostra que mesmo que ele tivesse conseguido a promoção e a ascensão que esperava, teria se sentido igualmente descontente. Não importa qual o resultado de nossos esforços, todos nós nos sentimos cada vez mais presos ao tempo, e muitas vezes o que acreditamos que pode nos fazer felizes — as conquistas que lutamos tanto para conseguir — não faz. Aparentemente não nos devolvem os momentos com nossas famílias e amigos ou mais horas para nós mesmos.
Muitas evidências mostram que a sensação de dispor de tempo suficiente — “abundância de tempo” — está atualmente num nível muito baixo nos Estados Unidos. Quando minha equipe e eu analisamos uma pesquisa da Gallup Organization com 2,5 milhões de americanos, descobrimos que 80% dos respondentes não tinham tempo para executar todas as suas tarefas diárias. Essa situação é tão grave que poderia até ser descrita como “fome” — um fracasso cultural coletivo em gerir eficientemente nosso bem mais precioso, o tempo.
A falta de tempo está presente em todos os estratos econômicos, e seus efeitos são profundos. A pesquisa mostra que pessoas que sofrem de carência de tempo sentem níveis mais baixos de felicidade e níveis mais altos de ansiedade, depressão e estresse. Elas são menos alegres, riem menos, fazem menos exercícios físicos e são menos saudáveis. Demonstram baixa produtividade no trabalho e maior probabilidade de se divorciar. E na análise que fizemos com os dados da Gallup, minha equipe e eu descobrimos até que o estresse gerado pela falta de tempo tinha um efeito negativo mais forte sobre a felicidade do que estar desempregado.
Em nível mais amplo, a falta de tempo implica um custo direto de bilhões de dólares na produtividade das empresas todos os anos, e os custos secundários multiplicam várias vezes esse número. Os órgãos de saúde pública a consideram um dos principais fatores do aumento da obesidade. Os pesquisadores calculam que os custos da assistência de saúde causados pelo estresse do tempo chegam a US$ 48 bilhões por ano.
A ironia é que, apesar da percepção de que as pessoas atualmente trabalham mais horas, os dados revelam que a maioria de nós tem hoje mais tempo livre que jamais teve. Como podemos sentir tanta fome de tempo?
A resposta parece ser o dinheiro. Da mesma forma que Adam, muitos caem na armadilha de gastar tempo para ganhar dinheiro, porque acreditamos que dinheiro traz felicidade no longo prazo.
Pensamos o contrário. Na verdade, a pesquisa mostra consistentemente que as pessoas mais felizes utilizam seu dinheiro para comprar tempo. Meus colegas e eu realizamos uma pesquisa de correlação longitudinal com aproximadamente 100 mil trabalhadores do mundo todo. Os resultados provaram que as pessoas dispostas a abrir mão de dinheiro em troca de tempo livre — por exemplo, trabalhando menos horas ou pagando a terceiros para executarem as tarefas de que não gostam — e vivenciam relacionamentos sociais satisfatórios e carreira promissora são alegres e, em geral, mais felizes.
Se você for tomar alguma resolução este ano, que seja focar em escolhas baseadas no tempo — não no dinheiro. Não é fácil, o mundo todo e até nosso cérebro conspiram para colocarmos o dinheiro em primeiro lugar. Mas podemos conseguir, e neste artigo compartilho algumas estratégias valiosas que você deveria começar a aplicar agora mesmo.
Por que valorizamos mais o dinheiro que o tempo
A explicação mais óbvia para a fome de tempo atualmente é que nós simplesmente passamos mais horas trabalhando e executando tarefas de rotina. Mas existem poucas evidências que confirmam essa ideia. Algumas das melhores pesquisas sobre registros de controle do tempo indicam que, nos Estados Unidos, o tempo livre dos homens aumentou de seis a nove horas por semana nos últimos 50 anos, e o tempo livre das mulheres aumentou de quatro a oito horas por semana.
E, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 1950 os trabalhadores americanos trabalhavam, em média, 37,8 horas por semana e, em 2017, 34,2 horas por semana em média. Mas, contrariamente, as evidências indicam outros culpados pela carência de tempo: riqueza e insegurança financeira. Estudos com pessoas de renda média e alta, em contextos culturais diferentes na Europa, Ásia e América do Norte, mostram que as pessoas com renda mais alta relatam sentir-se pressionadas pelo tempo. Em pesquisa realizada na Austrália com mais de 30 mil participantes, níveis altos de estresse de tempo, por exemplo, estavam relacionados com renda mais alta, e mais horas de trabalho relacionadas com salários altos não explicavam esse efeito. Considerando que gente rica tem condições de, por exemplo, contratar serviços de limpeza e tomar táxi em vez de usar transporte público, sua maior carência de tempo pode parecer contraditória.
Isso faz sentido se você entender a teoria da comodidade, segundo a qual todo recurso considerado valioso é considerado também escasso. Por isso, quanto mais somos remunerados pelo nosso tempo, mais precioso ele é, e com mais força sentimos a perda de todo e qualquer minuto.
Sentimentos de insegurança financeira (independentemente da riqueza real) podem predispor as pessoas a sentir a carência de tempo com mais intensidade. Isso porque as que se sentem inseguras sobre se continuarão no emprego ou de que ganharão o mesmo salário no futuro mostram tendência acentuada de preferir ter mais dinheiro a ter mais tempo.
Apesar da relação inversa entre riqueza e abundância de tempo, muitos continuam lutando para ganhar mais dinheiro. Na pesquisa conduzida por minha equipe, somente 48% dos respondentes relataram preferir tempo a dinheiro. Nesse grupo a maioria das pessoas carentes de tempo — pais que tinham filhos pequenos e trabalhavam em tempo integral — compartilhou essa preferência. Também os muito ricos nem sempre priorizavam tempo em relação a dinheiro.
Quase metade dos 818 milionários que pesquisamos relatou que não gastavam nada ao delegar a outros as tarefas de que não gostavam. Além disso, quando perguntamos a 98 trabalhadores como eles gastariam um bônus inesperado de US$ 40 para maximizar a felicidade, somente dois disseram que gastariam o dinheiro numa compra para economizar tempo. Quando perguntamos a 300 adultos envolvidos em relacionamentos românticos como gastariam os US$ 40 para maximizar o bem-estar do parceiro, somente três disseram que os utilizariam para economizar o tempo deste.
Não é que as pessoas não pensem em formas de economizar tempo: em um estudo, 99% dos respondentes conseguiram listar tarefas enfadonhas pelas quais eles preferiam pagar para não ter de fazer. Mas, em vários outros estudos, somente
17% dos respondentes gastaram dinheiro para delegar tarefas. E também não é que as pessoas não pensem em nada melhor para fazer: a maioria dos participantes conseguiu listar várias atividades, como ter tempo para se dedicar a um hobby; porém somente alguns compraram tempo para praticá-lo.
O principal desafio para reduzir a falta de tempo e a infelicidade não é financeiro, mas psicológico: a crença equivocada de que a riqueza tornará nossa vida melhor. Até pessoas com patrimônio de US$ 10 milhões acreditam que precisam aumentá-lo significativamente para ser mais felizes.
A pesquisa mostra, por exemplo, que com frequência os funcionários supervalorizam as recompensas em dinheiro e os salários quando pensam em aceitar um emprego. Eles acreditam que salário, seguro e outros benefícios financeiros como planos de aposentadoria determinam a satisfação no emprego. E depreciam o valor da flexibilidade em relação aos horários de trabalho.
Quando minha equipe e eu analisamos 42.721 respostas de funcionários de uma pesquisa da Glassdoor, descobrimos que benefícios não monetários, como experiências sociais e a oportunidade de tirar folgas, tinham impacto maior na satisfação com o emprego do que o dinheiro. Em outro estudo, mantendo-se idênticas todas as demais condições, os benefícios como uma generosa licença maternidade/paternidade, flexibilidade de tempo e licença médica tinham efeito maior na satisfação com o emprego do que receber um adicional de US$ 60 mil anuais (sobre um salário médio anual de US$ 48 mil). Esses resultados continuaram válidos mesmo depois que se classificaram os dados por renda, idade, gênero, escolaridade, setor da empresa, tipo de empregador, tamanho e faturamento da empresa.
Ainda segundo a pesquisa, quando as pessoas ganham o suficiente para atender às suas necessidades básicas, mais dinheiro não garante mais felicidade. No entanto, repetidamente nossas escolhas não refletem essa realidade.
Por que deveríamos valorizar mais o tempo que o dinheiro
É importante observar que algumas pessoas — principalmente as que se esforçam para pagar suas contas ou que se sentem inseguras sobre seu futuro financeiro — de fato se sentem mais felizes quando privilegiam o dinheiro em vez do tempo. Mas está claro que os mais afortunados talvez precisem repensar suas prioridades.
Para entender quais pessoas são felizes e como elas administram as trocas entre tempo e dinheiro, minha equipe e eu apresentamos a milhares de participantes duas descrições de pessoas:
Tina valoriza mais o tempo que o dinheiro. Ela está disposta a sacrificar o dinheiro para ter mais tempo. Por exemplo, prefere trabalhar menos tempo e ganhar menos dinheiro a trabalhar mais tempo e ganhar mais dinheiro.
Maggie valoriza mais o dinheiro que o tempo. Ela está disposta a sacrificar o tempo para ter mais dinheiro. Por exemplo, prefere trabalhar mais horas e ganhar mais dinheiro a trabalhar menos horas e ter
mais tempo.
Depois, perguntamos aos nossos respondentes com que tipo de perfil eles mais se identificavam. Pelas respostas poderíamos prever que decisão eles tomariam quando lhes fosse dada a opção de escolher um voo mais barato com uma escala mais longa ou um voo direto mais caro, e um vale para limpeza doméstica ou um prêmio em dinheiro.
Também verificamos que as pessoas que valorizavam mais o tempo (as Tinas) eram de uma faixa etária mais alta, trabalhavam menos horas, estavam mais dispostas a realizar trabalho voluntário e eram mais engajadas civicamente. Mas o mais importante é que elas eram mais felizes em cerca de 0,5 ponto numa escala de felicidade de dez pontos. Essa diferença equivale a cerca de metade do aumento de felicidade que as pessoas vivenciam, em média, por serem casadas.
Com base nesse e em vários outros estudos, podemos afirmar também que:
Tempo traz felicidade. Os relatos de Tina de mais bem-estar geral não podem ser explicados por renda, escolaridade, idade, estado civil, número de filhos que vivem com os pais, ou número de horas trabalhadas por semana. A tendência geral de priorizar o tempo fez a diferença.
Quando meus colegas e eu pesquisamos mais de seis mil trabalhadores que viviam na Holanda, na Dinamarca, nos Estados Unidos e no Canadá, descobrimos que as pessoas que gastavam mais dinheiro em serviços para economizar tempo relataram mais satisfação com a própria vida. Comprar tempo as ajudava a lidar com o estresse e a se sentir menos sobrecarregadas com suas listas de coisas a fazer. Isso acontecia mesmo com compras relativamente pequenas feitas uma única vez.
Tempo é socialização. Em três estudos que realizei com a professora Elizabeth Dunn, da University of British Columbia, verifiquei que as pessoas que valorizavam mais o tempo que o dinheiro se relacionavam melhor com os colegas. Um desses estudos revelou que elas passavam 18% mais tempo interagindo com um novo colega que as que priorizavam o dinheiro. Isso é importante porque mesmo interações sociais passageiras podem ter um efeito surpreendentemente grande em reduzir o estresse e promover a felicidade, como mostraram outros pesquisadores.
Outro estudo com aproximadamente 40 mil americanos mostrou que quando eles faziam compras aos sábados ou domingos para economizar tempo (versus os que não faziam), passavam cerca de mais 30 minutos socializando-se com amigos e família. Isso, por sua vez, resultava em maior felicidade no fim do dia. As pessoas que faziam compras ficavam mais felizes não só porque tinham se socializado, mas porque se sentiam mais alegres ao fazê-lo.
Em nove estudos com 4.300 americanos envolvidos em relacionamentos afetivos, meus colegas e eu observamos que priorizar o tempo ao dinheiro aproximava os casais. Aqueles que gastavam dinheiro em serviços para economizar tempo relataram passar mais tempo com qualidade juntos e se sentiam mais satisfeitos com seus relacionamentos. Quando os casais estavam estressados, os benefícios eram mais fortes para compras de economia de tempo (como pedir comida em casa) que para compras de experiência (como sair para jantar, o que envolve mais planejamento, tomada de decisão e deslocamento). Compras que economizavam tempo até apagavam parte da infelicidade produzida por ter uma esposa desinteressada. Em outras palavras, pagar a uma diarista pode ser tão importante para o seu casamento quanto aprender a ser um melhor ouvinte.
Focar no tempo gera carreiras mais recompensadoras. Quem valoriza o tempo tem maior probabilidade de seguir a carreira que ama. Em outro estudo, Elizabeth Dunn e eu descobrimos que entre os alunos do último ano da universidade que priorizavam o tempo havia maior probabilidade de escolherem uma carreira que oferecia recompensas intrínsecas, e como resultado esses estudantes eram significativamente mais felizes um ano depois. E isso não significava que eles trabalhavam menos horas. Quando as pessoas trabalham no que realmente gostam e, portanto, são mais felizes, elas são menos afetadas negativamente pelo estresse e são mais produtivas e criativas. E a probabilidade de elas saírem do emprego é também menor.
Por que é tão difícil
Se a solução para a falta de tempo fosse simples — só fazer escolhas que nos proporcionassem mais tempo —, por que ainda estaríamos estressados?
Sou pesquisador da felicidade. Eu deveria saber que não vou sacrificar todas as minhas horas de folga para trabalhar e ganhar dinheiro. No entanto, sinto-me como se eu precisasse estar constantemente de plantão para continuar a atender às exigências do trabalho. Para lidar com isso, eu envio emails ou converso por telefone enquanto me desloco de casa para o escritório, enquanto pratico exercícios físicos, enquanto estou na praia e até quando estou num safari.
De vez em quando sou flagrado digitando no meu laptop no vestiário da academia. E confesso que passei uma hora e meia trabalhando (não tão secretamente) na minha festa de casamento.
O que aprendi durante anos estudando trocas entre tempo e dinheiro é que não sou só eu que tomo decisões não tão boas sobre como utilizar meu tempo. Não é fácil fazer as escolhas certas.
É bem possível que esta não seja nossa inclinação natural.
Existem inúmeras razões para nossa busca equivocada pela riqueza, mas elas se encaixam em duas categorias:
Fatores comportamentais. Vários vieses cognitivos tornam o dinheiro uma escolha mais atraente que o tempo. Os americanos acreditam, por exemplo, que estar ocupado é sinal de status superior. O desejo de sentir-se importante é um motivador poderoso que pode prejudicar nossos melhores interesses.
Minha pesquisa indica que as pessoas se sentem mais culpadas por gastar dinheiro para ter mais tempo livre do que por gastar dinheiro em bens materiais. Pagar a alguém para executar tarefas desagradáveis pode nos fazer sentir preguiçosos, por isso optamos por evitar esse sentimento. E como superestimamos a quantidade de tempo necessário para aproveitar uma experiência, acabamos desperdiçando pequenos momentos de tempo livre que poderíamos utilizar mais eficientemente. Cinco minutos gastos socializando-se com um colega ou 20 minutos numa máquina elíptica costumam ser mais benéficos para nosso humor do que imaginávamos.
Finalmente, sofremos de um mal chamado tempo livre futuro — a crença de que no futuro teremos mais tempo do que no presente, por isso decidimos fazer alguns sacrifícios agora contando com a possibilidade de ter mais tempo depois. É claro que quando chega o futuro não temos mais tempo. E simplesmente repetimos o mesmo erro.
Fatores organizacionais. Os departamentos de RH podem pensar que a forma como os funcionários escolhem entre tempo e dinheiro não está relacionada com o RH, mas inúmeras pesquisas mostram que os fatores organizacionais moldam a forma como os funcionários percebem seu tempo e podem aumentar sua sensação de estresse e prejudicar as relações sociais e a felicidade.
Em décadas de pesquisas descobrimos, por exemplo, que incentivos financeiros ajudam os funcionários a melhorar o desempenho. Mas agora sabemos que esses incentivos os tornam obcecados por dinheiro. Em seis estudos, a professora Julia Hur, da New York University, descobriu que funcionários remunerados por desempenho relataram maior ganância por dinheiro e se esforçaram muito mais para obter recompensas adicionais. Eles se tornaram mais autofocados e menos propensos a fazer doações a obras assistenciais — um sinal de que estavam se afastando de atividades que claramente levam à felicidade.
Estendendo essa pesquisa, Julia, minha aluna Alice, Lee-Yoon e eu analisamos um conjunto de dados de domínio público para entender como os incentivos de desempenho mudavam as atitudes fora do trabalho. Descobrimos que funcionários remunerados por desempenho passavam significativamente menos tempo socializando-se com amigos e família e significativamente mais tempo socializando-se com clientes e colegas de trabalho. Isso foi constatado independentemente de quantas horas eles trabalhavam ou do tipo de empresa.
Esses resultados foram confirmados por outros estudos que realizamos. Eles revelaram que funcionários remunerados por desempenho mostravam maior probabilidade de dedicar mais tempo em conexões profissionais, em vez de amistosas e familiares, porque sentiam que os relacionamentos profissionais eram mais “produtivos” e “úteis” para a carreira. Mas os funcionários não aproveitavam mais o tempo nessas conexões profissionais. Independentemente da faixa salarial ou do tipo de trabalho, os funcionários remunerados por desempenho afirmaram que se sentiam mais felizes ao passar tempo com amigos, mas que não costumavam fazer isso com muita frequência.
As políticas que fazem os empregados pensar no valor monetário do tempo geram estresse de tempo. Funcionários remunerados por hora mostram probabilidade maior de pensar no tempo em termos de dinheiro e se preocupam mais com o desperdício de tempo, com a economia de tempo e em aproveitar seu tempo lucrativamente. Em um experimento, Dana Carney, professora da Berkeley University, e Jeff Pfeffer, professor da Stanford University, descobriram que simplesmente pedir aos funcionários que calculassem o próprio salário com base no número de horas trabalhadas aumentava significativamente seus níveis de cortisol — hormônio associado ao estresse. Em outras pesquisas sobre o assunto, Sanford DeVoe, professor da Anderson School of Management, da University of California, Los Angeles, e seu ex-aluno Julian House observaram que pedir aos funcionários que calculassem o valor econômico de seu tempo os tornava impacientes — e prejudicava tanto sua capacidade de aproveitar o tempo livre como seu desejo de voluntariamente ajudar os outros. Em outro estudo, Elizabeth Dunn e eu descobrimos que pedir às pessoas que calculem esse valor as torna menos dispostas a desviar dois passos de seu caminho para ajudar o ambiente com reciclagem.
Tempo, dinheiro, privilégio e culpa;
A troca entre dinheiro e tempo não é privilégio dos ricos? Certamente não. É claro que as pessoas preocupadas em pagar suas contas ou em dificuldades financeiras não enfrentam essas trocas com frequência. No entanto, em países desenvolvidos uma boa parte da população tem excelente renda extra para gastar. O mais importante que minha equipe e eu descobrimos em nossos estudos é que gastar pouco, cerca de US$ 40, para economizar tempo pode aumentar a felicidade (mais que gastar os mesmos US$ 40 comprando objetos materiais aleatoriamente para nós mesmos). Pense que em 2017 os americanos gastaram, em média, US$ 1.110 cada um, ou cerca de US$ 3 por dia, tomando café. Por isso, se cada um sacrificasse seu café durante duas semanas, poderia ter condições de pagar para ter sua casa limpa.
Mesmo assim, muitas pessoas sentem-se culpadas em fazer isso, pois para elas contratar esse tipo de serviço é ser privilegiado. Também nos sentimos mal em pedir ajuda aos outros — mesmo quando pagamos por isso. Meus dados indicam que quando terceirizamos tarefas que não gostamos de fazer, nós nos sentimos como se estivéssemos sobrecarregando os prestadores que contratamos, mesmo que este seja o trabalho deles. Também não queremos
que outros saibam quanto pagamos por serviços diários — como limpar e cozinhar — porque isso pode indicar que não estamos administrando bem nossas tarefas domésticas. No entanto, segundo minhas pesquisas, quando descobrimos formas simples de ter mais tempo, nossa felicidade e produtividade são beneficiadas.
E se você ainda se sente culpado por comprar tempo dessa forma, tente pedir tempo de presente. Se você precisa presentear alguém, preste atenção: presentes que economizam tempo denotam mais consideração e são mais apreciados que os presentes que economizam dinheiro. Um alerta: se presentes que economizam tempo destacam o fato de que seu parceiro está sempre fazendo mais tarefas domésticas que você, eles podem não dar certo.
Eles são mais apreciados no contexto profissional e em atividades que a pessoa presenteada não aprecia. Se, por exemplo, ela gosta de lavar roupa, seu entusiasmo por um serviço de lavagem a seco que economize tempo será menor do que o de uma pessoa que não gosta de lavar roupa.
Em nossos estudos observamos ainda que, quando faziam compras, as pessoas que ganhavam menos se sentiam
mais felizes comprando coisas que economizavam tempo. Acreditamos que o motivo disso é que, diferentemente daqueles que estão bem de vida, quem luta para pagar suas contas pode perder mais tempo no trajeto de casa para o trabalho e vice-versa, ter mais de um emprego e enfrentar longas filas. Ao contrário do senso comum, compras
que economizam tempo podem ser particularmente benéficas para quem vive no limite da pobreza ou abaixo.
Se ainda não consegui convencê-lo de que comprar tempo não é só para os ricos, aqui estão mais algumas evidências: em colaboração com Colin West, da Anderson School of Management, da UCLA, conduzi um estudo de larga escala numa das maiores e mais pobres favelas do mundo, Kibera, em Nairóbi, no Quênia, onde as mulheres trabalhavam 40 horas por semana em tarefas exaustivas e em outras atividades não remuneradas.
Lavar a roupa a mão e ter de ficar de olho enquanto secam (para não serem roubadas) chega a consumir dez horas por semana. No entanto, mesmo nessa favela, onde elas ganham, em média, US$ 5 por dia, existe um mercado para os serviços que economizam tempo. Muitas mulheres pagam a outras para que lhes lavem a roupa (ou então usam uma lavanderia automática local). E para que lhes comprem verduras, o que lhes permite economizar o tempo que gastariam no trajeto de ida e volta até o mercado. Nesse estudo estamos analisando se as mulheres de Kibera são mais felizes e mais produtivas depois de receberem vales para serviços que economizam tempo (comprar alimentos e lavar roupa) ou depois de receber vales para comprar produtos que não economizam tempo (ingredientes para as refeições). Acreditamos que os vales que resultam em economia de tempo serão mais eficazes. Essa ideia confirma a hipótese de que a escassez de tempo está associada à pobreza material.
No entanto, os serviços que economizam tempo para os pobres costumam ser menosprezados pelos responsáveis por decisões políticas. Quando Collin e eu perguntamos a um grupo de 40 alunos do programa sobre políticas públicas da Harvard Kennedy School se uma iniciativa para ajudar monetariamente as mulheres a economizar tempo no trabalho teria mais chances de melhorar seu bem-estar, somente 10% dos aspirantes a tomadores de decisões políticas afirmaram que a iniciativa de economia de tempo seria efetiva.
Também se discute se os mercados da gig-economy tratam os trabalhadores suficientemente bem para estimular os consumidores a adquirir esses serviços. Embora minha pesquisa não trate de questões éticas, ela mostrou evidências
de que os consumidores são sensíveis ao bom nível salarial recebido por seus prestadores de serviços. Quando os consumidores percebem que os fornecedores gostam do que fazem e recebem bons benefícios, eles se sentem muito menos culpados em contratá-los e tendem visivelmente a comprar tempo. Num experimento, houve mais consumidores que clicaram em anúncios de compra de serviço para economizar tempo quando o anúncio destacava os benefícios que o serviço oferecia aos fornecedores do que quando o anúncio destacava os benefícios aos consumidores. Isso prova que as empresas que oferecem boas condições de trabalho e salários competitivos aos provedores de serviços conquistarão mais clientes.
Como começar
Embora seu cérebro e sua organização possam estar conspirando para fazê-lo priorizar o dinheiro ao tempo, algumas ações diárias podem ajudá-lo a mudar essa conduta. As seguintes estratégias simples podem reduzir sua carência de tempo e ajudá-lo a reaver seus horários.
1. Atividades pessoais
Planeje seu tempo futuro. Quando se trata de momentos de folga, nossos dados preliminares indicam a tendência natural das pessoas para a espontaneidade: não queremos sentir que nosso tempo livre é muito programado. Por isso preferimos deixar os fins de semana ao acaso — e depois acabar desperdiçando boa parte dele. Mas, na verdade, seremos mais felizes se fizermos planos e não desperdiçarmos passivamente o tempo.
Seja mais ativo. Atividades pessoais como trabalho voluntário, socialização e prática de esportes podem ter um efeito transformador. Nossa pesquisa mostra que o tempo livre ativo é muito melhor para combater o estresse que o tempo livre passivo, como ver televisão ou apenas relaxar. Quando meus colegas — professor Paul Smeets, da Universidade de Maastricht, professor Rene Bekkers, da Vrije Universiteit, em Amsterdã, e professor Michael Norton, da Harvard Business School — e eu realizamos um estudo na Holanda comparando milionários com pessoas com renda líquida de US$ 37.500 anuais, descobrimos que os milionários eram mais felizes — mas não porque tinham mais dinheiro. Eles passavam 30 minutos a mais por dia engajados em atividades de tempo livre ativo e 40 minutos a menos envolvidos em atividades de tempo livre passivo.
Passe mais tempo comendo. Quando Romain Cadario, professor da Faculdade de Administração do Instituto de Economia Científica e de Gestão de Paris, e eu pesquisamos recentemente 12 mil profissionais franceses e americanos sobre seus hábitos no jantar, descobrimos que, em média, os franceses passavam significativamente mais tempo comendo. Os americanos passavam mais tempo escolhendo os pratos do que os degustando. Como os franceses saboreavam mais a comida, eles sentiam mais prazer na refeição — o que por sua vez reduzia o estresse.
Conheça pessoas novas e ajude os outros. Embora seja difícil iniciar uma conversa com alguém que você não conhece, as interações sociais casuais com estranhos estimulam significativamente a felicidade. E o trabalho voluntário não está associado somente à felicidade, como também à sensação de abundância de tempo. Isso parece contraditório, porque trabalho voluntário consome tempo, mas o ato de doar tempo sempre dá a sensação de que é possível controlá-lo melhor.
Passe mais tempo maravilhando-se. Deslumbrar-se é uma emoção positiva que sentimos quando deparamos com alguma coisa vasta e expansiva, como uma vista panorâmica do oceano Pacífico. Ela pode aumentar nosso senso de abundância de tempo — que é mais uma razão por que caminhadas em locais bonitos, férias tropicais ou alguns momentos contemplando o céu podem nos rejuvenescer.
Tire mais períodos de férias. Isso parece óbvio, mas principalmente nos Estados Unidos as férias são subutilizadas. É provável que isso tenha a ver com a ideia de que, para os americanos, faltar ao trabalho ou permitir-se férias é sinal de status inferior. Gente importante está sempre ocupada demais para tirar férias. Mas uma pesquisa inicial que minha aluna Hanne Collins e eu realizamos mostrou que os funcionários que tiram mais dias de férias relatam mais satisfação com a vida. Esses resultados se mantiveram até mesmo depois de análises separadas por idade, gênero, estado civil e horas de trabalho. No entanto, 15% dos respondentes relataram não ter tirado férias no ano anterior, e apenas 40% relataram ter tirado todas as férias vencidas.
2. Compre tempo
Quando se trata de como utilizar o dinheiro para aumentar a felicidade, a maioria pensa em investi-lo em experiências positivas, como férias no Havaí. Mas também é importante pensar em como eliminar experiências negativas no dia a dia. Segundo minha pesquisa, as pessoas têm muita dificuldade em fazer isso, mas aqui estão algumas dicas para você começar.
Terceirize as tarefas desagradáveis. Numa economia colaborativa, empresas como Angie’s List, Rent the Runway Unlimited e TaskRabbit permitem, a preço acessível, que os consumidores “comprem” tempo contratando tarefas que preferem não executar. Atualmente você pode contratar uma pessoa que passeie com seu cachorro, monte seus móveis, escolha seu vestuário, leve seus filhos para praticar esportes, reorganize sua casa e até fique na fila para comprar ingressos para você. No entanto, para muitos usar esses serviços é um grande salto, pois eles são vistos como extravagantes ou excessivamente caros. É a mentalidade “dinheiro em primeiro lugar” que os faz pensar assim. Na verdade, gastar dinheiro em serviços que economizam tempo — como fazer compras, limpar e lavar e secar roupa — pode reduzir o estresse e aumentar a felicidade, mesmo para pessoas com renda mais baixa (ver quadro “Tempo, dinheiro, privilégio e culpa”). Um alerta: a pesquisa em andamento sugere que terceirizar demais pode fazer as pessoas sentir que sua programação está fora de controle, o que prejudica o contentamento.
Mas saiba exatamente do que você quer se livrar. Muitas vezes, não gostamos de certos aspectos de uma tarefa que agrada a outros. Numa nova pesquisa realizada com o aplicativo Joy, para smartphone, Elizabeth Dunn e eu descobrimos que os consumidores ficavam mais contentes com serviços que oferecem preparação de alimentos (como Blue Apron e HelloFresh) do que com serviços que entregam refeições em domicílio. Especulamos que isso ocorre porque a maioria das pessoas gosta de cozinhar. Mas para elas é cansativo pensar no que preparar e ir ao supermercado comprar ingredientes em quantidades exatas. Isso nos remete a uma questão genérica: terceirizar tarefas indesejáveis. Dessa forma, você pode passar mais tempo envolvido na parte de que mais gosta de qualquer atividade diária.
Faça menos compras comparativas. O tempo gasto para encontrar os melhores preços geralmente é mais valioso que qualquer economia que você possa fazer. Andar mais para comprar gasolina mais barata ou ir de loja em loja até encontrar a mesma roupa com o menor preço talvez não valha o esforço. E reservar a opção de viagem mais barata nem sempre vale a pena. Os voos com escalas são muito mais longos, principalmente se você perder uma conexão ou o voo atrasar, o que geralmente resulta em pouca economia. Reveja seu modo de pensar para que o preço não seja o único aspecto a ser levado em conta. Não há problema nenhum em gastar mais para liberar tempo.
Compre mais tempo de qualidade. Já que você terceirizou suas tarefas, dedique seu novo tempo livre ao que provavelmente contribui para sua felicidade, como atividades com amigos e família. Não gaste seu tempo no sofá. E cada vez que abrir a carteira, pergunte-se: esta compra mudará positivamente a forma como utilizo meu tempo? Se a resposta for não, talvez seja melhor repensar sua compra.
3 Atividades de trabalho
Embora o trabalho possa parecer uma arena onde é difícil ganhar tempo, existe um número surpreendente de formas de mudar sua vida profissional diária.
Recompre o tempo gasto no trajeto de casa para o trabalho e vice-versa. Pense na possibilidade de usar transporte público ou chamar um Uber uma vez por semana. Em vez de ficar parado no trânsito você pode passar seu tempo livre lendo, por exemplo. Ou, se você usá-lo para trabalhar, pode sair do escritório mais cedo e ter mais tempo com amigos e família. Até mesmo uma hora por semana representa um saldo significativamente positivo num ano.
Peça mais tempo. Uma grande fonte de carência de tempo são os prazos apertados. Uma solução simples, mas poderosa, é pedir adiamento de prazos. Em dez estudos com milhares de funcionários e gestores, Jaewon Yoon, aluno de doutorado da Harvard Business School, Grant Donnelly, professor da Ohio Fisher College, e eu descobrimos que os funcionários com estresse de tempo evitam solicitar adiamento, mesmo quando os prazos são flexíveis. Alguns funcionários, particularmente mulheres, acham que pedir mais tempo pode sinalizar menos competência e menos motivação — ainda que nossos dados sugiram que nem sempre se trata disso e que os funcionários superestimam qualquer possível reação negativa por parte de seus chefes.
Quando os funcionários se sentem asfixiados, mas se recusam a pedir um pouco mais de ar, acabam entregando um trabalho de pior qualidade, sentem-se insatisfeitos e desapontam seus gestores (exatamente o que estavam tentando evitar). Esses resultados indicam que, se precisar, você deve pedir mais tempo se seus prazos forem ajustáveis. Seu chefe provavelmente lhe concederá o tempo necessário de boa vontade, mas o mais importante é que o tempo extra lhe dará a oportunidade de executar melhor seu trabalho. E se você é o chefe, ajude seus subordinados a pedir o tempo de que precisam para fazer o melhor trabalho possível sem se preocuparem com julgamentos rigorosos.
Aprenda a dizer não, mas não use o tempo como desculpa. Pode ser tentador começar a utilizar as solicitações no trabalho (e na vida) como uma estratégia para combater a pressão do tempo. Pode até ser muito tentador recusar justificando que você está muito ocupado. Mas desculpas relacionadas ao tempo têm um alto custo social. Grant Donnelly, Anne Wilson, aluna de doutorado da HBS, e o professor Michael Norton, também da HBS, e eu descobrimos numa nova pesquisa que as pessoas que usam desculpas são consideradas menos agradáveis e menos dignas de confiança. Isso porque acreditam que o tempo pode ser pessoalmente controlável. (Todos nós temos 24 horas num dia, certo?) Se você realmente não tem tempo, deixe claro que o motivo é algo fora do seu controle, como obrigações familiares ou uma viagem inesperada.
Como os empregadores podem ajudar
Os departamentos de RH têm muitas oportunidades de melhorar o recrutamento e a retenção de talentos ajudando os funcionários a administrar sabiamente o tempo e mostrando “que suas contratações” promovem abundância de tempo para os trabalhadores.
Recompense seus funcionários com tempo, não com dinheiro. Minha pesquisa, bem como outros estudos, indica que essa abordagem é vantajosa para os funcionários porque as pessoas que tiram folga são mais engajadas, criativas e produtivas. Embora nem sempre tirem folga todos os dias, elas têm permissão para isso, e quando têm a opção de escolher entre economizar tempo e receber recompensas materiais, a maioria prefere a última opção.
Recentemente obtive dados de 207 empresas — o que representa mais de 200 mil funcionários nos EUA — com programas de remuneração por desempenho. Entre elas, 37% permitiam que seus funcionários trocassem pontos de recompensas por serviços para economizar tempo, como limpeza doméstica. Somente 3,2% dos funcionários trocaram, enquanto 67% trocaram pontos por itens materiais, como livros da Amazon. (Além disso, 16,5% trocaram seus pontos por experiências e 13,3% doaram os pontos para entidades beneficentes.)
Limitar as escolhas dos funcionários pode ser útil. Pesquisadores da Stanford University realizaram um estudo piloto no qual foram oferecidos a médicos vales somente para serviços de economia de tempo. Os que os receberam relataram maior equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal e menos intenção de desistir em comparação aos demais médicos. Por isso, se as organizações quiserem aproveitar melhor as recompensas de economia de tempo, elas provavelmente devem evitar torná-las opcionais.
Atribua valor monetário às recompensas baseadas em tempo. Outra estratégia é persuadir com o lema “dinheiro em primeiro lugar” e fazer as economias de tempo parecer financeiras. Como disse um diretor de RH do Vale do Silício, “motive as pessoas a se candidatar a empregos que oferecem salários inferiores e mais períodos de férias mostrando o pacote completo de vantagens, não apenas o salário; destaque o valor de benefícios como plano de saúde, assistência aos filhos, subsídios para transporte público, férias, licença médica. Dessa forma elas saberão exatamente pelo que estão sendo pagas”.
Para verificar se oferecer um valor em dinheiro por recompensas não monetárias aumenta o interesse dos funcionários, meus colegas e eu realizamos oito estudos com mais de três mil americanos. Não foi surpresa descobrir que quando foi proposto a possíveis futuros funcionários empregos praticamente idênticos — um que pagava US$ 100 mil por ano, com duas semanas de férias, e US$ 90 mil anuais com três semanas de férias —, 75% escolheram o emprego que pagava mais. No entanto, quando a mesma proposta foi apresentada, mas com atribuição de valor monetário às férias, o número de funcionários que escolheu salários mais altos caiu para 50%.
Em outro estudo, os candidatos podiam escolher entre duas ofertas de emprego — cada uma pagava US$ 100 mil anuais. O emprego A incluía quatro benefícios, e o emprego B somente três. Não foi surpresa descobrir que mais de 80% dos respondentes na condição de controle escolheram o emprego A. No entanto, quando foi apresentado o valor monetário dos benefícios do emprego B, mas não o de A, 50% dos respondentes escolheram o emprego B — com menos benefícios e mesmo salário. (Observação: para empregos com salário inicial mais baixo, não havia vantagem em destacar o valor monetário dos benefícios de tempo, um resultado consistente com outras pesquisas.)
Comercializar o tempo como dinheiro pode ser uma estratégia crucial para o recrutamento de talentos, uma vez que em todos os estudos os benefícios monetizados mudaram positivamente a percepção sobre as organizações: os candidatos a emprego relataram acreditar que esses empregadores realmente se preocupavam com os funcionários e valorizavam o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal. E as empresas poderiam se beneficiar de mais uma vantagem: aumento da diversidade. Muitas vezes, as mulheres veem altos cargos profissionais como igualmente atingíveis, mas menos desejáveis. Essa intervenção simples e sem custo poderia colocar mais mulheres no conjunto de candidatas e fazer a empresa parecer amigável à família.
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Já se passaram quase 20 anos desde que a professora Leslie Perlow, da HBS, popularizou o termo “fome de tempo” (time famine, no original). Desde então, aprendemos muito sobre a psicologia da carência de tempo. Agora, cabe a cada um de nós pôr em prática essa lições. Como escreveram Michael Porter, professor da HBS, e Nitin Nohria, seu atual reitor, em artigo recente da HBR, “o tempo é o recurso mais escasso de que os líderes dispõem. Onde eles o alocam é importante — e muito”. Eu argumentaria que um determinante crítico da alocação ideal de nosso tempo é o valor que a ele atribuímos em relação ao dinheiro.
É difícil contabilizar o tempo — ele é facilmente consumido, desperdiçado e perdido. Poucos planejam cuidadosamente como gastarão seu próximo, inesperado e pequeno ganho de tempo. Preocupamo-nos com o gasto de uma xícara de café todos os dias, e quanto isso representa no total, mas deveríamos nos preocupar apenas com os minutos que desperdiçamos e poderiam ter sido usados para nos trazer alegria. E poucos planejam estrategicamente como ganhar uma grande parcela de tempo no futuro, talvez para dedicar a um projeto recompensador ou aproveitar férias com a família.
Neste ano vamos todos decidir ser tão cuidadosos com o tempo como somos com o dinheiro e com o trabalho. Antes de gastar seu próximo centavo, pense se a compra servirá para melhorar seu uso do tempo. Antes de tomar sua próxima decisão relacionada ao trabalho, pense no impacto que ela terá no tempo com sua família e no quanto você vai curtir estar com ela. Lembre-se de que não é verdade que sempre haverá mais tempo no futuro. Não haverá.
Como gestor, pense nos sinais que incentivos e recompensas por desempenho enviam para seus funcionários. Pergunte-se se você facilitou a vida deles quando eles precisaram de mais tempo para completar projetos, passar menos tempo no trânsito, gastar menos tempo pegando voos indiretos mais baratos, reduzir o estresse e aumentar a produtividade. Os dados que coletei durante vários anos e em diversos países sugerem que sua felicidade e saúde, e a saúde de sua organização, podem depender das trocas que você faz (e ajuda seus funcionários a fazer) todos os dias.
Embora nosso foco abrangente nos ganhos financeiros tenha gerado crescimento econômico, ele teve um custo. Todos nós — funcionários e gestores — deveríamos pensar em abdicar do dinheiro para ter mais tempo e aproveitá-lo melhor. O tempo é um recurso precioso. Repensar como podemos valorizá-lo nos ajudará a responder a esta questão fundamental: como maximizar o próprio bem-estar e o da sociedade — e ajudar todos nós a escapar das armadilhas do estresse da vida cotidiana.