Mindfulness (atenção plena, em tradução livre) deve ser tanto uma prática física quanto mental. O nome pode nos levar a pensar que se trata de algo relacionado apenas com a mente. De fato, muitas pesquisas, incluindo a minha, mostram que prestar atenção ao corpo é uma maneira fácil não somente de alcançar a atenção plena, mas também de reduzir o estresse.
Pode parecer contraintuitivo porque quando a mente está sobrecarregada, o físico, não raro, é a última coisa sobre a qual pensamos. Se chegamos a notar o corpo nos momentos de estresse, provavelmente é porque fomos interrompidos por algum tipo de formigamento nas mãos ou dor nas costas, nos dentes, nos pés ou ainda simplesmente por aquela conhecida fome que nos obriga a parar várias vezes ao dia para comer. No entanto, quando concentramos nossa atenção no corpo, ele pode ser nossa âncora no que está acontecendo agora, mesmo que as sensações sejam desagradáveis.
É assim que funciona a ancoragem: trazemos nossa atenção para o corpo para perceber — ao invés de evitar — a tensão, a circulação, a dor, o prazer ou apenas a experiência física neutra, digamos, do ombro direito ou do arco do pé esquerdo. Esta prática nos ajuda a voltar à realidade. Na verdade, o corpo é o caminho mais rápido e mais seguro de volta ao momento presente, quando a mente está perdida tentando refazer o passado ou ensaiar o futuro.
Sofremos desnecessariamente quando a mente não se concentra. A amígdala, localizada no lobo temporal medial do cérebro, é uma região relacionada com a detecção e o processamento do medo. Quando essa área é ativada por uma situação interpretada como possível ameaça, mesmo quando estamos apenas lendo um e-mail desagradável, ela dispara mudanças fisiológicas, como aumento da tensão muscular e respiração acelerada. A associação se torna tão forte que nossa tendência é tomar a reação do corpo como prova de perigo, algo similar à reação dos cães de Pavlov que interpretavam o som da campainha como sinal do jantar. A tensão muscular aumentada e a respiração rápida estimulada pela amígdala ativada tende a intensificar ainda mais a sua ação. Felizmente, podemos usar a ancoragem nessas situações.
Quando trabalhava numa startup, um dos meus alunos costumava ter crises de pânico repetidamente antes de se reunir com potenciais capitalistas de risco. Ele dizia que sua mente parecia girar, acreditava que suas ideias seriam rejeitadas, consideradas inúteis. Depois que aprendeu a se sintonizar com seu corpo, usar um breve minuto para se ancorar, respirar e sentir seus pés no chão, ele passou a se sentir mais tranquilo e se preparar para ter conversas mais produtivas. Confira algumas práticas simples e eficazes de ancoragem.
- Respire profundamente. Puxar o ar de maneira intencional uma única vez pode mudar nossa perspectiva. Pode ajudar a dar uma pausa na “tagarelice” mental e dar uma chance para o corpo se ajustar após perceber uma ameaça. Quando estamos angustiados, muitas vezes, acreditamos plenamente em nossas fantasias. Tomar fôlego pode nos tirar da história, tornando-nos menos crédulos. Você pode seguir o ar pelo corpo e, assim, ganhar distância suficiente para julgar se seus pensamentos estão com você (de acordo com suas intenções atuais e maior propósito) ou contra você e, a partir daí, escolher o melhor caminho de forma consciente.
- Preste atenção às emoções. Outra razão para se ancorar no corpo: é nele que experimentamos as sensações. É importante reconhecê-las, mesmo que pareçam um obstáculo, principalmente no trabalho. Estudei as desvantagens da supressão emocional e posso garantir — é pior. É paradoxal, mas se envolver com emoções contrárias, sem julgamentos, se correlaciona negativamente com sensações desfavoráveis e transtorno de humor. Em outras palavras, quando percebemos e reconhecemos emoções desagradáveis, elas têm menos poder para causar sofrimento. Em um estudo, os participantes escreveram diariamente, durante quatro dias, sobre uma experiência traumática ou um evento neutro. Aqueles que fizeram registros de alguma situação perturbadora visitaram menos o centro de saúde nos seis meses seguintes do que aqueles que escreveram sobre um evento neutro. Quando prestamos atenção ao corpo, podemos acessar muitas informações emocionais, antes de sobrecarregar todo o sistema — depois, é tarde demais.
- Lembre-se de que seus colegas também têm um corpo. Irritado com seu chefe? Acha que não aguenta ficar mais um dia ao lado de um colega insuportável? Se permitir, seu corpo pode conectá-lo com outras pessoas — mesmo as mais difíceis. O corpo é uma parte importante do que temos em comum. Isso soa óbvio, mas as implicações são profundas. O corpo e o prazer e a dor que vêm com ele (doenças e incômodos, necessidades e afrontas, a impossibilidade de escolher o físico que queremos, o medo de perdê-lo algum dia e as formas de lutar contra o corpo ou fingir que não existe) são experiências compartilhadas. Quando tentamos ignorar o corpo, perdemos uma parte fundamental do que temos em comum. A empatia adquirida com essa consciência nos ajuda a ter relacionamentos profissionais mais produtivos, evitando frustrações contínuas.
- Ampliar pequenos prazeres. Não subestime a alegria de tomar o primeiro gole do café da tarde. Notar mais a dor mais do que o prazer faz parte da natureza humana, mas com prática e alguns lembretes você pode experimentar alegria ao longo do dia nos prazeres simples de ter um corpo. Que seja sentar-se quando você está de pé por muito tempo ou se alongar quando está sentado; segurar uma nova caneta particularmente confortável e ergonômica; rir muito quando algo é engraçado; comer quando você está com fome; o relativo silêncio do escritório depois de uma manhã com crianças gritando; tirar sapatos desconfortáveis debaixo de sua mesa. Todos os dias, não importa quão ruim sejam, oferecem inúmeras oportunidades como estas que ajudam a nos sentirmos bem. Recentemente tive uma reunião no VA Hospital, em Palo Alto, quando cruzei com dois veteranos pelo caminho. Eles estavam sentados em frente ao prédio, ambos em cadeiras de rodas. Um deles se inclinou para o companheiro e disse: “Bem, é ótimo poder mover as mãos”. O outro respondeu: “Sim, você está certo. Isso é ótimo!”. Essa perspectiva fornece um poderoso lembrete de que, se quiser, a maioria de nós pode encontrar dentro da rotina diária uma pequena alegria digna de ser celebrada.
O estresse é um aspecto inevitável da nossa vida no trabalho, mas você não precisa de práticas ou mecanismos de escape elaborados. Basta ter os meios para se estabilizar a partir de uma sensação física, se ancorar e voltar à realidade. Tudo o que você precisa é apenas de um breve momento para tocar os pés no chão e se lembrar de que tem um instrumento confiável e sempre presente para mitigar o estresse. E, simplesmente como acontece, você nasceu com isso.
Leah Weiss é professora, escritora e pesquisadora da Stanford Graduate School of Business, diretora de educação da HopeLab e autora do livro Heart at Work, a ser publicado.