O ambiente de negócios brasileiro é marcado por um alto grau de heterogeneidade do ponto de vista da gestão organizacional. Essa característica faz com que uma área como a de Recursos Humanos seja celebrada como essencialmente estratégica por parte das companhias e vista como mera centralizadora de “custos” por outra.
É claro que visões tão díspares são fruto de inúmeros fatores, sendo a cultura corporativa talvez o principal deles. Em uma empresa em que a alta direção despreza políticas de gestão de pessoas, não há RH que resista. Nesses casos, uma atuação mais estratégica do executivo responsável por desenvolver os talentos da organização está praticamente descartada.
Para além da cultura e do tripé missão-visão-valores, no entanto, é possível detectar certa carência do mercado de Recursos Humanos brasileiro quanto a dados, pesquisas e estatísticas que fundamentem e deem sustentação ao caráter estratégico da atuação do profissional gestor de pessoas. Ora, desde sempre há um consenso mínimo de que desenvolver de maneira sistemática o capital humano é bom para o desempenho do negócio, mas ao sentar junto ao board diretivo e debater com o CEO, CFO ou qualquer outro executivo, o RH precisa de mais do que um “consenso mínimo”. É preciso ter informações objetivas para ratificar a essência estratégica de sua atuação.
Diante desse cenário, a recente pesquisa realizada pelo Top Employers Institute, líder global em certificação da excelência em gestão de pessoas, em parceria com o americano HR Certification Institute, mostra-se de grande importância por relacionar diretamente a adoção de boas práticas de RH com a melhora do desempenho do negócio. Conduzido junto a companhias que atuam na Alemanha, Bélgica, Brasil, Espanha, França, Holanda, Itália, Polônia e Reino Unido, o estudo feito entre janeiro e março de 2016 considerou uma série histórica dos resultados de 53 empresas e índices de nove bolsas diferentes (BEL20, BOVESPA, DAX, CAC40, FTSEMIB, AEX, WIG20, IBEX35, FTSE 100) entre janeiro de 2011 e janeiro de 2016.
Em termos práticos, a pesquisa comparou dois peer groups, um formado por empresas certificadas em melhores práticas de gestão de pessoas e o outro por empresas similares em tamanho, complexidade, market cap, indústria e cobertura geográfica que foi designado como empresas “não certificadas”, em três índices básicos: valor acionário, crescimento de receita e percepção da chamada “marca empregadora”.
Os resultados globais não deixam margem para dúvida:
– Os preços das ações das empresas com boas práticas de RH tiveram desempenho 51% superior (em média) aos índices das bolsas de valores dos respectivos países em que elas atuam, entre 2011 e 2015.
– Os índices compostos de receita das companhias com boas práticas de RH superaram em 14% a média dos respectivos segmentos nos quais elas estão inseridas no período de 2010 a 2014.
Já com relação à percepção positiva da marca empregadora de cada uma das companhias participantes da pesquisa, os resultados evidenciam algo que há muito se tentava comprovar, o retorno sobre o investimento em iniciativas voltadas a pessoas, e corroboram a noção de que vale a pena investir em ações que tornem a empresa desejada. Em plataformas como Kununu e Glassdoor, em que os funcionários podem avaliar anonimamente os seus empregadores, as companhias certificadas estão sempre ao menos meio ponto (o máximo é 5) à frente das demais.
É importante salientar que a pesquisa analisou os dados públicos disponíveis nos relatórios anuais das empresas de ambos os grupos de referência e ainda considerou duas variáveis adicionais: as políticas e práticas relacionadas a todo o ciclo de vida do profissional dentro da organização; e o fato de os profissionais de RH serem ou não certificados.
O que ficou evidenciado é que o fato de a empresa ser certificada e/ou contar com profissionais de RH certificados faz com que seu resultado financeiro em receita e valor de ação seja superior em relação a empresas cujas práticas em gestão de pessoas não são certificadas. Ou seja, independentemente das políticas ou os profissionais terem sido certificados, em qualquer um dos cenários se nota uma melhora na eficiência da empresa, o que influencia o alcance de melhores resultados financeiros.
Por Gustavo Tavares, HBR