Sob o peso do estresse crônico no trabalho, os otimistas estão em vantagem
O estresse crônico é uma das maiores ameaças ao bem-estar nos tempos modernos. Num relatório divulgado pelo The National Institutes for Occupational Safety and Health, 75% dos funcionários afirmam estar mais estressados do que gerações anteriores, e 40% dizem estar no limite do espectro do estresse. Num estudo em grande escala com mais de 11 mil pessoas, a pesquisadora Shawn Achor e eu verificamos que 91% das pessoas reagiram mal ao estresse, o que tornava as situações ainda piores e deteriorava o bem-estar. Diante dessa crescente realidade, alguns dizem que o estresse crônico é o “um direito inato nos tempos atuais.” Ledo engano. O estresse crônico é uma armadilha na qual fomos pegos e da qual conseguimos sair intencionalmente.
Um antídoto ao estresse crônico é manter uma atitude otimista – que nos ajuda muito ao longo dos anos de carreira. Em parceria com o Frost Bank, realizamos uma pesquisa onde vimos que, quando se trata de dinheiro, os otimistas fazem jogadas mais inteligentes e colhem os benefícios.
Entrevistamos mais de 2 mil americanos, testando o otimismo, a saúde financeira, as atitudes e o comportamento financeiro, por meio de métricas cientificamente comprovadas, como o Life Orientation Test (LOT – uma espécie de Teste Vocacional) e o nível da tranquilidade financeira do Consumidor (CFPB, em inglês).
Depois de analisar a situação financeira, a renda, as competências e outras regiões demográficas a fim de equiparar o estudo, os dados mostraram nitidamente que os otimistas tendiam a ter uma saúde financeira melhor do que os pessimistas e tomar atitudes mais saudáveis com relação às finanças. Por exemplo, vimos que 90% dos otimistas haviam economizado dinheiro para algo mais relevante, comparado a 70% dos pessimistas. Quase 2/3 dos otimistas começaram a aplicar em fundos para emergências, enquanto que menos da metade dos pessimistas assim o fizeram. Além disso, os otimistas tendem a buscar e seguir os conselhos de pessoas em quem confiam. Na minha opinião, o fato mais interessante foi ver como os otimistas se sentiam, dizendo que se estressavam com as finanças 145 dias a menos por ano se comparados aos pessimistas.
O otimismo é um investimento de lucro que vai além das finanças de uma pessoa. Os otimistas também se saem muito melhor ao longo da carreira – ganham salários melhores e tem mais chances de promoção. Achor e eu elaboramos uma escala de otimismo , aprovada cientificamente , para avaliar profissionais em centenas de empresas de todas as áreas de atuação, e descobrimos que os “Otimistas Visionários” – aqueles que estão no quartil superior , comparados ao otimismo de seus colegas – têm 40% a mais de chances de serem promovidos num futuro próximo, além de estarem seis vezes mais empenhados no trabalho, e cinco vezes menos propensos a sentirem os sintomas do Burnout.
Um importante estudo realizado por Dr. Martin Seligman, meu colega na pesquisa anterior, da University of Pennsylvania, apontou que vendedores otimistas vendem 56% mais do que seus concorrentes pessimistas. Em função desse estudo realizado na MetLife, a gigante de seguros modificou seu método de contratação a fim de incluir uma avaliação minuciosa do otimismo, o que aumentou a retenção de seus colaboradores e propiciou a economia de dezenas de milhares de dólares para a empresa.
Entretanto, pensar como os otimistas não é tão simples assim. Uma pesquisa revelou que, a maioria dos empreendedores bem-sucedidos que se acham otimistas, ganham em média 30% menos do que os pessimistas, e isso se deve ao fato de que eles assumem riscos maiores e são derrotados com mais frequência. (O mesmo estudo apontou que colaboradores otimistas, de fato, ganham mais do que seus colegas pessimistas.) No entanto, são poucos os estudos que mostram o lado negativo de uma mentalidade positiva.
Algumas vezes o otimismo é mal interpretado, pois as pessoas o associam à Poliana e aos seus óculos cor-de-rosa que a fazem ignorar a realidade. Certa vez, durante uma fase programada de restruturação em uma empresa, um gestor comentou que a melhor maneira de ajudar a equipe a ser positiva seria não falar sobre o que estava acontecendo. Não fiquei surpreso quando, depois de alguns meses, soube que esse gestor havia sido desligado da empresa por má gestão do seu departamento. Ser otimista não é ignorar a realidade. Na nossa área, dizemos que o otimismo é a expectativa de que boas coisas irão acontecer, e acreditar que o comportamento tem importância, principalmente frente a desafios. O otimismo racional é a capacidade de ver a realidade em sua essência e, ao mesmo tempo, acreditar que as ações melhoram a situação. Essa mentalidade direcionada às soluções incentiva as atitudes positivas. Os pessimistas racionais são também capazes de observar o que está de fato acontecendo; eles só não acreditam que haja algo que possa ser feito a respeito. Para os pessimistas, as situações se amontoam. Para os otimistas, o que importa é a forma de pensar.
O otimismo é um investimento de lucro para profissionais; por essa razão, eu viajo por mais de 120 dias por ano (com minha família, com duas crianças de menos de cinco anos – sim, sou uma pessoa otimista!) para auxiliar os colaboradores a avaliarem seu otimismo e fortalecê-lo. O otimismo funciona como um músculo, mas você precisa criá-lo. Eis aqui algumas atitudes positivas que menciono nas minhas palestras em empresas para ajudar na criação do otimismo.
Concentre-se naquilo que está dando certo: Comece seu dia agradecendo. Em vez de pegar seu telefone para ler as notícias ou seus e-mails, finja uma “aversão à mídia” e comece o dia listando três coisas pelas quais você está agradecendo e por quê. Essa prática diária de dois minutos reativa as pessoas pessimistas mais idosas e as torna mais otimistas depois de apenas duas semanas.
Busque o progresso, não a perfeição. Não espere até que seu planejamento esteja redondinho. Se você está tentando trocar de função ou divulgar uma ideia nova, esperar que a perfeição se faça presente só irá prejudicar. Estabeleça uma meta significativa, e ande a passos curtos para atingir seu objetivo. Essa vitória dará impulso para uma atitude positiva constante à medida que seu cérebro acelera para atingir o progresso.
Tenha um propósito ao se conectar com outras pessoas: Envie um e-mail curto a cada dia para alguém novo ou diferente, fazendo elogios ou agradecendo por alguma coisa. Essa prática é a minha favorita todos os dias, pois ilumina o dia dos parentes, dos colegas ou dos amigos, e me faz bem! O cérebro começa a reconhecer com mais intensidade as pessoas que se preocupam com você. A conexão social é a maior previsora da felicidade, e é significativamente atrelada ao otimismo.
Pense em avaliar seu nível de otimismo antes e depois de adotar essas práticas utilizando a Escala do Sucesso. Essas pequenas práticas podem lhe ajudar a recuperar os 145 dias livres de estresse por ano, além de turbinar a sua felicidade e o sucesso no trabalho.
Michelle Gielan, repórter jornalística americana para a CBS News, depois pesquisadora em psicologia positiva pela University of Pennsylvania, é autora do bestseller Broadcasting Happiness. Ela tem uma parceria com Arianna Huffington para pesquisar como as histórias de transformação turbinam o sucesso.
Fonte HBR