Nunca é agradável ficar para trás de outros que consideramos nossos similares. A sabedoria popular diz: “pare de competir com os outros e compita apenas com você mesmo”. Mas falar é sempre mais fácil do que fazer. Com o surgimento das redes sociais, é difícil não ver evidências das realizações de seus colegas quando você opta por ficar conectado. E, na verdade, essas evidências podem ser benéficas. Um estudo recente demonstra que elas podem se tornar uma fonte de inspiração no trabalho e na vida pessoal.
Então, como podemos aproveitar os benefícios da competição sem sofrer com a insegurança que ela pode gerar? Analise as cinco estratégias a seguir.
Saiba quais são os seus gatilhos. O estresse que você sente quando acredita estar ficando para trás em relação aos seus colegas pode surgir de diversas formas ao longo do dia. Pode ser algo temporário, como ouvir seu chefe elogiar outro colega; ou algo constante, como ver seus colegas deixando o emprego das nove às cinco no escritório para abrir seus próprios negócios.
Pense sobre quais aspectos disparam gatilhos de autocomparação em você. Você se sente inferior quando seu chefe apoia outras pessoas? As realizações de certos amigos deixam você desanimado? Você navega pelo LinkedIn, Facebook ou Instagram e inevitavelmente sente mais insegurança e isolamento? Caso tenha respondido sim, você não está sozinho. Pesquisas demonstram que o uso das redes sociais intensifica nosso viés de negatividade inerente quando damos mais valor a experiências negativas do que às positivas.
É importante atentar para os aspectos que provocam a autocomparação em você, pois é possível transformá-los em oportunidades assim que você os reconhece e, então, obter uma resposta mais produtiva.
Mude da ruminação reativa para uma reformulação intencional. Depois de entender quais situações provocam um sentimento de inferioridade, você pode escolher evitar atividades que geram insegurança. Mas essa é raramente uma solução razoável ou pragmática.
Por exemplo, você provavelmente não consegue deixar de ouvir o que seu chefe diz sobre você ou seus colegas. Embora você possa cortar a relação com seus amigos ou parar de usar as redes sociais, seus sentimentos de inadequação podem aumentar com o isolamento. Uma abordagem melhor é ser intencional: utilizar deliberadamente esses sentimentos em seu benefício.
Por exemplo, imagine a próxima vez que estiver navegando nas redes sociais. Pergunte a si mesmo por que está fazendo isso naquele momento. Está entediado? Então escolha, intencionalmente, se envolver em algum tipo de entretenimento, mas não com o objetivo de se julgar. Ou da próxima vez que tiver notícias do sucesso profissional de um colega e se sentir inferior, dê um passo atrás e analise seus sentimentos sem julgamentos. Em seguida, obrigue-se a enxergar o progresso de seu colega de forma objetiva, como se você fosse um jornalista pesquisando a história dele, em vez de alguém competindo diretamente com ele.
Se essas atividades se tornarem perturbadoras para você, dê um tempo e se afaste delas. Mas lembre-se de que você sempre pode abordá-las com o objetivo de aprender. Em vez de dizer a si mesmo: “Eu gostaria de fazer [ou ter] aquilo”, pergunte-se: “Por que não posso fazer [ou ter] aquilo?” Posteriormente, dedique algum tempo para refletir sobre as ideias que surgem na sua cabeça.
Demonstre força pessoal para recobrar validação e dinamismo. Durante uma crise aguda de insegurança, você pode começar a pensar em como alcançar os demais e chegar no mesmo nível deles. Nesse momento, recupere seu senso de autoeficácia, realizando pequenas ações para alcançar pequenas vitórias. Aproveite seus principais pontos fortes, apresente-os para o mundo e use a validação para obter uma injeção de resiliência.
Um cliente meu de coaching executivo ficou extremamente decepcionado ao ver sua promoção a vice-presidente sênior ser adiada devido à pandemia. Ele esperava ter sido promovido este ano. Também tinha medo de que as chances de alcançar esse cobiçado cargo na empresa desaparecessem pouco a pouco. Ele invejava colegas em outras empresas que já haviam subido de patamar antes da crise.
Como forma de romper seu estado negativo, que era desagradável e poderia ser prejudicial ao seu desempenho no ano, ele decidiu aproveitar um de seus pontos fortes no qual já havia confiado no passado: seu talento para escrever. Redigiu um ótimo artigo para o blog da empresa sobre como superar a crise atual — e o texto foi o mais lido em toda a história de publicações da organização. Inúmeros colegas juniores e seniores lhe agradeceram as orientações sinceras e otimistas. O feedback, por sua vez, o deixou confiante sobre seu valor e também aumentou sua credibilidade em termos de capacidade de liderança para promoção no momento certo.
Busque novos grupos de colegas e crie um novo terreno para atuar. Quando você se compara sempre com o mesmo grupo de colegas, se envolve em um jogo sem perspectiva de vitória, no qual está sempre adiantado ou atrasado. No entanto, ao expandir sua visão para incluir colegas novos e diversos, você passa a avaliar o seu sucesso de uma forma menos binária e permite que novas esferas entrem em cena.
Jackie, diretora de uma empresa da lista Fortune 100, deixou de ser escolhida para o cargo de vice-presidente por três anos. À medida que começou a se sentir sem esperança e presa em sua posição atual, tentou ampliar sua abordagem em relação ao trabalho, reformulando sua vida profissional e mudando sua forma de interagir com colegas para encontrar um sentindo. Entretanto, ela não conseguia se sentir realizada, sabendo que o título de VP sempre lhe escapava.
Ao reconhecer que sempre restringiu suas perspectivas a um pequeno grupo de outros VPs, começou a se relacionar com pessoas de fora da empresa que compartilhavam os mesmos valores a respeito de empreendedorismo. Após participar de um painel mensal para ouvir apresentações de startups locais e orientá-las, ela conseguiu renovar seu espírito. Embora estivesse um passo atrás desses novos colegas que tinham suas próprias empresas, ela gostou de aprender com eles. E, ao fazer isso, não apenas neutralizou a dor de ficar se comparando com os colegas da sua empresa, como também se sentiu mais energizada e motivada para reavaliar suas aspirações profissionais.
Liberte-se de suas expectativas internas. Uma coisa é sentir-se um passo atrás de seus colegas em uma competição real, como uma promoção no trabalho. Contudo, existe um comportamento ainda mais prejudicial que leva à insegurança contínua: a crença de que você não deve apenas superar seus colegas, mas também almejar tudo o que eles estão tentando conquistar. Essa “tirania do ‘eu devo’” cria uma corrida sem fim na qual você nunca poderá desfrutar do que já conquistou. Suas expectativas internas sobre o sucesso continuarão mudando dependendo do que os outros desejam.
Muitos de meus clientes que estão um degrau abaixo do CEO se encontram nessa situação. No fundo, eles não querem a pressão de um cargo superior, mas continuam acreditando que deveriam desejar o cargo devido à intensidade com que seus colegas o desejam. Essa mentalidade cria um cenário invencível. Esses clientes acreditam que se não almejarem ou obtiverem o título de CEO, se sentirão inferiores aos outros que buscam esse objetivo. Contudo, se chegarem lá, podem se sentir presos a uma posição que nunca desejaram de verdade.
Considere a possibilidade de que tudo o que você escolheu fazer até o momento tenha sido a coisa certa, independentemente do que você acha que deveria ter feito. De acordo com o conceito de mindfulness: “Aonde quer que você vá, é você que está lá.” Não intensifique ainda mais a sua insegurança olhando para trás. Comprometa-se a avaliar as decisões futuras com base em seus valores e se elas apresentam uma oportunidade de crescimento. Mudar o rumo com base no que os outros querem ou possuem irá mantê-lo sempre atrás e à mercê de seus colegas.
Qualquer esforço em sua carreira e vida pessoal inevitavelmente trará crises de autocomparação e insegurança. Mas sempre que sentir que está ficando para trás (seja verdade ou não), você pode usar as estratégias citadas para recuperar sua confiança e se destacar nas competições que realmente importam para você.
Nihar Chhaya é coach executivo de líderes de empresas globais, dentre elas American Airlines, Coca-Cola, GE e Dell. Ex-diretor corporativo de desenvolvimento de talentos da F500, Chhaya atualmente é presidente da PartnerExec, ajudando líderes a adquirir conhecimento interpessoal para melhores resultados comerciais e estratégicos.