Qual o segredo para a realização profissional? Costuma-se dizer que o caminho é buscar um trabalho que traga satisfação. Ao encontrar o emprego perfeito, realizando um trabalho que tenha significado, você será feliz. No entanto, minhas pesquisas em variadas empresas de diversos setores têm mostrado que a nossa ideia de realização profissional é, muitas vezes, equivocada. A importância de “o quê” costuma ser superestimada, enquanto deveríamos dar mais valor a “quem”.
Em entrevistas com um grupo heterogêneo de 160 pessoas, ocupando posições das mais diversas, em variados segmentos, eu e meus colegas percebemos com frequência que o progresso na carreira depende tanto dos relacionamentos, seja dentro ou fora do trabalho, quanto do trabalho propriamente dito. Pessoas com um trabalho monótono e cansativo podem se sentir tão satisfeitas e realizadas quanto aquelas com os trabalhos mais divertidos e inspiradores, desde que invistam de forma proativa em relacionamentos incentivadores, que gerem objetivos.
A importância dos relacionamentos é comprovada em pesquisa. Estudos mostram que as conexões sociais têm papel fundamental na construção de um senso de propósito e bem-estar no ambiente de trabalho. E também têm impacto nos resultados: a gestão eficiente do capital social das empresas favorece o compartilhamento do aprendizado e do conhecimento, aumenta a retenção e o engajamento de colaboradores, reduz a ocorrência de quadros de burnout, promove a inovação e melhora o desempenho dos funcionários e da empresa como um todo.
Como parte das pesquisas da Connected Commons, sobre a relação entre o network pessoal e o sucesso profissional, eu e meus colegas conversamos com centenas de pessoas sobre como elas transformaram a carreira e a vida por meio dos relacionamentos. Uma história curiosa aconteceu com Gail, executiva sênior de uma empresa de tecnologia. Gail teve uma crise e passou seis semanas hospitalizada, em parte devido ao estresse decorrente do trabalho. Uma amiga da igreja, preocupada, procurou alertá-la: “Você sabe que a vida não é só isso, não sabe?”
Como acontece hoje com muitos profissionais, Gail estava com síndrome de burnout. E se deu conta de que a única forma de se curar era repensar os relacionamentos profissionais e pessoais, e reorganizar seu tempo de forma consciente. Agora, toda segunda-feira, ela passa uma hora reunida com sua equipe para avaliar a agenda das quatro semanas seguintes. “Se algum item ali não estiver alinhado com pessoas, propósitos ou paixão, ele é eliminado… Sei onde estão as minhas prioridades, e como quero passar cada uma das 24 horas do meu dia”, disse ela.
Apesar da agenda cheia, Gail também fortaleceu os laços com familiares e com a comunidade da igreja, para garantir uma base fora do trabalho. Ela e o marido avaliam constantemente se estão dedicando tempo às pessoas e às atividades que mais importam. Ao administrar seu tempo de forma consciente e investir em relacionamentos de forma proativa, ela se tornou mais satisfeita e equilibrada na vida e na carreira. E já recebeu três promoções desde então.
A história de Gail pode parecer um exemplo extremo, mas não precisamos esperar acontecer uma crise para procurar sentido e encontrar a realização que ela alcançou. O primeiro passo é definir seus objetivos norteadores – os valores, as habilidades e o expertise que se quer ter como exemplos no trabalho. Pense nisso como um sistema de navegação pessoal da sua carreira. Como observou Marcy, executiva sênior de uma empresa do setor de seguros, em uma entrevista, “Jogar na defensiva significa viver sempre com medo. A única maneira de se livrar disso é definir com clareza quem você é, o que quer fazer, e começar a desenhar o caminho e os relacionamentos que irão levá-lo até lá”.
Com a ajuda dos seus norteadores, reavalie sua agenda profissional e pessoal para o mês seguinte, e pense nas interações que podem aproximá-lo dos seus objetivos, e quais estão apenas o distanciando deles. Você está trabalhando com pessoas que têm os mesmos valores que os seus, que podem lhe ensinar novas formas de enxergar as coisas? Você cresce quando interage com gente otimista, analítica, tranquila ou ambiciosa? Este não é um exercício para saber de quais colegas você mais gosta, do ponto de vista pessoal, ou com quem quer socializar. Trata-se de entender quais relacionamentos e interações são gratificantes, motivadoras, e mais alinhadas com os seus propósitos.
Ao definir claramente seus objetivos norteadores e os relacionamentos que irão ajudá-lo a alcançá-los, comece a tomar consciência de como gasta o seu tempo. Você deve se basear de forma proativa na construção de relacionamentos que lhe tragam sentido, e que possam blindá-lo contra os que o afastam dos seus propósitos. Gail, agora, empenha-se em identificar e fortalecer relacionamentos com interlocutores verdadeiros, que tenham os mesmos valores que ela, uma “confiança intelectual” que traga novas perspectivas, com pessoas capazes de ajudar a preencher lacunas de conhecimento específicas.
É essencial investir em relacionamentos significativos fora do trabalho. Nossa pesquisa tem mostrado repetidamente que as pessoas prósperas têm bases fortes em pelo menos uma ou duas comunidades não relacionadas ao trabalho. Vai além de gastar energia na esteira ou ler um livro sozinho à noite. Escolha uma atividade em que esteja disposto a investir tempo, e em grupo. Ou melhor, estabeleça metas em conjunto com outros participantes, para se comprometer a não desistir. Encontrar tempo para compromissos não profissionais não é apenas recompensador; também ajuda a preservar sua energia mental e física. Relacionamentos fora do trabalho ampliam sua perspectiva e resgatam aspectos da sua identidade que não oscilam de acordo com os negócios.
Além de se ancorar em relacionamentos construtivos, é igualmente importante blindar-se contra interações que sugam sua energia. Sim, é difícil ter total controle da agenda, mas nossa capacidade de proteger nosso tempo é maior do que imaginamos. A maioria dos profissionais do conhecimento passam 85% do seu dia em reuniões ou em comunicações por e-mail ou telefone. Se protegermos um pouco que seja do nosso tempo dessa sobrecarga colaborativa mantendo o foco das reuniões, poderemos usá-lo em relacionamentos proveitosos.
Outras estratégias reconhecidas para resguardar nosso tempo incluem criar regras estabelecendo horários para verificar e-mails ou fazer ligações, reservar espaço na agenda para intervalos ou atividades revigorantes, e criar interrupções ao final do dia de trabalho. Um casal entrevistado, ambos trabalhando em uma grande empresa da área de tecnologia, estabeleceu um acordo para parar de falar sobre o trabalho após um certo ponto do trajeto do escritório para casa. O relacionamento precisa passar do campo profissional para o pessoal ao final do dia. Limites como esse permitem que se recupere o controle, impedindo que hábitos e circunstâncias continuem ditando a forma com a qual usamos nosso tempo.
Ser mais consciente na administração do tempo e de suas interações pode parecer assustador. No entanto, nunca antes na história do trabalho, tivemos tanta chance de definir o que fazemos e com quem fazemos. Apesar de toda essa flexibilidade, frequentemente abrimos mão do controle sem necessidade, deixando os outros ditarem nossas prioridades e preencherem nossa agenda. Amara, uma líder de operações na indústria farmacêutica, foi selecionada para uma promoção, e negociou a possibilidade de trabalhar de casa um ou dois dias por semana. “As pessoas perguntaram como eu havia conseguido”, disse ela, na entrevista. “Respondi a eles: ‘Eu pedi. Vocês já pediram?’” Às vezes, nós somos nossos próprios obstáculos.
Muitas pessoas lutam por um emprego de destaque, um título imponente, ou um salário considerável na empresa ideal. Assim, estamos subestimando a importância dos relacionamentos, embora as pesquisas mostrem que são as pessoas, não o emprego perfeito, que nos levam à realização. Ao definir nossos princípios norteadores, apoiando-nos em relacionamentos que nos guiam até eles, e nos protegendo contra aqueles que nos distanciam, encontraremos a satisfação que tanto procuramos, exatamente de onde estamos.
Rob Cross é professor titular da cadeira Edward A. Madden de Global Leadership na Babson College, e coautor do livro The hidden power of social networks (Harvard Business Review Press, 2004).
Fonte HBR