Os três jurados sorriam para mim. Amparado pelo apoio deles, previ que ganharia o concurso de elocução da faculdade. Consegui recitar o primeiro verso do poema que escolhi, mas deveria estar sob o efeito anestésico ao tentar lembrar uma única palavra que fosse do segundo verso. O sorriso animador dos jurados só desencadeou meu crescente pânico. Finalmente, o sinal tocou, finalizando minha vez no palco, e dando início aos vinte anos de medo de memorização.
No início da minha vida profissional, sempre que eu tinha de falar em público, parte do meu cérebro estava alerta para a ansiedade a fim de que eu não esquecesse algo. Era difícil me concentrar ou interagir com o público. Com o passar dos anos, aprimorei a arte de falar de maneira improvisada. Fossem os assuntos tenebrosos nas reuniões da Toastmaster, fossem as perguntas difíceis do meu CEO, nada podia me paralisar. Comecei a confiar na habilidade da fala improvisada para apresentações maiores.
Até que tive uma reunião em Paris. Decidi improvisar a maior parte do meu discurso, pois achei que falar espontaneamente seria melhor do que estar extremamente preparada e travar caso me esquecesse do que estava falando. Em vez disso, as perguntas inquisitivas do público me deixaram atordoada. Impossibilitada de fazer pesquisas de improviso ou de responder com propriedade, o meu conteúdo ficou aquém das expectativas.
A competição de elocução e a reunião em Paris eram bastante distintas, mas tinham um ponto em comum: a minha preparação para falar em público. Decorei o poema, mas não havia ensaiado o suficiente, repetidas vezes; sob o estresse da apresentação, vacilei. Em Paris, eu confiei na minha desenvoltura para a fala improvisada, mas não consegui falar sobre detalhes. Tirei proveito dessas falhas em minha carreira atual, quando dei uma palestra na TEDx – falo em público quase uma vez por semana – em palestras e workshops sobre liderança – e também ensino como fazer apresentações. Com base em minha experiência, descobri um método que funciona muito bem para falar em público: domine seu “roteiro”.
Dominar o roteiro ou a apresentação é usar o tempo para achar as palavras certas e a sequência daquilo que você pretende falar e ensaiar várias vezes, até que você consiga falar do final para o começo se lhe pedirem. É decorar ao máximo, mas fazer as modificações conforme as suas necessidades e o local da palestra – seja dominando os pontos principais para atingir sua audiência, ou precisando saber seu discurso palavra por palavra até que ele se torne tão familiar quanto o seu próprio nome. Pense no que será de maior utilidade para o seu público e planeje não só as palavras, mas também as ações e transições entre os assuntos para que haja fluidez para você enquanto ganha tempo para fazer ajustes ou improvisar algo durante sua fala. “Dominar algo” é uma válvula de pressão; você fica menos nervoso, o que ajuda a reduzir o estímulo às suas glândulas sudoríparas e, proporcionalmente, aumenta a sua autoconfiança.
Conhecer o seu roteiro permite que você transite de um assunto a outro sem pensar muito. Quando você não está preocupado com o assunto seguinte, é capaz de mostrar plena presença ao seu público e se adaptar conforme a reação deles. Eu faço uma pausa quando as pessoas dão risadas para que elas se divirtam, ou altero o tom da minha voz caso eu sinta que estão perdendo o interesse. Muitas pessoas receiam parecer engessadas e artificiais caso se preparem em demasia, mas isso vale somente quando você conhece bem o material, mas não o suficiente. Ter total conhecimento do material paradoxalmente deixa você mais livre para ser mais natural e responsivo naquele exato momento. Em geral, eu me emociono nas minhas falas, mas isto ocorre em momentos diferentes do discurso, a depender da minha interpretação naquele dia e do que eu sinto do público.
A seguir, vejamos cinco técnicas que facilitam a preparação do roteiro e o seu domínio:
Decida como montar o roteiro.
O conteúdo pode ser composto de pontos-chave para discussão, como a técnica EPE (exemplo-ponto-exemplo) do especialista em produtividade Tim Ferris. Você também pode escrever cada detalhe do seu roteiro, inclusive pausas, como fazia Winston Churchill. O método que você escolhe depende do seu estilo de discurso e do que é adequado para o evento. Por exemplo, para uma aula interativa de liderança, ressaltarei doze pontos durante a sessão para garantir que os conceitos principais tenham ressonância. Para uma oficina mais estruturada, lembrarei dos meus pontos-chave em sequência, de modo que os participantes sigam um roadmap. Para as palestras mais importantes, embora eu não consiga decorar cada palavra, prefiro escrever o discurso inteiro e ensaiá-lo exaustivamente.
Divida em partes.
Independentemente da duração, divida a sua palestra em partes. Para um discurso de 30 minutos, pense em partes que tenham dois ou três parágrafos. Mesmo quando escrevo meu discurso todo, eu crio uma lista de tópicos: um resumo de cada parte com sua especificação. Em seguida, trabalhe cada parte individualmente. Se eu optei por decorar um roteiro, costumo trabalhar as partes na ordem, mas de tal modo que faça sentido! Então, eu ensaio as transições entre as partes. As transições podem ser particularmente traiçoeiras; sendo assim, perceba qualquer transição problemática e pratique várias vezes antes de prosseguir.
Domine seu discurso com o tempo.
Independentemente do nível de escassez (lista com marcadores) ou da densidade (roteiro escrito) do seu material, não subestime a quantidade de tempo que leva para realmente assimilá-lo. O maior erro que você pode cometer é deixar para se preparar no último dia antes do evento. Para uma palestra importante, seu roteiro deve estar pronto pelo menos quatro a seis semanas antes do evento. Gaste seu tempo, dia após dia, memorizando partes do seu discurso. Para poupar tempo, leia ou ouça uma parte do seu roteiro antes de dormir ou ao mesmo tempo em que escova os dentes. Grave seu discurso e o escute (com atenção) sempre que estiver dirigindo, exercitando-se, ou realizando afazeres. Eu registrei 200 horas treinando meu roteiro para o TEDx; a maioria delas foi no carro. Então, quando eu me concentrava em decorar, o processo se dava muito mais rapidamente.
Não ensaie apenas do começo ao fim.
A maioria das pessoas começa no início a cada prática, resultando em um roteiro decorado de forma desigual; a introdução é boa, mas a conclusão é duvidosa. Em vez de aprender o seu roteiro em sequência, comece de uma parte qualquer e continue deste ponto. Em seguida, una as ideias. Lembre-se de que o movimento ajuda a alocar mais palavras na memória. Se você fizer a sua palestra em pé, não ensaie ou decore sentado. Eu, muitas vezes, determino um mini palco e ando por ele como eu faria durante a palestra em si. Associar uma parte do discurso a um lugar no palco auxilia a memória. Pode ser útil, também, ensaiar seu discurso usando a mesma roupa que você usará no dia da apresentação, inclusive os sapatos. Ficar constantemente tocando alguma parte da sua roupa ao longo da palestra pode ser um incômodo tanto para você como para seu público.
Tenha um plano em caso de esquecimento.
Em vez de tentar improvisar na hora, crie estratégias de como lidar com um lapso de memória como parte de sua preparação. Elabore duas ou três frases para usar. Saber que tenho estas frases para recorrer me deixa menos nervosa com relação ao esquecimento. Exemplos: “Deixe-me consultar minhas anotações”, ou “estou tentando me lembrar do que eu ia dizer em seguida. Deem-me um minuto para voltar um pouco”. Ou, simplesmente, planeje uma pausa para um gole d’água. Sua plateia será solidária e grata por sua transparência, e o lapso será menos difícil para todos quando você não entrar em pânico e fingir que está tudo certo.
O domínio do seu roteiro vem em muitas formas, desde a clareza nos pontos cruciais, ao ponto de nenhuma pergunta difícil do público poder apagá-los de sua mente, até conhecer o roteiro principal palavra por palavra. Quando você sabe seu roteiro de cor, você não só é capaz de fazer o discurso que deseja, mas também atende ao público, apresentando o melhor daquilo que você selecionou e planejou. Seja ao dar uma palestra, estabelecer nortes para a sua equipe ou insistir com o grupo de gestão superior para aprovar uma ideia, quando se trata de uma apresentação, domine a informação que tem a passar para que você tenha total controle da situação.
Sabina Nawaz é coach global para CEOs, palestrante renomada em assuntos sobre liderança e escritora, atuando em mais de 26 países. Nawaz presta consultoria para executivos C-Level das empresas listadas na Fortune 500 – dentre elas agências governamentais, empresas sem fins lucrativos e organizações acadêmicas. Ela também já fez inúmeras palestras, participou de eventos e congressos, inclusive TEDx, e escreveu para as empresas FastCompany.com,Inc.com, e Forbes.com
Fonte HBR