A capacidade de saber qual função usar, além de como e quando usá-la, é essencial ao administrar a sobrecarga de informação. Os seis princípios abaixo podem servir de guia para cuidar do cérebro de forma adequada, a fim de administrar a sobrecarga de informação em um dia de trabalho atribulado.
Configuração do aspirador de pó: Se você deixar o aspirador de pó do cérebro na configuração padrão, ele vai captar toda informação que encontrar pelo caminho. É preciso fazer um ajuste fino, alterando sua configuração de feedback de “global” para “local”.
Feedback local significa refletir sobre o que acabou de acontecer. Feedback global significa refletir sobre todas as atividades anteriores. Treinar o cérebro para o feedback local faz dele um multitasker mais eficiente, permitindo que lide com mais informações e realize mais tarefas. Assim, quando o seu dia estiver cheio, faça um breve intervalo para “desfocar”. Durante esse tempo, faça um balanço da última tarefa concluída, apenas para avaliar como ela se deu, e como pode se relacionar com a tarefa seguinte. Evite refletir sobre o dia inteiro.
Instalação de um filtro no recipiente: A memória de curto prazo é como um copo cheio de ideias. Esse copo é limitado. Por isso, é especialmente irritante quando uma informação de que você não precisa se lembrar ocupa espaço em sua memória, ou quando essa informação distrai você. Por esse motivo, é preciso filtrar as informações ao longo do dia. Você pode fazer isso de maneira proativa ou reativa.
“TMI – Too much information” (Informação em excesso) é uma forma de diálogo interno que constitui a filtragem reativa. Essa filtragem envia uma mensagem ao cérebro para que ele não absorva o que acabou de ouvir. A filtragem proativa é um tipo de preparação para o cérebro. Em vez de esperar pelo momento ”TMI”, você prepara o seu cérebro para ignorá-lo. O alerta sonoro em sua página do Facebook, por exemplo, é algo que você pode decidir ignorar com antecedência, assim como também pode desativar as notificações de seu computador.
Acionamento do liquidificador: você pode liberar espaço no cérebro conectando ideias. Ao fazer isso, as ideias se emparelham e o cérebro pode dar conta de mais informações. Quando você está focado, seu cérebro está no modo coleta, e não no modo conexão. Para ativar seus circuitos cerebrais, você precisa incorporar intervalos para desfocar ao seu dia.
Quando há muita informação chegando até você, aja de forma contraintuitiva — inclua outra tarefa em seu dia. Mas permita que seja uma tarefa divertida que ative seus circuitos sinápticos. Caminhar, por exemplo, dá uma forcinha à sua imaginação — estimula as sinapses e a criatividade. E caminhar ao ar livre é melhor do que caminhar na esteira.
Consolide suas memórias: a memória de longo prazo pode se formar em questão de minutos por meio da utilização de uma técnica conhecida como aprendizagem espaçada. Em vez de trabalhar sem interrupções, incorpore distrações ao seu dia intencionalmente. Isso pode trazer enormes benefícios, seja rapidamente esvaziando o copo de sua memória de curto prazo ou consolidando muito mais depressa o que precisa ser aprendido do que se você persistisse com seu trabalho sem intervalos. Isso alivia o peso das avalanches de informação.
Ligue o triturador de lixo: muitas vezes temos medo de não conseguir nos lembrar das coisas. No entanto, também há outras coisas que não conseguimos esquecer. Você pode, por exemplo, passar o dia inteiro pensando em uma advertência indelicada que recebeu. E fazer algo de errado, mesmo que ninguém mais saiba, pode igualmente lhe causar preocupação.
À medida que envelhecemos, perdemos a capacidade de esquecimento intencional — paradoxalmente, memórias perturbadoras se prolongam por mais tempo (em parte porque temos uma preocupação generalizada com a perda gradual de memória, de modo que automaticamente nos esforçamos para relembrar as coisas). Uma das estratégias é substituir as memórias o quanto antes. Assim que a memória perturbadora começar a se formar, coloque uma música preferida para tocar ou vá atrás de uma imagem favorita. Ao recorrer ao esquecimento deliberado, ou direcionado, você pode, de forma eficiente, interromper memórias perturbadoras no início de sua formação de modo que nunca se consolidem.
Ative o mecanismo de reciclagem: seu cérebro consome 20% da energia corporal, embora ocupe apenas 2% do volume do corpo. Isso significa que quando seu corpo não tem energia, seu cérebro também vai sofrer. É provavelmente por esse motivo que exercitar o corpo com ioga pode melhorar sua qualidade de vida, ou o motivo pelo qual exercícios físicos ajudam o corpo a administrar energia de forma mais eficaz. Fazer uma dessas duas atividades também oferece uma pausa ao cérebro. Reservar um tempo em seu dia para tirar a cabeça do trabalho ajudará a rejuvenescer o seu cérebro.
Ao organizar o seu dia com esses princípios em mente, você terá um dia renovado e melhorado, esculpido para administrar a sobrecarga de informação. Há muitas outras maneiras de incorporar o desfocar estratégico em seu cotidiano. Para iniciar esse exercício, basta dividir o seu dia de trabalho em segmentos de 45 minutos, com intervalos de 15 minutos entre eles. Pratique atividades físicas no início ou final do dia. Durante a primeira pausa, inicie com a filtragem proativa. Em todas as outras pausas, faça um exame de consciência para ver se alguma coisa está perturbando você. Use a filtragem reativa (“TMI”) e a substituição de pensamentos (negativos por positivos) o quanto antes. Quando você começar a se sentir sobrecarregado, faça uma caminhada para produzir sinapses ou use o controle de feedback local. Pratique essas técnicas com frequência e você provavelmente aumentará a eficiência do seu cérebro de forma significativa, o que também poderá melhorar a qualidade do seu tempo livre em casa.
______________________________________________________________
Srini Pillay, M.D. é coach executivo e CEO da NeuroBusiness Group. É também empreendedor e inovador na área de tecnologia, atuando nos setores da saúde e do desenvolvimento de lideranças, além de premiado autor. Seu último livro é “Tinker, Dabble, Doodle, Try: Unlock the Power of the Unfocused Mind”. Além disso, é professor assistente na Faculdade de Medicina de Harvard e leciona nos Programas de Educação Executiva da Harvard Business School e da Duke Corporate Education. É membro de think tanks de renome internacional.
______________________________________________________________
Tradução: Thiago G. Lelis
Fonte: HBR