Se você é como nós, eventualmente acaba trabalhando aos fins de semana e sendo
criticado por alguém (seu cônjuge, um amigo, um colega de trabalho) que acha
muito errado gastar qualquer momento do fim de semana realizando atividades
relacionadas ao trabalho. Será que eles têm razão? Achamos que a crítica pode
ter algum fundamento. E, na posição de cientistas, procuramos dados empíricos
que poderiam nos ajudar a entender esse fenômeno (e nós mesmos). Descobrimos que
trabalhamos assim por uma razão muito simples: gostamos de trabalhar.
Acreditamos que, dessa forma, somos altamente produtivos. Mas nossa pesquisa
revela que, às vezes, trabalhamos demais, o que nos prejudica bem mais do que
imaginamos. Vamos explorar um pouco mais nossas conclusões.
Uma razão para trabalharmos aos fins de semana é que ficamos satisfeitos ao nos
sentirmos produtivos. Em um estudo recente, um de nós (Francesca) questionou um
grupo de cerca de 500 colaboradores para pensar sobre esse tema e descrever suas
experiências: em que momentos nos sentimos produtivos no trabalho, muito
ocupados, improdutivos ou não tão atarefados. Quando as pessoas escreveram sobre
os momentos em que se sentiram produtivos, reportaram sentir-se em seu auge e
felizes com sua vida – mais do que em qualquer outra condição. É por nos
sentirmos produtivos, e esses resultados comprovam tal afirmação, que
acreditamos que estamos fazendo alguma diferença no mundo.
Mas a pesquisa sugere também uma outra resposta para trabalharmos quando
deveríamos pegar leve: tendemos a renegar o ócio a fim de trabalhar para
ganharmos mais do que precisamos. Em uma série de estudos de laboratório,
Christopher K. Hsee, da Chicago University e seus colaboradores mostraram que
isso é verdade, quando eliminaram os prováveis motivos que os participantes da
pesquisa poderiam buscar mais do que precisam, como a imprevisibilidade quanto
ao futuro e o desejo de deixar alguma coisa aos outros.
Em um estudo, participantes receberam um pedaço de chocolate para ouvir um som
estridente por um determinado número de vezes. Eles poderiam continuar a ouvir o
barulho e ganhar o quanto de chocolate quisessem em um período de cinco minutos,
com um porém: poderiam comer a quantidade que conseguissem nos próximos cinco
minutos, mas teriam de devolver o que não consumissem ao fim desse período.
Os participantes se dividiram em dois grupos: os altos ganhadores e baixos
ganhadores. No primeiro caso, as pessoas receberam o chocolate por ouvir o
barulho por poucas vezes; e o segundo grupo ouviu o barulho com uma frequência
maior para ganhar um pedaço do doce. Os resultados? Os que ganharam mais, em
média, conseguiram três vezes mais chocolates do que poderiam comer em cinco
minutos. Além disso, os que mais acumularam escolheram ganhar mais chocolates
pois, previamente, estimaram que poderiam comer no período citado. Em outras
palavras, eles voluntariamente se auto submeteram à dor para ganhar mais doces
do que acreditavam que seriam capazes de comer e, como resultado, tiveram de
devolvê-lo.
Não houve diferenças na quantidade de vezes que os que mais ganharam escutaram o
som estridente. Então, somente os que mais acumularam acabaram o experimento
sofrendo desnecessariamente. Os que ganharam menos adquiriram menos chocolate do
que estimaram ser capazes de consumir. O sugerido pelos resultados é que as
pessoas tentarão ganhar muito mais do que podem, indiferentes ao quanto serão
recompensadas. O desejo de ganhar não se baseia em quanto querem ou precisam,
mas em quanto trabalho podem realizar ou suportar.
Agora, você pode estar pensando que, para muitas pessoas, trabalhar não é
desgastante. E essa afirmação procede (ao menos na maioria dos dias). Quando
você ama o que faz, qual o problema de trabalhar aos fins de semana?
Para obter essa resposta, voltamos à pesquisa. Sabemos que nossos recursos
cognitivos são uma fonte escassa que se esgota e deve ser reabastecida de tempos
em tempos. Recursos cognitivos são importantes, por nos permitirem controlar
nossos comportamentos, desejos e emoções.
O outro integrante da dupla que vos escreve(Brad), conduziu uma pesquisa em
parceria com Hengchen Dai e Katherine Milkman (ambas da Wharton School of
Business) e Dave Hoffman (da University of North Carolina) a fim de examinar
potenciais desvantagens em esgotar nossos recursos cognitivos ao trabalhar além
da conta. Usando dados coletados de 4157 cuidadores em 35 hospitais
norte-americanos ao longo de três anos, a equipe descobriu que o ato de lavar as
mãos no trabalho diminuiu em média 8,7% do começo ao fim da análise em uma carga
horária comum de 12 horas. A queda observada foi maior em dias que o trabalho do
cuidador foi mais intenso (em um dia em que visitou-se mais pacientes, por
exemplo). Assim como exercícios repetitivos podem levar a uma fadiga muscular, o
uso contínuo de recursos cognitivos conduz a uma queda na capacidade que um
indivíduo tem de se autorregular. Ficar mais tempo desligado do mundo
aparentemente é capaz de restaurar tais recursos: os indivíduos analisados
seguiram o procedimento citado mais cautelosamente após pausas maiores.
Trabalhos mais exigentes tem o potencial de energizar e motivar os
colaboradores, mas a pressão a que estão submetidos pode fazê-los focar mais em
manter o desempenho de suas tarefas principais (por exemplo examinar pacientes,
distribuir remédios) e menos nas outras tarefas, sobretudo nas que já estão
cansados de fazer. Para cuidadores de hospital, lavar as mãos pode ser visto
como uma tarefa com menor importância, o que os permite deixar de seguir manuais
de higienização das mãos ao longo da jornada de um dia.
De fato, a diminuição de nossos recursos cognitivos pode tornar mais difícil
seguir nosso
próprio senso de moral. Em uma série de estudos conduzidos por Francesca, onde
os recursos cognitivos dos participantes foram depreciados, eles tendiam a
trapacear e apresentar comportamentos desonestos em uma variedade de tarefas se
comparado aos que estavam em condições normais.
Nossa paixão pelo trabalho e a satisfação que obtemos em nos sentir produtivos
pode explicar por quê eventualmente trabalhamos aos fins de semana, mas ainda
assim precisamos ter nossos momentos para recarregar as baterias. Tony Schwartz,
CEO da Energy Project e autor do livro “The way we’re working isn’t working”,
oferece alguns bons conselhos sobre esse assunto: aplicar uma “intencionalidade
intensa” no que fizermos pode beneficiar tanto nossa vida profissional como
pessoal. Quando estiver trabalhando, certifique-se de que você está realmente
trabalhando; e quando você estiver renovando as forças, tenha certeza que você
realmente está relaxando.
Francesca Gino é professora na Harvard Business School, faculdade associada ao
Behavior Insights Griup, e autora de Sidetracked: Why ou decisions get derailed,
and how we can stick to the plan (Editora Harvard Business Review, 2013). Ela
lidera um programa de educação executive da HBS que aplica economia
comportamental em problemas organizacionais.
Bradley Staats é professor associado da Flagler Business School da University of
North Carolina.