Quando me formei na faculdade em 1995, a última coisa que imaginava era que me tornaria um gestor de UX design, na época uma área relativamente nova, na qual buscávamos garantir que clientes e usuários de nossos sites, aplicativos e programas tivessem facilidade em acessar nossos serviços. Meu sonho era ser músico profissional – uma estrela do rock –, e por vários anos persegui esse objetivo.
Consegui um estágio de seis meses no Soundtrack Studios, em Nova York, e de cara percebi que os estagiários faziam basicamente tudo o que os outros não queriam fazer. Eu trabalhava 50 horas semanais e recebia $150 por semana pelo meu tempo. À medida que aprendia mais sobre o setor de produção musical, descobri que a carreira era brutal, as oportunidades de emprego, escassas e o salário, minúsculo. Os assistentes de engenheiro de som – que estavam no ramo há anos – ganhavam reles US$6 por hora na época. Para mim, isso parecia insustentável. Foi então que decidi deixar meu sonho de músico profissional para trás e buscar uma nova carreira.
Arrumei um emprego em uma empresa chamada iXL como desenvolvedor front-end e designer gráfico. O desenvolvimento front-end em 1999, no auge da onda das ponto com, consistia, basicamente, em ser capaz de soletrar “HTML”. À medida que o trabalho evoluía, comecei a ler alguns livros que mudaram minha forma de encarar as coisas. Um livro em particular, “Information architecture for the World Wide Web”, de Louis Rosenfeld e Peter Morville, mudou completamente minha vida. Sou grato por ter tido a oportunidade de conhecer os dois autores do livro ao longo dos anos. Esse livro me colocou no caminho certo para me tornar um designer de UX e um designer de interação, e minha carreira começou a avançar nessa nova direção.
Passei por vários empregos durante a bolha das ponto com – foram tempos turbulentos, mas tive muita sorte. Eu venho de uma família de classe média dos arredores de Nova Jersey, tive pais que me apoiaram e recebi uma boa educação. Sempre consegui passar de um emprego a outro. Trabalhei na AOL por alguns anos e aprendi muito sobre o trabalho de um designer. Progredi ao ponto de montar uma equipe de design em uma empresa na Costa Oeste chamada Webtrends, que na época era a líder entre os provedores de análise web. Depois disso parti para Nova York, onde arrumei trabalho como responsável por montar e chefiar uma equipe de design na TheLadders, uma empresa online de busca de empregos para executivos.
Porém, às vésperas de completar 35 anos, tive um momento de pânico. Eu não conseguia imaginar como seria a segunda metade da minha vida profissional em termos de plano de carreira, salário, realização, enfim – tudo. O que eu podia esperar do futuro? Afinal, quanto mais degraus você sobe na carreira, menos opções restam – é apenas a natureza do jogo corporativo. Há pouquíssimos cargos de diretor de design C-Level.
Isso me fez refletir sobre como garantimos que nossos esforços, planos de carreira e viabilidade como membros importantes de organizações, comunidades e disciplinas se mantenham ao longo de nossa carreira. A resposta que encontrei foi relativamente simples. O trabalho para chegar até ela, nem tanto. É um conceito que chamo de para sempre empregável (o mesmo nome do meu novo livro) e que consiste no contínuo compartilhamento e redirecionamento de sua experiência, paixão e conhecimento para criar uma plataforma de liderança inovadora em torno de si. Ao se tornar um especialista reconhecido em seu domínio ou disciplina escolhida, você reverte o fluxo de leads e oportunidades de emprego. Em vez de você ter de procurá-los, eles vêm até você.
Tornar-se para sempre empregável não significa necessariamente sair do seu emprego. O conceito é igualmente aplicável àqueles que pretendem manter o emprego em uma empresa por um longo prazo e para aqueles que desejam prestar consultoria ou se tornarem autônomos.
Existem cinco conceitos principais que considero cruciais para ter em mente ao pensar sobre a segunda metade de sua carreira e construir esta plataforma:
Empreendedorismo. Nunca me considerei um empreendedor. É bem provável que você também não se veja dessa maneira. Porém, cheguei em um momento de transição que me obrigou a adotar uma mentalidade empreendedora e a me colocar e transmitir minhas ideias de forma proativa a fim de atrair oportunidades, conquistá-las e transformá-las em empreendimentos de sucesso. Esta é sua vida, seu negócio, seu emprego. Por isso, você tem de pensar sobre esse desafio como um empreendedor. Quem é meu público-alvo? Que problemas posso ajudar a resolver? Qual é a maneira mais eficaz de fornecer meu serviço a eles? Essas perguntas o colocam no caminho da construção de uma “startup” centrada em você.
Autoconfiança. Compartilhar sua experiência pode ser intimidante. Afinal, o que ainda não foi explorado no campo de gestão, marketing, vendas e transformação digital? Pode parecer que o assunto se esgotou, mas há uma história que ainda não foi contada: a sua. Suas singulares experiências de vida, os diversos caminhos que levaram à sua condição atual e os obstáculos que você superou constituem o núcleo de sua plataforma de experiência recém-descoberta. Ninguém mais tem isso. Lembre-se de explorar o filão profundo de habilidades e conhecimentos que lhe são exclusivos. Quando você chegar em um ponto crucial da sua vida, saiba que você tem algo único a oferecer – algo que ninguém mais possui. Identifique, assuma, e incorpore essa experiência. Sua experiência tem valor, seu conhecimento tem valor e você tem algo valioso a acrescentar à conversa. Ninguém tem a sua história. Tenha confiança naquilo que você conhece e se apoie nesse conhecimento ao assumir novos projetos.
Aprendizado contínuo. Tudo está mudando o tempo todo. A única maneira de se manter atualizado – ou melhor, ficar um passo à frente – é continuar aprendendo. Você aprende continuamente lendo blogs e livros, ou ouvindo podcasts e áudio livros criados por pessoas que podem ajudar a iluminar sua jornada; conversando com pessoas que podem explicar o que fizeram para alcançar o sucesso que desejavam na vida; construindo comunidades de experiência e prática em torno de si, e constantemente explorando e testando novas experiências. Às vezes, suas tentativas terão sucesso; outras, não. Mas, desde que você aprenda algo a cada vez, sua experiência não terá sido em vão. Mantenha viva sua curiosidade. Tenha a mente sempre aberta às possibilidades que se apresentam para você. Experimente constantemente, aprenda com os resultados e tente de novo. Como meu instrutor de esqui costumava dizer: “Se você não cair, não vai aprender”.
Progresso contínuo. Se você tem aprendido continuamente e aplicado os resultados de suas experimentações à sua plataforma, sempre vai melhorar e progredir em tudo o que escolheu para se tornar para sempre empregável. Em seu popular TED Talk, Astro Teller, capitão de Moonshots do X (o laboratório de inovação do Google), explica que você deve manter o ceticismo entusiasmado em relação a tudo o que fizer. Em outras palavras, você deve sempre descobrir a melhor maneira de fazer algo. “O ceticismo entusiasmado não é inimigo do otimismo ilimitado”, salienta. Na verdade, é seu parceiro ideal. Não importa se você acredita ser um dos melhores na profissão que escolheu, manter o ceticismo entusiasmado significa que você está sempre procurando a melhor maneira de desempenhar seu trabalho. De fato, você está animado para encontrar essa maneira. O que você pode aprender com outros profissionais de sua área que obtiveram sucesso? E quanto aos líderes de outras áreas? O que eles fizeram para construir suas plataformas e o que você pode aplicar à sua?
Reinvenção. Essencialmente, tornar-se para sempre empregável tem tudo a ver com se reinventar. Eu comecei como designer, depois passei a gerente de design e estava prestes a me tornar um gerente de design top – ou pelo menos esse era o caminho que eu estava trilhando. Mas, por causa da experiência que passei a compartilhar, outras oportunidades surgiram em minha vida. Com a ajuda e o apoio da minha família, eu estava preparado para agarrá-las. Desde então, tenho me reinventado permanentemente. Nada é estático, e hoje o ritmo das mudanças é mais intenso do que nunca. Quase uma década atrás, a Amazon atualizava sua base de código a cada 11,6 segundos – basicamente, a empresa reinventava a maneira de atender os clientes cinco vezes por minuto. Em 2015, a Amazon ficou mais rápida – muito mais rápida – com atualizações do seu código a cada segundo. Imagine qual é esse número hoje. Em 2018, a Google revelou que executa mais de 500 milhões de testes por dia, o que equivale a mais de 4 milhões de relançamentos de sistemas existentes e novos todos os dias. Esse é o ritmo moderno de mudança. Se você deseja permanecer para sempre empregável, precisa estar pronto para se reinventar periodicamente. E isso vem ocorrendo em ciclos cada vez mais curtos.
Reorganizações ocorrem com frequência. Demissões também. A Covid-19 acabou com setores inteiros. Todos os anos, inovações tecnológicas substituem profissionais por sistemas automatizados. Isso não significa que deixamos de ser úteis, bem-sucedidos e viáveis no mercado de trabalho. No entanto, ser para sempre empregável significa que você deve conhecer bem o caminho que está trilhando e estar preparado para agir – imediatamente e sem hesitação – quando a oportunidade certa se apresentar. Com base em sua experiência, um conhecimento amplo e atual de seu campo de atuação e uma rede cada vez maior em que confiar, é garantido que o próximo trabalho virá até você.
Jeff Gothelf ajuda organizações a criar produtos melhores e executivos a construir culturas que criam produtos melhores. Gothelf é coautor do premiado livro “Lean UX” e do “Sense & respond”, da Harvard Business Review Press. Ele trabalha como coach, consultor e palestrante, ajudando empresas a reduzir a distância entre agilidade empresarial, transformação digital, gestão de produtos e design focado no ser humano. Seu livro mais recente, “Forever employable”, foi publicado em junho de 2020.
Fonte HBR