O salto. Aquele momento repleto de euforia em que você tem uma ideia para um negócio, mas comprometer-se integralmente significa assumir grandes riscos. Começar uma startup do zero pode lhe deixar vulnerável – emocional e financeiramente –, em especial para quem não possui uma rede de segurança. E, neste momento inquietante em meio à crise da COVID-19, devemos considerar que as condições econômicas podem não ser favoráveis para aqueles que tentam bancar seu próprio negócio ou sair de um emprego fixo. Ao mesmo tempo, muitas pessoas estão sendo demitidas neste momento; então, talvez, o momento certo seja agora. Mas, em qualquer clima, se você não der o salto, o sonho da autonomia talvez nunca chegue a se realizar. Pode ser que agora, mais do que nunca, precisemos de mais espíritos empreendedores.
Independentemente se a ideia para um negócio é genial ou se o fundador é dotado de grande determinação, muitas startups estão destinadas ao fracasso. A partir de minha própria experiência fundando e fazendo prosperar a Schmidt’s Naturals em minha própria cozinha até sua aquisição pela Unilever, superando obstáculos que quase minaram o sucesso da empresa, aprendi alguns princípios básicos que os empreendedores podem seguir e que vão ajudar a garantir a viabilidade de seu próprio negócio:
Comprometa-se – primeiro consigo mesmo, e depois, com a empresa
O empreendedorismo requer amor pelo trabalho que você vai desempenhar. Se você não se dedicar de corpo e alma, chegará apenas até certo ponto. Priorize um diálogo interior honesto e deixe espaço para se adaptar à medida que cresce. Pergunte-se: se meu plano realmente der certo, estou disposto a permanecer nessa área por bastante tempo?
Se você ainda não definiu sua ideia de negócio, mas sabe que o empreendedorismo é o caminho certo para você, precisará determinar onde estão suas verdadeiras paixões. Isso pode exigir certo nível de exploração. Depois da faculdade, rapidamente me vi galgando os degraus corporativos em um cargo promissor na área de RH em Chicago. Eu estava confortável com minhas finanças e benefícios, mas me sentia insatisfeita e queria mais autonomia e criatividade no trabalho. Sabendo que o RH não seria o caminho definitivo para mim, levantei acampamento e me mudei para Portland, onde embarquei em um exame de consciência, determinada a descobrir minha paixão e sentido, bem como minhas habilidades inexploradas.
Depois de experimentar uma série de hobbies e projetos pontuais (tudo, desde escultura em madeira a design de interiores até tentar cultivar esponjas de banho), finalmente descobri o que queria fazer, aos 31 anos, e grávida de 7 meses: participei de uma aula de bricolagem que despertou minha paixão pela fabricação e venda de produtos naturais para cuidados pessoais. Eu sabia que estava pronta para assumir um novo compromisso – desta vez, uma vida de empreendedora.
Oriente-se por suas capacidades: desenvolva habilidades e confiabilidade
Depois que sua ideia de negócio se cristalizou, é essencial buscar experiências de aprendizado para expandir sua base de conhecimento. Comece pesquisando o setor em que deseja ingressar, bem como o cenário competitivo, para entender como se diferenciar. Teste ideias com amigos e familiares, cujas reações podem servir como um termômetro. Ofereça-se em organizações em sua área de interesse para obter alguma experiência prática. Escreva e publique conteúdo para se estabelecer como uma referência em seu novo setor. Estabeleça suas redes e participe de eventos do setor.
Em 2010, quando fundei a Schmidt’s, priorizei projetos pontuais que fossem relevantes para meu negócio: formulei e fabriquei produtos de marca própria para um spa local, criei kits de cuidados pessoais do tipo faça-você-mesmo para um site de e-commerce, estagiei em uma loja de ervas e, até mesmo, trabalhei como caixa em um mercado local, onde pude ver como os clientes interagiam com meu produto nas prateleiras.
Entenda que, depois de abrir seu próprio negócio, sua curva de aprendizado e sua jornada estão apenas começando. E, de fato, à medida que sua startup cresce, você se verá na obrigação de se aventurar cada vez mais longe da sua zona de conforto, aproveitando seus conhecimentos e habilidades de liderança, além de se arriscar no complexo cenário dos financiamentos.
Como bancar seu negócio: equilibre os resultados
Para os bem conectados e bem-nascidos, é a parte mais fácil. Para o resto de nós, é a parte mais complicada. Com minha empresa, a Schmidt’s Naturals, eu mesma arquei com todos os custos – em outras palavras, investi todo meu dinheiro – o que exigiu que eu mantivesse empregos paralelos até que a empresa estivesse financeiramente estável o suficiente para se manter por conta própria. Se algo tivesse dado muito errado, teria sido o fim da empresa. Até houve momentos em que a Schmidt foi ao limite. Sou eternamente grata por minha saúde e capacidade de bancar a fase inicial da empresa com o dinheiro que ganhei com meus projetos pontuais.
Essa capacidade de se erguer com seus próprios esforços não é para todo mundo, mas é importante que você possa obter os meios financeiros adequados para ter uma empresa lucrativa. Seja por meio de dívida, capital próprio ou financiamento com base na receita, ou com um sócio ou cofundador, sua empresa não sobreviverá sem fluxo de caixa. Nem sobreviverá se você se apressar e fechar o acordo de financiamento errado.
No cerne de cada opção para financiar seu negócio está a quantidade de risco que você está disposto a correr e a quantidade de garantias necessárias para cumprir sua visão. Riscos mais altos significam chances reduzidas de sucesso, mas algumas tentativas valem a pena. No fim das contas, você deve se perguntar: “O que ‘apostar tudo’ realmente significa para mim?”
Cultive uma vida integrada: estruture-se para ser sustentável
Sua capacidade de fazer o empreendedorismo “se encaixar” às outras peças da sua vida talvez seja a parte mais difícil. Simplificando, não é fácil lidar com demandas que nos distraem, vindas de amigos, da família e do nosso próprio prazer pessoal. Buscar o máximo de intencionalidade e flexibilidade possível ao integrar sua startup ao seu estilo de vida lhe ajudará a proteger sua saúde mental e a isolar seus relacionamentos do estresse externo.
Quanto à família, tente criar rotinas para os fins de semana, as refeições e a hora de dormir. Priorize os eventos familiares e com amigos na agenda e tente evitar conversas intensas de negócios em casa. Mas também não as evite por completo. Aproveitar sua rede para obter feedback não é apenas útil, como também pode ser divertido. Tente envolver outras pessoas nos aspectos mais divertidos dos negócios, como o desenvolvimento de produtos ou o marketing. Ser empreendedor pode criar uma sensação de isolamento, por isso encontrar maneiras de trazer outras pessoas para o seu meio é uma forma de construir uma ponte para um mundo mais amplo.
No início, a balança pode pender mais para um lado – e tudo bem. Em 2010, joguei-me à maternidade e ao empreendedorismo ao mesmo tempo. Em vez de tentar manter limites rígidos, como horários de trabalho inflexíveis, encontrar maneiras de integrar essas duas identidades foi o que propiciou flexibilidade e realização pessoal que beneficiaram as duas funções. Enquanto meu filho recém-nascido, Oliver, cochilava, eu trabalhava silenciosamente na cozinha, fabricando meus produtos no fogão ou negociando por telefone ou por e-mail com distribuidores. Quando eu buscava ingredientes ou enviava os pedidos pelo correio, levava Oliver junto. E quando oferecia meus produtos nas lojas, entrava com ele em um braço e uma caixa de produtos no outro. Mal não fazia ter um filho bonitinho quando eu fechava uma venda, e eu curtia cada segundo de tê-lo comigo.
Apesar de todas as dificuldades, vale a pena ser empreendedor – pelo menos para aqueles como eu, que amam o imprevisto, não se incomodam em passar algum vexame de vez em quando e se empolgam ao enfrentar desafios intermináveis. É uma experiência divertida, conturbada e um pouco perigosa.
Se você em dúvida se isso é para você, mas chegou até aqui – quero incentivar você a dar o salto. Se você não tentar, nunca vai saber.
Jaime Schmidt é autora de “SUPERMAKER: Crafting business on your own terms (Chronicle Prism) e fundadora e ex-CEO da Schmidt’s Naturals, que foi adquirida pela Unilever em 2017. Hoje, como investidora do seu fundo Color e através de sua empresa de mídia Supermaker, Schmidt busca promover empreendedores emergentes e sub-representados.
Fonte HBR