Imagine que sua equipe irá se reunir para decidir sobre a continuidade de uma campanha de marketingcara. Passados alguns minutos, é possível ver que ninguém tem os números em mãos para decidir. Você interrompe e pede à Alexa, a assistente virtual da Amazon, para lhe dar as informações: “Alexa, quantos usuários conseguimos transformar em clientes no mês passado com a Campanha A?” e ela lhe dá a resposta. Você acaba de ampliar a inteligência da sua equipe por meio da IA. No entanto, isso é apenas a ponta do iceberg.
A amplificação de inteligência é o uso da tecnologia para aumentar a inteligência humana. Além disso, uma mudança de paradigma está próxima, quando novos dispositivos irão oferecer maneiras menos invasivas e mais intuitivas de ampliar nossa inteligência.
Dispositivos de áudio ou fones de ouvido sem fio são exemplos de dispositivos para amplificação de inteligência que começaram a ser usados recente e rapidamente. Um exemplo disso são os AirPods da Apple – fones de ouvido pequenos que se conectam com aparelhos Apple e interagem com a Siri por comandos de voz. A Apple também entrou com pedido de patente para fones de ouvidos que contêm sensores biométricos capazes de gravar informações, como a temperatura corporal, os batimentos cardíacos e os movimentos do usuário. De maneira semelhante, os Pixel Buds da Google dão aos usuários o acesso direto ao Google Assistant e ao seu potente gráfico de conhecimento. De maneira similar, o Google Assistant conecta os usuários às informações contidas nas plataformas da Google, como e-mail e agenda. Ele também fornece aos usuários recomendações extremamente personalizadas, ajuda a automatizar a comunicação pessoal, e descarta tarefas monótonas como cronometrar, criar listas e controlar aparelhos com IoT (Internet das coisas).
A tecnologia disponível no mercado possibilita às pessoas uma gama de capacitações, inexistentes há uma década, porém há espaço para melhorias e ajustes. O poder e a predominância dos smartphonesfazem com que as pessoas amplifiquem a inteligência facilmente, ainda que o uso desses aparelhos incomode. É muito frequente ver as pessoas em público, totalmente compenetradas na telinha em suas mãos, não prestando atenção à sua volta, ou até mesmo ver pessoas em público pegarem o telefone para verificar as notificações ou terminar uma busca. Dispositivos de áudio e aparelhos comandados por voz permitem que o usuário busque informações e complete tarefas sem precisar olhar na tela do aparelho, embora esses dispositivos sejam menos discretos do que os smartphones. É preciso fazer perguntas e dar comandos em voz alta, o que pode incomodar ou impossíveis de fazer em certas situações Essa falta de discrição diminui o impacto das interfaces de amplificação de inteligência ativadas por voz, pois limita os contextos nos quais elas podem ser usadas. A necessidade de um dispositivo amplificador de inteligência que incomode menos do que os smartphones e que seja mais discreto do que a interface de voz é nítida. Muitos profissionais de tecnologia e empreendedores estão trabalhando para criar o próximo aparelho revolucionário com amplificador de inteligência que irá resolver os problemas apresentados por seus antecessores, permitindo aos usuários um acesso ininterrupto aos sistemas avançados de IA.
A próxima geração da Amplificação de Inteligência
Estamos rapidamente chegando num mundo onde a IA irá ajudar a potencializar nossa inteligência humana e as interações, de maneira singular.
Vejamos o AlterEgo, um projeto desenhado pelo laboratório de mídia do MIT. É um dispositivo que utiliza reconhecimento de voz silencioso, também conhecido como articulação interna, para medir os sinais elétricos que o cérebro envia para os órgãos internos da fala. O AlterEgo é um aparelho não-invasivo colocado ao redor da orelha, passando pela linha da mandíbula. Os sinais mensurados fazem parte do sistema nervoso voluntário, fazendo com que os usuários tenham que, intencionalmente, pensar que estão proferindo palavras para acionar o dispositivo – uma característica que o distingue de outras interfaces cérebro-computador (ICC), capazes de receber estímulos diretamente do cérebro. O AlterEgo transforma os sinais silenciosos em comandos para controlar outros sistemas, tais como dispositivos IoT e alinhar informações advindas, por exemplo, de uma busca do Google. O usuário é capaz de controlar o dispositivo sem precisar – literalmente – abrir a boca, e sem qualquer movimento perceptível externo. Somente é preciso pensar nas palavras que usaria para falar com a Siri se estivesse utilizando um microfone para falar em voz alta. O usuário, então, recebe a informação solicitada, por áudio. (O AlterEgo utiliza o áudio por meio dos ossos para enviar as respostas ao usuário, completando o ciclo de informação, discretamente e de maneira silenciosa). A interação completa é totalmente interna para o usuário – como se ele estivesse falando consigo mesmo. Os criadores do AlterEgo esperam que esse circuito fechado e silencioso da informação transforme as interações entre as pessoas e a tecnologia em algo invisível e discreto.
Arnav Kapur, doutorando no MIT e líder do projeto AlterEgo, descreveu sua percepção numa entrevista recente: “O ato de falar não é particular, mas você tem total controle sobre isso. O ato de pensar, no entanto, é extremamente individual, mas às vezes você não tem controle absoluto sobre todo seu pensamento. Estamos tentando criar algo entre essas duas extremidades do espectro, mas que traga o que há de melhor nesses dois ‘mundos’.”
Obviamente, Kapur e toda a equipe do AlterEgo estão engajados em propiciar aos usuários uma experiência positiva ao equilibrar o seu acesso individual discreto e o controle pessoal das informações privilegiadas. Kapur ainda afirma que, “Refletimos muito sobre as questões éticas, por essa tecnologia ser usada livremente; o usuário tem controle sobre ela o tempo todo e ela não é invasiva. A privacidade não é alguma coisa secundária.”
Os dispositivos de realidade aumentada representam outra tentativa interessante para a amplificação de inteligência moderna. O Google Glass, os óculos inteligentes que não tiveram sucesso no mercado, está atualmente sendo utilizado nos meios empresarial e industrial. Por exemplo, empregadores como a GE estão implementando uma tecnologia para a utilização dos óculos a fim de aumentar a eficiência nos seus depósitos e a de seus funcionários. Especialistas da GE puderam seguir instruções sobrepostas no seu campo de visão para aumentar a produtividade e reduzir o número de errosenquanto utilizavam ou reparavam as máquinas de produção.
Existe, também, uma oportunidade para alavancar os dados dos usuários que são obtidos por esses novos dispositivos, para elaborar novas experiências altamente personalizadas. Pattie Maes, consultora e professora do MIT para o AlterEgo, afirma que “os sistemas que conhecem o usuário – o estado mental e emocional, bem como suas intenções – serão, no final das contas, menos invasivos e mais úteis, pois podem personalizar a informação solicitada para cada situação.” Muitas áreas de negócio já estão pensando em como os insights da IA serão usadas pelas empresas que estão criando dispositivos dotados de inteligência amplificada. A futurista Amy Webb alerta que grandes empresas – como a Amazon – serão capazes de enorme influência sobre seus clientes para, por exemplo, vender medicamentos àqueles que acreditam estar doentes ou deprimidos..
Como se preparar para a próxima geração do computador pessoal
Há uma imensa oportunidade para os líderes empresariais criarem valor com tecnologia de amplificação de inteligência.. A cada novo dispositivo, há uma diminuição da barreira existente entre o conhecimento do indivíduo e o da empresa, oferecendo uma nova plataforma onde as empresas podem criar aplicativos para se conectarem aos clientes, colaboradores e parceiros. Dispositivos amplificadores de inteligência serão os principais meios pelos quais as pessoas irão interagir com o mundo. Assim, os líderes e os stakeholders devem planejar como a empresa irá receber as próximas mudanças na computação pessoal.
O planejamento e o desenvolvimento das experiências para os dispositivos com inteligência aumentada irão precisar de mais competências técnicas e maior colaboração entre disciplina. Os analistas de dados, pesquisadores, designers e engenheiros precisarão entender a tecnologia que potencializa os dispositivos de inteligência amplificada para criar aplicativos inovadores e úteis que alavanquem a IA adequadamente.
À medida que os consumidores e os colaboradores incorporam seu dia a dia na era digital com novos dispositivos de inteligência amplificada, as empresas precisam levar em consideração e saber lidar com todos os assuntos relacionados à transparência de dados, privacidade e autonomia. Esses temas já ocupam o primeiro lugar na ciência e na preocupação do usuário visto que já houve muitas quebras de sigilo de dados de grande repercussão ao longo dos últimos anos. Os consumidores estão bastante cautelosos quanto a fornecer dados pessoais a grandes empresas que podem eventualmente usá-los para controlar os consumidores ou vendê-los para outras empresas que tenham a mesma intenção. Como mais e mais dados pessoais são constantemente obtidos por meio desses dispositivos – e a IA consegue deduzir mais informações sobre o consumidor – todo mundo está mais vulnerável. As empresas devem se preocupar mais em criar confiança nos seus consumidores por meio da transparência de dados, priorizando a privacidade e a autonomia ao desenvolver e implementar tecnologias mais personalizadas e de inteligência amplificada.
Muitas empresas já estão aumentando seu quadro de funcionários utilizando a IA nas áreas de comunicação, vendas, suporte e tomada de decisão. Alguns especialistas acreditam que a amplificação de inteligência pode ser um antídoto para a perda de empregos por conta da automação, ao tornar as pessoas indispensáveis. Pelo fato de a amplificação de inteligência ser construída sobre a inteligência humana e tudo o que a engloba, esta pode ser vista como algo mais potente do que a IA por si só. Já chegou a hora de os líderes e stakeholders pensarem em como adentrar nessa nova era da computação pessoal.
Lauren Golembiewski é CEO e Cofundadora da Voxable, uma agência que elabora e desenvolve chatbots e interfaces de voz. Ela aconselha as empresas – desde as classificadas na Fortune 10 até startups – sobre como devem alavancar a IA de maneira eficaz para comunicar e capacitar clientes e colaboradores.
Fonte HBR