Pesquisas mostram que equipes com diversidade cultural podem ajudar a gerar melhores resultados nas empresas. Isso é, em grande parte, algo bom: diversas equipes têm o potencial de serem mais criativas graças à variedade de informações, ideias e perspectivas que seus integrantes podem apresentar. Mas essas equipes geralmente são prejudicadas por normas conflitantes e suposições diferentes entre os integrantes, o que pode impedi-las de atingir seu pleno potencial criativo. Quando os gestores não sabem como identificar essas situações e lidar com elas, a diversidade cultural pode, na verdade, prejudicar o desempenho criativo de uma equipe.
Minha pesquisa, publicada recentemente na Organization Science, demonstra que a corretagem cultural constitui um fator-chave que permite às equipes multiculturais capitalizar os benefícios da diversidade e, ao mesmo tempo, minimizar as dificuldades. Defino corretagem cultural como o ato de facilitar as interações de grupos de diferentes origens culturais. Em dois estudos – um de arquivo realizado com mais de 2.000 equipes multiculturais e um experimento envolvendo 83 equipes com diferentes composições culturais – descobri que as equipes eram significativamente mais criativas quando contavam com um ou mais integrantes que atuavam como corretores culturais.
Mas quem são esses corretores culturais? São membros da equipe que têm uma experiência relativamente mais multicultural do que os demais, e atuam como ponte entre seus colegas que não têm bagagem cultural diversa. Esses corretores têm dois tipos de perfil. O primeiro tem experiências multiculturais que se relacionam diretamente às culturas a serem conectadas. Por exemplo, em uma equipe com membros predominantemente indianos e norte-americanos, o corretor cultural pode ser uma pessoa com experiência em cultura indiana e americana. Eu os chamo de integrantes culturais internos. O segundo tipo de corretor cultural é alguém com experiência em duas ou mais culturas não representadas na equipe, como a australiana e a coreana. Esses, eu denomino de integrantes culturais externos.
Descobri que os integrantes culturais internos e externos baseiam-se em suas origens culturais distintas em relação à equipe para se envolverem em diferentes tipos de corretagem cultural. No estudo experimental, os integrantes culturais internos usaram seu duplo conhecimento sobre as culturas de sua equipe para combinar informações e ideias dessas culturas. Em outras palavras, eles frequentemente propunham ideias que combinavam elementos de ambas as culturas. Já os integrantes culturais externos se posicionavam como terceiros imparciais para extrair informações e ideias das demais culturas representadas na equipe. Ou seja, faziam perguntas a outros membros da equipe e os convidavam a compartilhar conhecimentos culturais relevantes. Ambos tipos de corretagem cultural resultaram em uma melhora no nível de criatividade da equipe.
E o que isso representa para as empresas?
Antes de mais nada, essa pesquisa aponta que o simples ato de reunir pessoas de diferentes culturas e esperar que produzam resultados criativos não é o suficiente. Para que as equipes liberem todo o seu potencial criativo, é essencial ter pelo menos um integrante multicultural interno ou externo no grupo. Acredito que o corretor externo seja menos comum nas empresas, pois muitas pessoas pressupõem erroneamente que apenas aqueles com conhecimento cultural específico estão em posição de facilitar as interações culturais. No entanto, integrantes culturais externos conseguem impulsionar a criatividade da equipe tanto quanto os internos. Essa é uma ótima notícia especialmente para as equipes altamente diversificadas, nas quais é improvável que um único integrante cultural interno esteja presente.
Mas isso não significa que simplesmente designar alguém para ser um agente cultural baste. Uma designação formal não garante que uma pessoa seja eficaz; em vez disso, as organizações devem ter o cuidado de criar as condições para que a corretagem cultural se desenvolva. Lembre-se, ser corretor requer um esforço cognitivo e emocional significativo. Por isso, é mais provável que uma corretagem cultural efetiva surja em equipes com um grande senso de segurança psicológica. Além disso, são necessárias a participação e a adesão da equipe como um todo para o desenvolvimento da corretagem cultural, que tende a surgir em equipes que veem a diversidade como um recurso e uma fonte de aprendizado.
A colaboração em equipes multiculturais é um trabalho complexo e multifacetado. Embora esse tipo de trabalho possa ser desafiador, minha pesquisa indica que a compreensão da dinâmica da corretagem cultural é uma vantagem crucial na realização do potencial criativo de diversas equipes.
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Sujin Jang é professora assistente de Comportamento Organizacional no INSEAD. Sua pesquisa foca em equipes globais e nos desafios de trabalhar com equipes multiculturais.
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Fonte HBR