Ninguém gosta de um colega tóxico. É provável que até mesmo as pessoas mais difíceis concordem com isso.
Assim, cabe perguntar: se você fosse “tóxico”, teria consciência do fato? Será que você, na verdade, é quem realmente causa estragos na sua equipe, tornando todos menos produtivos e mais miseráveis?
Claro que não, você diz. Afinal, é isso que todos dizem.
As pesquisas, no entanto, traçam um quadro bem diferente: na maior parte do tempo, há uma sobreposição notavelmente pequena entre a forma como as outras pessoas nos veem e a impressão que imaginamos passar. (Há muitas boas razões para essa desconexão – em geral, têm a ver com as dificuldades envolvidas na percepção subjetiva).
Supondo que você prefira não ser odiado por seus colegas, mostramos aqui três maneiras pelas quais as pessoas inadvertidamente se tornam tóxicas, e algumas estratégias que você pode usar para evitar ser uma delas.
Problema: você parece ser frio.
O cérebro humano é configurado para tentar descobrir se os outros representam uma ameaça para nós – nossos relacionamentos, nossas carreiras, nosso bem-estar geral. Você vai criar problemas para mim? É isso que nós queremos saber (muitas vezes inconscientemente). Você vai ser competitivo, ou tentar me prejudicar?
As pessoas respondem essas perguntas sobre você avaliando o quão afetuoso você parece. Ser caloroso – simpático, atencioso e compreensivo – é tomado como prova de que você tem boas intenções para com o observador, e é a primeira coisa sobre você na qual elas prestam atenção.
Quando você é afetuoso, sua tendência de dizer às pessoas o que fazer é, mais provavelmente, vista por seus colegas como uma tentativa de ser “útil”; seu esquecimento, deixando um colega de trabalho fora de uma importante lista de e-mail, é “um descuido”; e seu temperamento irritado é o resultado de “muito stress.” Em outras palavras, quando as pessoas acreditam que você, em geral, olha por elas, você recebe o benefício da dúvida, e suas ações são interpretadas de forma mais generosa. E isso só acontece quando você é afetuoso.
O problema é que a maioria das pessoas, especialmente em ambientes de trabalho, pensam que causar uma boa impressão em seus colegas tem a ver, em primeiro lugar, com a competência. Em sua ânsia de demonstrar suas habilidades e talentos, eles negligenciam as demonstrações de afeto. (Na verdade, é pior do que isso – algumas pessoas inibem ativamente demonstrações de afeto na tentativa de parecer mais competente.)
Solução: Para aumentar seu quociente de afeto, faça uma tentativa consciente de prestar atenção às outras pessoas. Faça contato visual e o mantenha, tanto quando você está falando, quanto ouvindo. Resista ao impulso de olhar para o celular durante as reuniões. Pareça interessado. Acene de vez em quando para mostrar que você entende o que está sendo dito a você. Sorria, especialmente quando os outros o fazem. E acima de tudo, se concentre de verdade no que as outras pessoas estão dizendo – assim como você, seus colegas têm necessidade de se sentirem ouvidos.
Lembre-se que as pessoas não têm acesso aos seus pensamentos e sentimentos secretos – você precisa torná-los visíveis. Então, faça esse esforço para mostrar que você está do lado delas.
Problema: você parece ser egoísta.
Mas espere!, você diz. Eu dou duro pelos meus colegas. Eu faço mais do que as outras pessoas – e faço melhor.
Isso pode ser até verdade. Mas quanto tempo você realmente gasta pensando sobre seus colegas? Suas perspectivas? Suas batalhas? Você sabe quais são seus objetivos?
Se você não sabe muito sobre o que motiva seus colegas ou quais são suas esperanças e medos, você pode estar em apuros. Colegas de trabalho percebidos como “tóxicos” muitas vezes passam a impressão de que acham que são os donos do mundo, e que os outros estão lá por acaso. Não que você realmente acredite que isso seja verdade – mas, para ser “tóxico”, basta passar essa impressão. Isso pode acontecer mesmo que você esteja, simplesmente, focado no trabalho à sua frente, olhando pra baixo com as mãos no batente. Embora você possa se sentir como se fosse um mártir do trabalho, outras pessoas podem achar que você está acumulando trabalho, fazendo microgestão, ou que você tem dificuldade em delegar ou colaborar. Por não gastar muito tempo pensando sobre os outros ou tentando ver as coisas por uma perspectiva que não seja apenas a sua própria, essas pessoas, frequente e inadvertidamente, também tomam atitudes tóxicas clássicas, como atribuir a culpa aos outros quando as coisas dão errado, deixar pessoas chave fora da comunicação, ou tomar para si o crédito pelo trabalho de outras pessoas.
Solução: Honestamente, a maioria das pessoas egocêntricas não percebe que são egocêntricas, e quase todos, certamente, não querem ser. (Exceto os narcisistas, mas vamos supor que você não é um deles.) Para ter certeza de que você não se enquadra nessa categoria particularmente tóxica, invista regularmente um tempo colocando-se mentalmente no lugar de seus colegas, para tentar entender de fato suas perspectivas. Seja curioso e faça perguntas para saber mais sobre os colegas de trabalho que você não conhece bem. E o mais importante, mostre empatia. Deixe-os saber que você os respeita e os valoriza suficientemente para tentar entender o ponto de vista de cada um deles. Use expressões como “Sinto muito que você teve que lidar com …” e “Imagino que você deve ter se sentido …” para transmitir empatia diretamente.
Problema: As pessoas enxergam você como um “ditador”.
Não deveria surpreender que, em um estudo recente, colegas de trabalho tóxicos se revelaram, consistentemente, mais confiantes e autocentrados do que seus colegas não tóxicos. O que talvez te surpreenda é o terceiro traço comum, que muitas vezes eles compartilham: eles acreditam que regras sempre devem ser seguidas.
Claro que quando essas regras são éticas ou legais por natureza todos concordaremos que não devem ser quebradas. Mas outras regras, aquelas que regem a forma como o trabalho “deve” ser feito, podem, por vezes, serem flexibilizadas (ou até ignoradas por completo) por causa de um objetivo maior.
Ditadores não entendem dessa maneira. Eles se agarram às regras como Leonardo DiCaprio se agarrou àquela porta no Titanic – como se suas vidas dependessem disso. E eles querem ter certeza que todos farão o mesmo, pouco importando se a regra não faz sentido ou atrapalha a produtividade.
Essa adesão estrita às regras nasce, principalmente, a partir de um foco excessivo na prevenção. Pessoas focadas na prevenção são determinadas a permanecerem seguras. Elas geralmente são avessas ao risco e se preocupam sobre o que poderia dar errado se elas não forem cuidadosas o suficiente, mas seu trabalho também é mais completo, preciso e bem planejado.
Solução: Seja honesto: você se reconhece? Acha que talvez seja um pouco rígido quando se trata de fazer as coisas “do jeito que devem ser feitas”? Defende isso com veemência? Apesar de suas boas intenções, o que pode parecer perfeitamente sensato e responsável para você provavelmente está minando toda a sua equipe. Faça questão de ser mais flexível sobre as regras, especialmente as que podem ser quebradas, pois não são nem antiéticas nem ilegais. E não se esqueça de chamar a atenção dos seus colegas quando você está sendo flexível, obtendo o crédito por isso. Finalmente, quando você realmente tem que seguir as regras, não suponha simplesmente que outras pessoas entendem o motivo; guarde um momento para explicar seu pensamento, por quê é tão importante seguir as regras neste caso, e como fazê-lo será bom para a sua equipe.
Escrito por Heidi Grant Halvorson, Ph.D., diretora associada do Motivation Science Center na Columbia University Business School e autora do best-seller 9 atitudes das pessoas bem-sucedidas: descubra o que você deve fazer de diferente para alcançar seus objetivos (ed. Sextante). Seu livro mais recente, No one understands you and what to do about it (Harvard Business Review Press), recebeu destaque na mídia nacional e internacional.