Essas são apenas algumas das palavras chaves que escutamos (e sentimos) nesses últimos tempos. Naturalmente, estar exposto a tudo isso reflete o medo de perder o emprego. É um medo natural. No entanto, a ciência sabe que o medo bloqueia o risco, e em épocas de crise talvez o que você mais precise fazer é arriscar: sendo brutalmente honesto com os outros e consigo mesmo sobre as decisões passadas e seus impactos no presente e no futuro; testando novas formas de vender, se relacionar ou executar tarefas do cotidiano; e dizendo não para o que é prazeroso, porém irrelevante.
A taxa de desemprego no Brasil ficou em 11,2% no trimestre encerrado em maio deste ano, o resultado mais alto da série histórica iniciada em março de 2012, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Naturalmente, o receio do brasileiro de perder o emprego acompanha os números. Em dezembro de 2015, este receio havia crescido 36,8% em comparação a 2014 de acordo com pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria). O fenômeno não é exclusivo ao Brasil. Uma pesquisa publicada em janeiro de 2016 e conduzida pela agência ICM Unlimited com 9 mil trabalhadores (16 a 25 anos) de países como Austrália, África do Sul, Estados Unidos, Brasil e também da Europa mostra que 50% destes jovens acreditam que sua formação não os preparou para o mercado do trabalho, o que reflete no medo de parar no olho da rua.
Sedentos para explorar esse tema, conduzimos um estudo sobre sucesso, medos e valores com aproximadamente 200 pessoas, majoritariamente entre 25 e 35 anos da região Sudeste do Brasil entre junho e julho deste ano. Entre outras preocupações como problemas de saúde e família, 46% dos respondentes associaram seus maiores medos à vida profissional. Em resposta à pergunta “Do que você tem mais medo?”, 25% associaram à estagnação e ao fracasso profissional, 16% à instabilidade ou insucesso financeiro, e 5% mencionaram diretamente o desemprego. Em contraste, 42% dos entrevistados demonstraram um grau negativo de satisfação com a carreira (em uma escala de 1 a 6, até 3 pontos). Desta parcela de insatisfeitos, 26% vincularam seus medos ao fracasso profissional, 18% a questões financeiras e 4% a ficarem desempregados. Este mesmo grupo de pessoas afirmou que, se não tivessem medo, arriscariam mais como viajar ou sair do país (32%), mudariam de carreira ou abririam o próprio negócio (28%) e hesitariam menos em suas decisões e ações de forma geral (22%). Basicamente, os mais insatisfeitos com suas carreiras são os mesmos que mais têm medo de perder a carreira das quais não gostam. Curioso, não?
O medo faz parte da essência humana e garante nossa sobrevivência frente a situações de risco. Ele permite analisar cenários e avaliar consequências, porém deve ser administrado conscientemente. Praticar o autoconhecimento e entender nossos reais temores é o ponto de partida para identificar situações em que o medo inibe nossas ações em momentos em que deveríamos ser guiados pela cautela – medo é uma resposta primitiva e muitas vezes irracional, enquanto a cautela é racional e lógica. Ao focar nossas percepções e energia no que não queremos, acabamos fugindo de nossa real essência e de nossos sonhos e entramos em um ciclo vicioso de fracassos.
É fácil criticar. Porém o medo do sucesso é um problema que atinge muitas pessoas. Em um estudo publicado em fevereiro deste ano na revista Frontiers in Psychology, Neureiter e Traut-Mattausch abordam a Síndrome do Impostor, definida como o estado de percepção de incapacidade intelectual e profissional, apesar de evidências contrárias. Esta condição atinge aproximadamente 70% das pessoas em algum momento de suas vidas e está relacionada ao medo do fracasso e medo do sucesso, bem como à baixa autoestima. O estudo aponta que estes sentimentos comprovadamente reduzem o planejamento de carreira, ambição e motivação para liderar.
Embora um processo biológico, o medo não é um fenômeno insuperável. Nosso cérebro está em evolução contínua em função das experiências que vivemos e, portanto, é possível reconfigurá-lo (fenômeno de neuroplasticidade cerebral). Para isso, é necessário conhecer seus pontos fortes e usá-los para ganhar autoconfiança à medida que cresce sua exposição àquilo que teme. Quanto maior a exposição a situações conflitantes e desafiadoras, mais fácil será enfrentar e superar os anseios. O fundamento psicológico está na terapia de exposição: expor-se gradual e repetidamente e, com uma perspectiva racional, saindo dos exercícios mentais do tipo “ah se eu tivesse …” e de fato vivendo novas experiências de forma prática e visceral. Medo de falhar? De mudar? De sair da zona de conforto? Não tomar iniciativas e defender-se com argumentos rasos é sempre o caminho mais fácil. No entanto, se você não arriscar, certamente não conhecerá seus limites e nem vivenciará experiências transformadoras. Manter-se conformado e optar por permanecer em “standby” apenas fará com que você deixe de abraçar novas oportunidades e veja o tempo passar sem qualquer iniciativa. Este é realmente o seu perfil e como você espera traçar sua trajetória?
Para responder essa pergunta, sugerimos um simples exercício de diagnóstico bastante útil. Responda as perguntas: Em 2016, quantas vezes eu:
(1) Aceitei uma resposta errada ou um trabalho de baixa qualidade do meu time e fiquei quieto para não “criar confusão”?
(2) Deixei de dar feedback honesto ao meu chefe e meus colegas por temer suas reações?
(3) Não me posicionei de forma firme e convincente num debate do qual dominava o assunto para economizar energia e não confrontar?
(4) Não me mostrei interessado e determinado a abraçar um novo projeto na empresa por medo de falhar e não entregar?
Momentos difíceis e de incerteza são ótimas oportunidades para rever de onde estamos vindo, onde (de fato) estamos e onde queremos chegar. Claro que não é fácil e a ajuda de colegas e coaches profissionais pode ser bem-vinda.
Pessoas que fazem a diferença são sonhadoras e visionárias, mas acima de tudo, corajosas. Traçar uma trajetória única e não linear em que alcancemos o nosso potencial máximo implica em assumir riscos e fugir da mediocridade. Não reduza seus sonhos por medo. O fracasso de metas extremamente ousadas ainda é mais enriquecedor que o sucesso de sonhos medíocres. Erros e fracassos fazem parte do processo de aprendizado e de uma carreira de sucesso. Mude a sua mentalidade, tenha atitudes positivas, trabalhe duro e assuma riscos.
Francine Zucco é bioquímica com mestrado Erasmus Mundus em Inovação, mas verdadeiramente entusiasta da área de educação. Após morar e estudar no Canadá, França, Irlanda e Itália, descobriu a sua paixão por viajar, conhecer diferentes culturas e por auxiliar estudantes a buscarem experiências e histórias transformadoras pelo mundo. Ela mantém estas paixões nutridas na TopMBA, onde atua como coach.
Alex Anton é MBA pela Harvard Business School e é apaixonado por ouvir e contar histórias. A sua própria começa em Florianópolis, numa vila pacata, e passa pelo Canadá, Alemanha, Suíça, Indonésia, Estados Unidos e China. É co-fundador da TopMBA Coaching e Head of Business Development da Movile.
Fonte: HBR