Durante alguns anos de minha vida profissional eu achava que para crescer precisaria ser apenas sempre boa no que fazia. Eu vivia cercada de livros, fazia cursos sempre que podia. Quando chegava um e-mail de alguém da empresa, ia logo respondendo com boa vontade e fazendo meu melhor. Eu vivia propondo novidades, queria dar curso disso, daquilo, compartilhar o que sabia, emprestar o livro que havia comprado, fazer reuniões diferentes, mas no final da semana eu notava que havia evoluído pouco. O bom, o cultuado, era o cara que demorava dois dias para responder e não tinha cara de muitos amigos.
Nos meus primeiros anos de trabalho passei por empregos difíceis, até que comecei em uma empresa maior, que me animava, em uma função que eu achava ser mais “importante” do que havia feito até então.
Todos os dias eu pulava da cama às 6h30 da manhã, tomava meu café, lavava e secava o cabelo, punha salto, maquiagem e realmente parecia a imagem e uma profissional de sucesso, aquele estereótipo de sempre. Tentava ter a mente aberta e me empolgar ao ver algo novo acontecendo. Mas conforme isso acontecia, a frustração também aumentava.
Estranho né? Parece que eu fazia mais do que devia ali e ao mesmo tempo não fazia o necessário. Qual seria o segredo para me sentir plena e realizada?
Quantas foram as vezes em que carreguei nas costas responsabilidades enormes, como um evento em outro estado que eu organizei sozinha para aquela empresa e que envolvia a feira mais importante da área e um estande enorme para ser planejado. Viagens de madrugada, quilos de equipamentos na bagagem, usando uma diária de alimentação de R$60,00 que não supria nem a água que eu precisava beber no dia quando estava em hoteis,visto quetudo era caro. Meses depois eu fui demitida e demorei para entender o que havia acontecido, de fato. Eu havia me dedicado tanto, para aquilo?
Alguns anos depois e olhando de fora, entendo que não bastava ser apenas boa. Naquela época me faltavam algumas coisas. E quer saber? Essas coisas só viriam com o tempo mesmo. Eu não errei por não as ter naquela época. É que simplesmente a Flavia não podia ser aquela, ela estava aprendendo, era o início de tudo e ela não tinha todas as respostas.
Na minha curta jornada profissional, afinal, só tenho 32 anos, posso dizer que aprendi muito e quis listar esses aprendizados. Aprender essas coisas foi que finalmente me libertou e me deixou crescer.
1. Não adianta colocar mais lenha na fogueira se não for a hora certa
Crescer na vida profissional não é como colocar mais lenha na fogueira. Existe um tempo necessário para que as coisas comecem a dar certo. Não vai adiantar fazer vinte cursos em uma semana, não será isso que lhe fará ser promovido rapidamente. Em certo momento de minha vida eu achava que este era o caminho e fazia questão de sempre parecer engajada, envolvida, estudiosa. De querer impressionar o chefe, idolatrava os tapinhas nas costas e ganhava o dia se aquele bobão me elogiasse por algo que eu merecia.
É claro que você precisa estar preparado e não ficar desatualizado jamais. Aliás, foi assim que eu consegui ir para uma posição melhor em uma época que parecia impossível ser novamente promovida em tão pouco tempo, eu havia feito um curso mesmo após meu chefe me dizer que era cedo demais em pensar naquela posição. Quando o preparo encontrou a oportunidade certa, eu agarrei uma vaga que a princípio não poderia ser minha tão rapidamente.
2. Tudo o que você fizer lhe ensinará alguma coisa importante
Algumas vezes durante minha vida profissional exerci funções que estavam fora do meu escopo de trabalho. Até me sujeitei a coisas que não precisava fazer na função. Fiz café e lavei banheiro sendo assistente administrativo. Cuidei de ações de marketing quando trabalhava com desenvolvimento de produtos. Na época, eu as vezes até reclamava sobre ter que fazer aquilo, mas hoje agradeço por ter passado pela experiência. Vivi diversos momentos de eureka anos depois, quando conectei algo que fiz uma ideia com outra coisa e então tudo fez sentido.
3. Networking não é só para a empresa ou momento atual
Quando eu participava de eventos da empresa era normal trocar cartões com pessoas que conhecia. Eu confesso que nem me empolgava com isso porque logo pensava “esse cara não vai ser perfil nosso nunca” ou “não tenho poder de decisão, a burocracia da empresa vai barrar essa parceria”. E então, os cartões que eu trocava iam logo para o lixo, porque não havia o que fazer com eles. Eu jamais imaginava que um dia, anos depois, aquela pessoa poderia se tornar um parceiro ou me abrir uma porta quando eu estivesse fazendo outra coisa da vida, quando eu tivesse poder de decisão.
4. Você provavelmente não vai se aposentar naquele lugar
Quando você está em um lugar que gosta e tudo parece bem, consolidado e sem ameaças, existe o risco de você se acomodar e achar que passará a vida ali. De repente, surge uma tecnologia ou contratam alguém diferente e para você sobra o desconforto ou a rua. Eu cai nessa besteira e achei que ficaria lá por anos e anos.
5. Nada ali é seu
Cargos são empréstimos, título, confiança, papel. Nada dali é verdadeiramente seu. Sua mesa não é sua, seu computador, tampouco. Eu era tão apegada que sofri quando precisei deixar minha mesa, o banheiro que ficava ali perto, o refeitório, a gaveta em que eu guardava minhas coisas 8h por dia. Doeu deixar meu cargo e de um segundo para o outro assumir o título de desempregada. Só depois percebi que nada tinha sido meu.
6. Não abra mão de coisas que são suas por coisas que podem ser temporárias
Algumas coisas vão surgir no meio do seu caminho para lhe tirar o foco. Elas parecerão tentadoras e, de fato, em alguns momentos serão coisas incríveis. Enquanto eu fazia mestrado me surgiu a oportunidade de ser promovida. Logo pensei que como a função exigira mais de mim, seria melhor parar o mestrado para me dedicar mais. Felizmente eu não desisti, semanas depois fui demitida e teria ficado sem os dois. E um mestrado não se pode trancar, se você desistir, já era mesmo. Sem o mestrado eu não seria professora universitária hoje.
7. As pessoas não são tão seguras quanto parecem
Muitas vezes eu estive diante de situações em que precisava tomar decisões e me senti perdida. Será que só eu não sabia o que fazer? Todo mundo parecia tão conhecedor e decidido, menos eu. Só anos depois é que fui perceber que muitas vezes as pessoas tomam decisões mesmo com dúvidas, que elas não tem as respostas todas, que só os anos as ajudarão a decidir melhor, quando tiverem uma visão mais ampla da questão. Elas inclusive choram no banheiro e no travesseiro quando a situação aperta, mas elas precisam ser fortes. Eu também aprendi que as vezes alguém pode soar extremamente bem sucedido quando olhado de fora, mas tantas vezes é apenas marketing, posicionamento. Ali é gente como a gente mesmo.
8. Status e promoções são metas perigosas
Viver uma vida baseada em conseguir promoções ou colhendo os benefícios que o status que seu cargo lhe dá pode ser um grande tiro no pé. Conheci pessoas que eram um poço ambulante do mais exacerbado ego, crentes de que nunca seriam destronadas e que anos depois tomaram um tombo enorme ao perceberam que cenários mudam e que mundo dá voltas.
9. Não basta ser empolgado, é preciso persistir e agir
Muitas vezes eu começava um projeto novo e o abandonava dias depois, desanimada. Isso me impediu de crescer muitas vezes. Eu não focava, não organizava, não priorizava e muitas vezes iniciava aquilo atirando para todo lado, sem realmente buscar provas de que era bom investir naquilo – ou não. O mesmo acontece com aquela pessoa que tem muitas ideias e acha que isso é suficiente para salvar o mundo. Se alguém, querendo ou não, executa aquilo antes dele, passa por traidor, apenas porque decidiu executar enquanto ele morreria sem nunca fazer aquilo acontecer.
10. É preciso ser um misto de amado e temido
Alguém que é apenas amado pode ser facilmente destronado, isso porque infelizmente há muita gente que se guia apenas pelos benefícios que alguém pode lhe fornecer naquele momento. Trair o outro é fácil, a qualquer momento. A pessoa extremamente amada, e nada além, também pode acabar sendo feita de boba. Por isso, descobri que um bom equilíbrio é ser um misto de amado com temido. Temido não no sentido de ser um bruxo maldoso e estratégico o tempo todo, mas respeitável, profissional, que não aceitará ser feito de bobo, que não vai se envolver fácil em qualquer coisinha que aparecer. Isso inclui saber o momento certo de se retirar e tomar cuidados com a provas que gera contra você mesmo.
11. Sem saber o que você quer da vida, só vai patinar
Eu podia ser boa como profissional, mas até os 29 anos não sabia direito o que queria da vida. Havia feito uma graduação que odiava, transitava em vários mundos diferentes, não sabia dizer o que queria dali alguns anos e aceitava o que aparecesse no caminho e me parecesse bom no momento. Só quando decidi o que queria e comecei a guiar minha carreira é que as coisas mudaram e eu comecei a colher os frutos certos.
12. Pode existir um esquema secreto acontecendo
Às vezes, para crescer naquele lugar é preciso jogar o jogo. É por isso que às vezes nos perguntamos, “por que ele é sempre promovido e eu não, se não é tão bom assim?”. A resposta é que existem estratégias que não querem gente, necessariamente boa, mas capaz de jogar o jogo, de pertencer a ele, de manter tudo às escondidas. Nem sempre você percebe que esse jogo existe. E na maioria das vezes seus valores não permitirão que você queira participar daquilo.
13. Existe uma trava que o separa do crescimento
Eu demorei anos para entender isso e vivia sempre em um cenário limitado, de poucas oportunidades. Eu não me posicionava, não acreditava em mim de verdade. Achava que só teria oportunidades se implorasse para um amigo entregar meu currículo naquela empresa incrível. ou se tratasse de ser a melhor para o meu chefe. Mas descobri depois de anos que não funcionava bem assim e que muitas vezes meu currículo foi para o lixo ou que meu chefe nem notava que eu existia. É preciso criar as oportunidades, sair da zona de conforto, analisar, propor, atrair demandas para conseguir crescer.
14. Você é muito mais capaz do que imagina, talvez só tenha preguiça
Enquanto era funcionária vivia no limite do que eu deveria fazer apenas. Eu me limitava ao meu horário de trabalho, odiava se me pedissem para sair daquele escopo, nem mesmo me permitia ter ideias aos finais de semana porque achava que nem devia pensar em trabalho naquele momento. Muitas vezes enrolava para entregar projetos, não rendia. Quando me tornei empreendedora e precisei levar tudo nas costas sozinha, vi que era muito mais capaz do que pensava. Conseguir escrever grandes projetos e fazer entregas que um dia achei ser impossível. Mas isso só foi possível porque eu abracei a responsabilidade de verdade e me organizei para fazer aquilo sair do papel, afinal, sozinha eu não tinha a quem culpar mais e se quisesse crescer precisaria ser firme.
15. Uma mente brilhante que não entrega, não é brilhante de verdade
Muita gente se protege por trás de seu título, de seu cargo. De nada vai adiantar ser alguém incrível na teoria, mas que tem dificuldades de aterrissar. É preciso entender sobre pessoas, ter jogo de cintura, saber agir e não passar a vida em reuniões que são o faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Conheci pessoas que na teoria eram maravilhosas, mas elas só ficavam na enrolação, e dali nunca progrediam. Às vezes você nem é tão brilhante assim, mas leva adianta, faz acontecer. Não é preciso criar algo perfeito na primeira, isso pode acontecer depois, aos poucos.
16. Algumas vezes fazem o bom de besta
Sabe aquela pessoa que pegou fama de “pede pra ele com um sorriso no rosto que ele faz”. Pois é, essa pessoa bonachona, amiga de todas, é igual aquele colega da escola que deixava todo mundo colocar o nome do trabalho, mas só ele fazia. E o pior é que o bom é capaz de fazer algo incrível, mas lhe falta a perspicácia, o marketing. E aí os espertinhos ainda ficam com o mérito que seria dele.
Talvez algumas destas lições possam ajudá-lo a entender que a frustração que de repente possa pairar em sua mente nesse momento esteja sendo provocada por você mesmo. E talvez você preciso de mais um tempo ou vontade de agir para que elas finalmente aconteçam.
Fonte: Linkedin – Flavia Gamonar