No início de setembro, o apresentador Matt Lawer foi acusado de tratar de forma diferente a candidata à presidência dos Estados Unidos, Hilary Clinton, durante entrevista no programa Today Show. De fato, o jornalista teve atitudes que correspondem ao que várias pesquisas já comprovaram como comportamento discriminatório e preconceituoso. Lawer interrompeu constantemente a candidata, fez perguntas mais desafiadoras que aquelas dirigidas a seu oponente, Donald Trump, e questionou de forma consistente suas respostas.
Ao contrário do que imaginamos, esse comportamento é comum em ambos os gêneros e ocorre justamente porque a maioria das pessoas é, inconscientemente, discriminatória e preconceituosa. Estudos já demonstraram que mulheres com comportamento assertivo são percebidas de forma muito mais negativa do que quando homens agem da mesma forma, assim como suas ideias são geralmente rejeitadas mais frequentemente do que quando apresentadas por um homem.
Em um estudo documentado no livro “Lean In” de Sheryl Sandberg, estudantes de MBA de Harvard foram convidados a analisar o CEO de um case de sucesso. Todos leram a mesma trajetória, mas metade dos estudantes leu sobre um líder do sexo masculino e outra metade sobre uma líder do sexo feminino. Ao final da leitura, os alunos avaliaram o homem com traços positivos de personalidade, como “determinado” e “possuindo espírito de liderança”, e a líder mulher com traços negativos, como “mandona” e “direta demais. ”
A interrupção de mulheres por homens é um dos fatores mais expressivos desse preconceito inconsciente. Em um estudo de 1975, sociólogos da University of California conduziram um estudo onde gravaram conversas pelas ruas da cidade a fim de obter medidas concretas sobre esse tipo de fenômeno. Tendo coletado ao todo 31 diálogos, eles conseguiram demonstrar que nas conversas entre homens e mulheres, das 48 interrupções contadas, 47 foram feitas por indivíduos do sexo masculino.
Tais resultados foram endossados por outra pesquisa feita em 2014 na George Washington University, em que o linguista Adrienne Hancock convidou 40 pessoas, de ambos os sexos, e os dispôs em pares para terem pequenas conversas entre si. As mulheres foram significativamente mais interrompidas pelos homens do que eles por elas. Indivíduos masculinos interrompiam, em média, 2.1 vezes suas parceiras em uma conversa de três minutos. Elas por outro lado, os interrompiam apenas uma vez no mesmo tempo de diálogo.
Apesar de acreditarmos que estamos livres desse tipo de preconceito, é em situações de grande estresse que eles tendem a aparecer mais explicitamente, pois nessas horas o cérebro processa a informação de forma menos racional. Uma pesquisa conduzida por Francesca Gino e Alison Wood Brooks, da Harvard Business School, e Maurice Schweitzer, de Wharton, mostra que em estado de ansiedade, as pessoas são incapazes de avaliar a qualidade de uma informação recebida por outros ou de perceber potenciais conflitos de interesse, resultando em decisões problemáticas para eles.
Apesar de estarmos muitas vezes à mercê desses vieses inconscientes adquiridos ao longo de anos, e imersos em pré-julgamentos existentes na sociedade, é possível praticar algumas ações para tentar impedir essa forma de pensar. A primeira delas é admitir que esse tipo de preconceito, não só em relação a gênero como também à raça, orientação sexual, aparência e até traços de personalidade, nos afeta assim como a qualquer outra pessoa.
A segunda é procurar exemplos de situações em que os estereótipos que estamos acostumados a ver provam-se errados para que possamos questionar as convicções enraizadas em nosso cérebro. A terceira é individualizar as pessoas, procurando conhecer os outros através da personalidade única de cada um, principalmente daqueles pertencentes a grupos estranhos a nós. E a quarta, é colocar-se no lugar do outro, procurando sempre enxergar através da perspectiva de indivíduos diferentes. Com isso, estimulamos nossa empatia e conseguimos dissipar nossos preconceitos de forma natural e gradativa.
Adaptado do artigo “Why Hilary Clinton Gets Interrupted More than Donald Trump”, de Francesca Gino.
HBR Brasil