Será que os empreendedores sabem lidar com os maiores desafios da sociedade – sem se esgotar?
Essas são questões aflitivas. De acordo com a Deloitte, é esperado que as empresas do setor privado resolvam os problemas sociais mais desafiadores jamais vistos anteriormente – saúde, pobreza e a promoção do desenvolvimento sustentável – no caso de ausência, ou junto com, ações do governo. Muitos mostram interesse em assumir esse papel: uma pesquisa realizada recentemente pela consultoria com mais de 11 mil empresas e chefes de RH no mundo todo revelou que quase 80 por cento afirma que “a cidadania e o impacto social” são muito importantes, ou importantes atualmente.
No entanto, é aceitável esperar que uma empresa com fins lucrativos e seus colaboradores saibam resolver os problemas sociais? Auxiliar os mais necessitados e ter um negócio viável ao mesmo tempo pode gerar conflitos de objetivos. Nossa pesquisa, que fala como esse conflito surge na vida dos empreendedores que trabalham para empresas com fins lucrativos, revela a primeira prova robusta de que tal conflito pode ter uma séria repercussão na saúde e no bem-estar desses empreendedores.
Nosso estudo foi baseado na coleta longitudinal de dados obtidos de colaboradores e empreendedores do Reino Unido. Recrutamos1.388 pessoas num grupo de 3.525 colaboradores escolhidos aleatoriamente de uma base de dados representante da população britânica economicamente ativa – correspondente a 39%. Essa amostra representativa era composta de 25% de empreendedores e de 75% de colaboradores. Nossa enquete baseou-se na subamostra do empreendedor e coletamos mais de três grupos de dados dessas pessoas a cada dois meses.
Perguntamos sobre a motivação pró-social e o desejo de ajudar as pessoas a sondar até que ponto os empreendedores tinham tal tendência ou interesse. Perguntamos, também, sobre a capacidade de controlar e lidar com questões importantes para a vida e se alguma vez já sentiram que as dificuldades estavam aumentando de tal maneira que eles não mais conseguiam superá-las. Estudamos os resultados por meio de técnicas que nos permitiam identificar a estrutura causal de como a busca por objetivos sociais gera estresse e, acima de tudo, atinge a saúde e o bem-estar.
Nossos estudos revelaram que, em geral, o estresse é um problema de grande importância para empreendedores sociais. Ao tentar atingir metas comerciais e disponibilizar à comunidade ao mesmo tempo, esses empreendedores tendiam a se sobrecarregar de muitas responsabilidades e, consequentemente, esgotar todos os seus recursos pessoais. O custo dessa exaustão pode incluir tempo para com a família e baixa qualidade do sono.
No entanto, observamos que os empreendedores sociais que gostavam de um nível elevado de autonomia tinham uma probabilidade menor de ter o mesmo nível de estresse. À medida que essas pessoas conseguem organizar seu negócio para que tenham controle de como, onde e quando ajudar os outros, elas têm uma capacidade maior de controlar não somente a carga extra de trabalho, como também o nível de estresse. Tal autonomia é fundamental para que os empreendedores gerem impacto social sem deteriorar sua saúde mental e física, embora essa autonomia esteja ausente na vida de muitos – de acordo com a nossa análise. Mais especificamente, empresas novas ou menores frequentemente se veem dependentes de um único cliente, cujos procedimentos organizacionais estipulam quando, onde e como os empreendedores trabalham.
A grande pergunta é: Podemos ajudar todos os empreendedores sociais a proteger sua autonomia e a reduzir o nível de estresse a um nível controlável? Como? A resposta é importante porque, mesmo que saibamos da relevância das empresas sociais no atual mundo dos negócios, é possível que estejamos estimulando os empreendedores a afetarem sua saúde.
Da mesma forma que nosso estudo não investigou quais possíveis intervenções podem ser úteis no que tange a prevenção do esgotamento, sabemos que os líderes que promovem as iniciativas para o empreendedorismo social devem estar cientes de possíveis consequências de cunho pessoal para com seus colaboradores. Devem, também, auxiliar os empreendedores a organizar seu trabalho a fim de permitir a autonomia sempre que possível. Empresas sociais não podem continuar a mostrar um impacto social se seus gestores estão exaustos.
Ewald Kibler é professor assistente de empreendedorismo na Aalto University School of Business.
Joakim Wincenté Professor de Empreendedorismo e Gestão na Hanken School of Economics e na University of St. Gallen no Global Center for Enterpreneurship and Innovation. Ele está associado a Luleå University of Technology e ao Technology and the Swedish Research Excellence Centre CIIR.
Teemu Kautonené professor de empreendedorismo da Aalto University School of Business e da Universidad del Desarrollo.
Gabriella Cacciottié Professora Assistente de Empreendedorismo da University of Warwick Business School.
Martin Obschonka é professor de empreendedorismo e diretor do Australian Centre for Entrepreneurship Research at Queensland University of Technology, QUT Business School.
Fonte HBR