Quando as pessoas ficam sabendo que sou coach executiva, sempre perguntam quem são meus clientes mais difíceis. Líderes inexperientes? Líderes seniores que acham que já sabem tudo? Líderes que intimidam e menosprezam os outros? Líderes que fogem da responsabilidade?
A resposta é: nenhuma das opções acima. Os líderes mais difíceis de aconselhar são aqueles que não refletem – principalmente os que não refletem sobre si mesmos.
Posto da forma mais simples, refletir é pensar de maneira criteriosa. Mas o tipo de reflexão que é realmente valiosa para os líderes é mais sutil do que isso. A reflexão mais útil envolve o exame consciente e a análise de convicções e ações cujo objetivo é o aprendizado. A reflexão dá ao cérebro a oportunidade de fazer uma pausa em meio ao caos, desembaraçar e classificar observações e experiências, considerar diversas interpretações possíveis e criar um sentido. Esse sentido se transforma em aprendizado, e pode, então, embasar atitudes mentais e ações futuras. Para os líderes, essa “criação de sentido” é crucial para seu contínuo crescimento e desenvolvimento.
Uma pesquisa realizada por Giada Di Stefano, Francesca Gino, Gary Pisano e Bradley Staats em call centers demonstrou que os funcionários que passavam 15 minutos no final do dia refletindo sobre as lições aprendidas tiveram um desempenho 23% melhor após 10 dias do que aqueles que não refletiram. Um estudo realizado com trabalhadores do Reino Unido que utilizam o transporte diariamente encontrou resultados semelhantes, observando que aqueles que utilizaram o trajeto para pensar e planejar o dia eram mais felizes, mais produtivos e menos fatigados em comparação aos que não o fizeram.
Então, se a reflexão é tão útil, por que muitos líderes a ignoram? Em geral, eles:
- Não entendem o processo. Muitos líderes não sabem como refletir. Ken, um executivo com quem trabalho, confidenciou recentemente que não tinha cumprido – mais uma vez – seu compromisso de passar uma hora nas manhãs de domingo refletindo. Para ajudá-lo a superar essa barreira, sugeri que ele reservasse os próximos 30 minutos da nossa sessão de duas horas e apenas refletisse em silêncio, para depois fazermos uma avaliação. Após cinco minutos de silêncio, ele disse: “Acho que não sei o que você quer que eu faça. Talvez seja por isso que não tenho refletido”.
- Não gostam do processo. A reflexão exige que os líderes façam várias coisas que normalmente não gostam: desacelerar, adotar uma atitude mental de curiosidade e “esquecer” o que sabe, tolerar a confusão e a ineficiência e assumir responsabilidades pessoais. O processo pode levar a insights valiosos e até descobertas – além de sentimentos de desconforto, vulnerabilidade, resistência e irritação.
- Não gostam dos resultados. Quando um líder reserva um tempo para a reflexão, em geral ele vê maneiras de ser eficaz, além de coisas que poderia ter feito melhor. A maioria dos líderes é rápida em descartar os pontos fortes e desprezar os pontos fracos apontados. Alguns assumem tal atitude defensiva durante o processo, que não aprendem nada; nesses casos, os resultados não são úteis.
- Assumem um viés em relação à ação. Como os goleiros no futebol, muitos líderes têm um viés em relação à ação. Um estudo de goleiros profissionais defendendo pênaltis observou que, aqueles que se posicionavam no centro do gol, em vez de se lançarem para a esquerda ou direita, tinham 33% de chance de defesa; porém, eles permaneceram nessa posição apenas 6% das vezes. Os goleiros se sentem mais úteis quando “fazem alguma coisa”. A mesma coisa vale para muitos líderes. A reflexão pode lhes dar a impressão de estarem parados no centro do gol, deixando de agir.
- Não conseguem ver um bom Retorno Sobre o Investimento (ROI). Desde o início, os líderes aprendem a investir onde podem gerar um ROI positivo – resultados que indicam se a contribuição de tempo, talento ou dinheiro surtiram um efeito positivo. Às vezes, é difícil ver um ROI imediato no ato da reflexão, principalmente quando comparado a outros usos do tempo de um líder.
Se você já se flagrou utilizando essas mesmas desculpas, pode se tornar mais reflexivo seguindo alguns passos simples.
- Identifique algumas questões importantes. Mas não as responda ainda. Aqui estão algumas possibilidades:
- O que você está evitando?
- Como você está ajudando seus colegas a alcançar objetivos?
- Como você não está ajudando ou até dificultando a evolução deles?
- Como você pode contribuir para aquele relacionamento de trabalho menos proveitoso?
- Como você poderia ter sido mais eficaz em uma reunião recente?
- Selecione um processo de reflexão que corresponda às suas preferências. Muitas pessoas refletem escrevendo em um diário. Se isso lhe parece apavorante, mas acha que conversar com um colega é melhor, considere essa saída; contanto que você reflita de fato e não apenas converse sobre o último evento esportivo ou reclame de algum colega, o método fica a seu critério. Você pode ficar sentado, andar, pedalar ou ficar de pé, sozinho ou com um parceiro, escrever, conversar ou pensar.
- Agende um horário. A maioria dos líderes utiliza uma agenda para se orientar. Portanto, reserve esse tempo de reflexão e empenhe-se em cumpri-lo. Se você se pegar tentando cancelá-lo ou evitá-lo, reflita sobre isso!
- Comece com algo simples. Se uma hora de reflexão parecer demais, tente dez minutos. Teresa Amabile e outros pesquisadores observaram que o principal elemento capaz de gerar emoções positivas e motivação no trabalho é fazer progresso nas tarefas mais imediatas. Empenhe-se em fazer progresso, mesmo que ele pareça pequeno.
- Mãos à obra. Volte à sua lista de perguntas e as explore. Aquiete-se. Pense. Considere diferentes perspectivas. Considere o oposto do que você pensou inicialmente. Faça um brainstorm. Você não precisa adorar ou concordar com todos os seus pensamentos – apenas pense e examine sua maneira de pensar.
- Peça ajuda. Para a maioria dos líderes, a falta de vontade, tempo, experiência ou habilidade pode atrapalhar a reflexão. Considere trabalhar com um colega, terapeuta ou coach para lhe ajudar a reservar um tempo, ouvir atentamente, pensar junto e lhe atribuir responsabilidades.
Apesar dos desafios à reflexão, o impacto é claro. Como Peter Drucker disse: “Após uma ação eficaz, reflita com calma. Da calma da reflexão surgirá uma ação ainda mais eficaz.”
Jennifer Porter é sócia-diretora do The Boda Group, uma empresa de liderança e desenvolvimento de equipes. É formada pela Bates College e pela Stanford Graduate School of Business, experiente executiva de operações e coach para executivos e equipes.
Fonte HBR