A realidade virtual está deixando de ser uma promessa com apostas de gigantes do setor de tecnologia, como Samsung, LG e Facebook. Um mar de convidados estava sentado em confortáveis cadeiras usando óculos de realidade virtual da coreana Samsung. A tela mostrava uma caminhada pelas agradáveis ruas de Barcelona e até mesmo um divertido e emocionante passeio por uma montanha-russa. Sem que ninguém percebesse, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, caminhou pela plateia. Quando o filme acabou, os convidados ficaram surpresos ao ver o empreendedor em cima do palco. “Isso é o futuro”, disse ele. “Os vídeos 360 graus compartilharão as experiências como se você estivesse ali.”
Zuckerberg foi uma das atrações do Mobile World Congress (MWC), principal feira de mobilidade do mundo, que aconteceu em Barcelona na semana passada. Mas quem roubou mesmo a cena foi a realidade virtual, a ponto de deixar em segundo plano o lançamento do esperado S7 e S7 Edge, principal rival do iPhone. Com os óculos 3D Gear VR e a câmera Gear 360, ambos da Samsung em parceria com o Facebook, é possível gravar em um celular vídeos imersivos, com imagens em 360 graus. “Quando dei meus primeiros passos, meus pais pegaram uma caneta e anotaram a data no livro de bebê.
Minha prima, quando seu filho deu os primeiros passos, tirou uma foto com uma câmera. Minha irmã, quando seu filho andou fez um vídeo”, afirmou o fundador do Facebook. “Eu quero capturar toda a cena, então, vou fazer um vídeo em 360 graus.” A realidade virtual sempre foi uma aposta da indústria por muitas décadas. O fato é que, até agora, nunca deixou de ser uma promessa. Mas a MWC demonstrou que o ponto de inflexão está perto. A consultoria Report Buyer estima que a receita com essa tecnologia deve saltar de US$ 1 bilhão, em 2015, para US$ 15,9 bilhões, em 2020.
A consultoria CCS Insight prevê que a venda desse tipo de dispositivo crescerá de 2,2 milhões para 20 milhões em 2018, a maioria vinculados a smartphones. “A realidade virtual no celular deve ser o principal impulso para essa tecnologia nos próximos anos”, afirma Ben Wood, diretor de pesquisa da CCS. Esse otimismo apoia-se no time de peso que está investindo em realidade virtual. São nomes como o próprio Facebook, mas incluem também Microsoft, Sony, Google, HTC e LG – está última mostrou na MWC um rival da solução da Samsung.
O mercado de jogos eletrônicos é o mais óbvio a se aproveitar da tecnologia, mas há aplicações em diversos campos, como o setor de saúde. “Com o mercado de smartphones desacelerado, uma das maneiras de gerar lucros adicionais é conquistando um posto nas novas categorias, como os relógios inteligentes, as câmaras e os óculos de realidade virtual”, afirmou Ian Fogg, diretor do setor móvel da consultoria IHS. No corre-corre da MWC, as filas para se entreter com a realidade virtual das fabricantes era enorme.
Tanto Samsung como LG resolveram bater no óbvio: montanha-russa e cadeiras com sistemas hidráulicos que simulam fisicamente o movimento. “Mãos para cima, vamos descer”, grita uma das simpáticas espanholas. A sensação é de que você está literalmente caindo no vazio de uma montanha-russa em um parque temático em Orlando. Chega a dar alguma vertigem para quem se arrisca. Mas viver em um mundo virtual requer contudo alguns pré-requisitos ainda incertos. Se um torcedor quiser captar imagens em 360 graus de um jogo de futebol para imediatamente compartilhar com amigos, não conseguiria com as tecnologias 3G e 4G.
O diretor de telefonia da NEC no Brasil, Roberto Seiji Murakami, explica que somente com o avanço da tecnologia 5G, que é cerca de 10 vezes mais rápida que a 4G, será possível transmitir imagens em 3D ou jogar online com pessoas distantes no planeta em um celular. Mas isso só deve acontecer a partir de 2020, pois as empresas de telefonia globais estão ainda em fase de testes com o 5G. “Hoje andamos de Fusca e será preciso uma Ferrari para se conseguir fazer este tipo de coisas”, afirma Murakami. A corrida, no entanto, já começou.
Por Carlos Dias, Barcelona.