A carreira de algumas pessoas decolam, enquanto outras andam mais devagar — ou ficam estagnadas.
O senso comum diz que o primeiro caso se refere àqueles que frequentam os melhores programas de MBA, conseguem, logo que se formam, um cargo no alto escalão em empresas de prestígio, e sobem a escada direto até o topo, evitando cuidadosamente movimentos arriscados. Mas nossos dados mostram uma realidade completamente diferente.
Durante 10 anos, realizamos o estudo Projeto Genoma do CEO, no qual reunimos um conjunto de dados com mais de 17 mil avaliações de executivos em nível de diretoria e estudamos 2.600 deles em profundidade, para analisar quem chega ao topo e como. Em seguida, analisamos mais de perto os “CEOs velocistas” — aqueles que alcançaram o cargo de CEO mais rápido do que a média de 24 anos a partir do primeiro emprego.
Descobrimos algo impressionante: os velocistas não aceleram para o topo quando adquirem o pedigreeperfeito. Eles fazem isso por meio de movimentos ousados ao longo da carreira, que os catapultam para o alto. Descobrimos que há três tipos de catapultas de carreira mais comuns entre os velocistas. Noventa e sete por cento deles acionaram pelo menos uma dessas catapultas e perto de 50% acionaram pelo menos duas. (Por outro lado, apenas 24% tinham MBAs de elite.)
Por meio dessas catapultas de carreira, os executivos constroem os comportamentos específicos que diferenciam os CEOs bem-sucedidos — incluindo determinação, confiabilidade, adaptabilidade e a capacidade de engajar-se para causar impacto — e suas realizações fazem com que sejam notados. As catapultas são tão poderosas que mesmo as pessoas em nosso estudo que nunca aspiraram a se tornar um CEO acabaram chegando a essa posição seguindo uma ou mais dessas estratégias.
Comece devagar para ir longe
O caminho para o cargo de CEO raramente é traçado em linha reta. Às vezes você precisa andar para trás ou para os lados para seguir em frente. Mais de 60% dos velocistas desempenharam uma função menor em algum momento de sua carreira. Talvez eles tenham começado algo novo em sua empresa (por exemplo, lançar um novo produto ou divisão), mudado para uma empresa menor para assumir um conjunto maior de responsabilidades ou começado seu próprio negócio. Em todos os casos, eles aproveitaram a oportunidade para construir algo do zero e causar um impacto fora do normal.
Com quase trinta anos, “James” foi contratado em uma função de estratégia e empreendimento dentro de um negócio multibilionário de marketing e comunicação. No início da carreira, teve a oportunidade de desenvolver um dos novos negócios. Receber um organograma em branco e um futuro altamente incerto parecia um rebaixamento, ou, na melhor das hipóteses, um movimento lateral. “A receita era zero quando cheguei, e construímos o negócio até chegar aos US$ 250 milhões”, diz ele. Ao construir um novo negócio do zero, ele adquiriu habilidades essenciais de gestão, como gerenciar um P&L, gerenciar um orçamento e definir uma visão estratégica — todos os pré-requisitos para se tornar um CEO (mais de 90% dos CEOs que estudamos tinham experiência geral de gestão). Treze anos depois, ele se tornou o CEO de uma empresa de educação e treinamento de US$ 1,5 bilhão.
Dê um grande salto
Mais de um terço dos velocistas foram catapultados para o topo dando “o grande salto”, frequentemente na primeira década da carreira. Esses executivos mandaram a cautela às favas e disseram sim às oportunidades, mesmo quando o cargo ia muito além do que eles haviam feito anteriormente e não se sentiam totalmente preparados para os desafios futuros.
Veja, por exemplo, “Jerry”, que aos 24 anos entrou em um negócio de 200 milhões de dólares como contador sênior. Oito meses depois de ser contratado, recebeu o cargo de CFO, dando um chapéu no controlador que o havia contratado. Embora ele fosse jovem e ainda estivesse aprendendo o bê-á-bá, abraçou o desafio com entusiasmo. “Eu era muito jovem para o meu nível, e me deram a responsabilidade antes de estar maduro”, diz ele. Como CFO, ele teve insights sobre um amplo conjunto de funções e comprovou sua capacidade de prosperar em um ambiente novo e incerto. Nove anos depois, após um período como COO, conseguiu seu primeiro cargo de CEO.
Se você não espera que esse tipo de oportunidade caia no seu colo, você não está sozinho. No entanto, o que ouvimos desses velocistas é uma atitude do tipo “você faz sua própria sorte”. Procure projetos multifuncionais que abordem vários aspectos do negócio. Envolva-se em uma integração de fusão. Peça ao seu chefe responsabilidades adicionais. Enfrente problemas difíceis e complexos. Acima de tudo, crie o hábito de dizer “sim” a oportunidades maiores — estendo pronto ou não.
Herde uma grande bagunça
Pode parecer contra-intuitivo e um pouco assustador, mas uma maneira de provar que você tem espírito de CEO é herdar uma grande bagunça. Pode ser uma unidade de negócios com baixo desempenho, um produto com falhas ou uma falência — qualquer grande problema para os negócios que precisa ser corrigido rapidamente. Mais de 30% dos nossos velocistas lideraram equipes em uma grande confusão.
Situações confusas clamam por liderança forte. Quando se deparam com uma crise, os líderes emergentes têm a oportunidade de mostrar sua capacidade de avaliar a situação com calma, tomar decisões sob pressão, assumir riscos calculados, reunir os demais ao seu redor e perseverar diante da adversidade. Em outras palavras, é uma ótima preparação para o cargo de CEO.
“Jackie”, CEO de uma empresa de transportes, não ficou esperando uma grande bagunça ir ao seu encontro —foi atrás dela. “Gostava de trabalhar em algo que fosse uma bagunça que precisasse ser resolvida: TI, custo, impostos. Não importava ”, diz ela. “Recebia as tarefas mais abomináveis. Conseguia pô-las em ordem e descobrir a solução.” Ao se prontificar e arriscar sua carreira nos trabalhos que ninguém mais se atrevia a enfrentar, Jackie provou que podia produzir resultados para o bem da empresa. Vinte anos depois do primeiro dia em seu primeiro emprego, conseguiu seu primeiro cargo de CEO.
Embora não exista um caminho único para o cargo de CEO, essas catapultas de carreira podem ser reproduzidas por qualquer um que aspire a uma posição de liderança, e podem ser especialmente efetivas para aqueles com mais dificuldades de chegar ao topo. Para as mulheres, por exemplo, o tempo para chegar ao cargo de CEO é 30% maior, de acordo com Korn Ferry.
Acelerar sua carreira por meio dessas catapultas não exige um MBA de elite ou uma combinação seleta de traços inatos, mas exige disposição para fazer movimentos laterais, não convencionais e até mesmo arriscados de carreira. Não é para os fracos. Mas se você aspira chegar ao topo, é melhor se acostumar com isso.
Fonte HBR