– Há quem diga que é importante ter um crescimento vertical na carreira, que os cargos de gerência precisam ser aqueles com mais alta remuneração e que os profissionais mais capazes ocupam os cargos de chefia. Alguns profissionais sentem-se pressionados diante desse modelo organizacional e buscam a liderança a qualquer preço, embora não estejam aptos a exercê-la. Eles estariam motivados em seus próprios cargos, caso não estivessem inseridos em uma cultura organizacional que valoriza a progressão vertical em detrimento do crescimento horizontal. No entanto, desejosos por um salário melhor, poder e status assumem postos de gestão, sem desenvolver as competências necessárias. A fim de ilustrar essa reflexão, elaborei uma fábula sobre o “Gerente Que Não Queria Crescer”.
Em uma organização trabalhava um gerente que não queria crescer. Era como se ele acreditasse que as pessoas nascessem gestores e que crescer fosse apenas um processo natural. Ele era indicado para participar em cursos internacionais e para substituir seus chefes em reuniões com temas estratégicos. O Gerente que Não Queria Crescer gostava de receber os benefícios do cargo e se sentia orgulhoso em comentar sobre seus resultados, muito embora fossem medíocres tanto quanto sua própria atuação. Em alguns momentos, via vantagens em parecer pequeno, pois poderia ter várias desculpas para não fazer grandes coisas. Em outros, preferia parecer maior e ocupar o mundo dos poderosos. Um dia, a empresa resolveu organizar uma festa de integração. Seria um baile de máscaras. O Gerente Que Não Queria Crescer se viu em desespero. Não existia em qualquer canto da cidade uma máscara adequada à sua face. Algumas ficavam apertadas; outras grandes. Diante do desconforto, ele resolveu fazer uma máscara sob medida. Enquanto observava seu rosto diante do espelho, foi percebendo quantas rugas se acumulavam em seu rosto, na tentativa de manter as aparências diante dos chefes, colegas e subordinados. Percebeu como seu queixo estava caído pelas tantas vezes que se assustou ao receber uma missão além das suas capacidades; que suas orelhas estavam murchas pelos constrangimentos e vergonhas enfrentadas. Mais do que nunca, precisava de uma bela máscara para disfarçar as lágrimas derramadas ao enxergar a si mesmo. Por fim, disfarçou-se tão bem, que nenhuma pessoa seria capaz de reconhecê-lo. Era lua nova, as pessoas sorriam e brindavam os resultados alcançados ao longo do ano. Ele manteve-se isolado a festa toda, recordando seu rosto diante do espelho. Algumas máscaras o assombravam, fazendo- o sentir como se estivesse vendo fantasmas. Em dado momento, percebeu que ali ninguém poderia descobrir seus truques, que talvez sua máscara não caísse; mas sentiu-se desconfortável em levar adiante essa velha farsa. Ao voltar para casa, alguma coisa tinha mudado no seu íntimo. Deitou e recordou o quanto era feliz enquanto trabalhava em suas especialidades, sem nenhuma posição de chefia, e que estudar lhe dava prazer. Na verdade, ele era bom e feliz naquilo que fazia e seus superiores lhe deram várias oportunidades de crescer verticalmente, porque era nesse tipo de crescimento que eles acreditavam. Esse gerente, aparentemente um profissional medíocre, mudou seu futuro e o futuro da organização que trabalhava. Usou suas competências para propor um novo plano de cargos e salários com estímulos aos profissionais que, assim como ele, queriam crescer, mas sem ocupar cargos de gerência. |
Encarar-se no espelho é um grande desafio. O medo de não ser bom o bastante e de não agir conforme a cultura organizacional, ainda amedronta os profissionais. A verdade é que você pode fugir das suas responsabilidades, fugir das pessoas, mas um dia terá que encarar a si mesmo. No entanto, quando esse dia chegar, não tenha medo. Pode ser a hora de se transformar em um ser coerente com seus valores e propósitos e se tornar um profissional feliz, que atua naquilo em que acredita e pode fazer a diferença.
Adriana Lombardo é especialista em Gestão Estratégica Internacional, Liderança e Inovação.
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