O astrofísico Neil deGrasse Tyson, que fala sobre a origem do universo e as leis da física para um público amplo, explica por que entender com quem você está falando é tão importante para transmitir uma mensagem
Comunicar-se de maneira eficaz com um grupo diverso já não é fácil quando o assunto é simples. Quando se trata de astrofísica, então… Encontrar esse equilíbrio é parte do trabalho de Neil deGrasse Tyson, um famoso astrofísico americano e apresentador da série Cosmos, atualmente disponível no Netflix.
Em uma entrevista recente ao Quartz, Tyson explicou que, apesar de ter vontade de voltar ao laboratório, ele continuará explicando ciências ao grande público – através de programas de televisão, podcasts, colunas em jornais e vários bestsellers – porque alguém precisa explicar.
Qual é a chave do sucesso para falar sobre assuntos complexos como estruturas galácticas e a origem do universo? Segundo Tyson, saber quem é seu público – crianças, especialistas, leigos ou mesmo gente hostil ao assunto, por exemplo – e se relacionar com ele. Assim, as pessoas se sentirão vistas e vão se animar com a discussão.
É uma lição que pode ser extrapolada para qualquer segmento que envolva a comunicação de uma mensagem, seja uma palestra sobre empreendedorismo para jovens de escolas públicas, uma reunião de trabalho ou um pitch para investidores.
Como conhecer seu público?
Para explicar seu processo, Tyson fala sobre o lançamento de seu livro mais recente, Astrophysics for People in a Hurry [Astrofísica para pessoas com pressa]. A agenda de compromissos tinha programas de todo tipo: matinais, científicos, políticos, noticiosos, cada um com seus espectadores.
“O que descobri é que cada camada demográfica diferente precisava usar partes diferentes do que eu poderia oferecer – jeitos diferentes de emoldurar a informação”, falou.
“Não estou tendo a mesma conversa com cada apresentador. Se é um apresentador conservador, então uso um contexto conservador. Se é um apresentador liberal, faço a mesma coisa. Se os espectadores são mais velhos, sei que podem ter vivido a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria ou a Corrida Espacial”, continuou.
“A informação central não foi alterada. A ciência está intacta. Mas se vou ser um comunicador eficaz, preciso moldar o conteúdo para que possa ser recebido da melhor maneira possível pelos receptores daquele público.”
A outra opção – oferecer sua informação de um jeito só sem levar em conta quem está escutando – acaba sendo como uma palestra em que você está falando com a parede, sem engajar as pessoas.
“Um verdadeiro educador vai tentar entender quais são os receptores de cada indivíduo. Para muitas pessoas, há receptores em comum, então você já chega na metade do caminho”, disse.
Alguns exemplos do que ele chama de receptor? Se a pessoa tem 12, 20 ou 80 anos, se cresceu no interior ou num centro urbano, se é estrangeira, rica ou tem problemas financeiros e por aí vai.
Quando você domina um assunto, mesmo que não seja cientifico, é mais fácil enxergar como explicá-lo de diversas maneiras e em diferentes níveis de complexidade para pessoas diferentes.
Ao se esforçar para ativar a curiosidade e a compreensão em seu público, seja ele qual for, suas chances de ser ouvido aumentam e o seu conteúdo pode motivar ou mesmo transformar o pensamento de alguém.
“Se você não liga para a camada demográfica [de seu público], não pode reclamar que nem todo mundo entendeu sua mensagem”, concluiu Tyson.
Fonte: Portal Na Prática