EM 1993, Jensen Huang, um dos fundadores da NVIDIA, tinha em mente um único nicho ao criar a empresa: a construção de chips poderosos capazes de gerar gráficos para videogames de alta velocidade. Em 1999, quando a empresa abriu o capital e à medida que crescia nos anos 2000, os videogames continuaram impulsionando seu crescimento — mas, mesmo naquela época, Huang, um imigrante de Taiwan que estudou engenharia elétrica no Oregon State University e na Stanford University, vislumbrou um caminho diferente. Os cientistas de dados começavam a usar computadores para cálculos muito mais sofisticados e rápidos e a NVIDIA passou a gastar bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento para criar chips compatíveis com aplicativos de inteligência artificial (IA). Em meados de 2010, seus chips para IA passaram a dominar esse mercado nascente, aparecendo dentro de veículos autônomos, robôs, drones e dezenas de outras ferramentas de alta tecnologia. O gráfico de ações da NVIDIA mostra que a aposta valeu a pena: do fim de 2015 ao fim de 2018, as ações da empresa cresceram 14 vezes — o que coloca Huang no primeiro lugar da nova lista da HBR de CEOs com melhor desempenho do mundo.
Huang estreia no primeiro lugar, mas não na lista: ficou em 2º lugar em 2018 e em 3º em 2017 (O CEO com melhor desempenho no ano passado, Pablo Isla, da varejista espanhola Inditex, passou de CEO a presidente, deixando de concorrer em 2019). Essa consistência é típica na lista. Diferentemente dos rankings baseados em avaliações subjetivas ou métricas de curto prazo, baseia-se em medidas objetivas de desempenho ao longo de todo o mandato do CEO — e esses “indicadores de carreira” tendem a ser estáveis. Não é surpresa, portanto, que 65 dos CEOs do ano passado reapareçam neste ano.
Isso acontece não obstante uma mudança metodológica. Desde 2015, nosso ranking não se baseia apenas no desempenho financeiro, mas também em classificações ambientais, sociais e de governança (ESG). Nos últimos quatro anos, ponderamos as pontuações ESG para que representem 20% da classificação final de cada CEO. Neste ano, aprimoramos a fórmula, aumentando essa participação para 30% (veja o quadro “Como calculamos os rankings”). A mudança reflete o fato de que um número crescente de fundos e indivíduos considera muito mais do que resultados quando toma decisões de investimento. Um sinal dessa mudança de sensibilidade: em agosto de 2019, 181 CEOs dos Estados Unidos que são membros da Business Roundtable assinaram uma declaração afirmando que o objetivo de uma empresa não é servir apenas os acionistas, mas também outros quatro grupos de stakeholders: funcionários, clientes, fornecedores e comunidades.
A mudança na ponderação do ESG prejudicou uma pessoa em particular: o CEO da Amazon, Jeff Bezos. Apenas com base no desempenho financeiro, Bezos fica no topo da lista em todos os anos, desde 2014. No entanto, ele não conseguiu entrar na lista neste ano devido à pontuação relativamente baixa no ESG da Amazon. De acordo com a Sustainalytics, uma das duas empresas de dados ESG que auxiliam a HBR em seu ranking, a pontuação reflete riscos criados pelas condições de trabalho e políticas de emprego, segurança de dados e questões antitruste.
Como nos últimos anos, as mulheres estão sub-representadas entre os 100 líderes. No entanto, a lista de 2019 reserva algumas poucas boas notícias: quatro CEOs mulheres entraram no ranking (todas na metade superior), ante três em 2018 e apenas duas nos anos anteriores. Todo ano, quando a HBR publica essa lista, alguns leitores protestam contra a escassez de mulheres. Sempre respondemos dizendo que isso não tem relação com o desempenho das mulheres CEOs, mas de quão poucas mulheres atuam no cargo — um fenômeno que também achamos lamentável.
Os CEOs que aparecem nas páginas seguintes exibem uma notável longevidade — e ilustram a satisfação dos conselhos de administração quando um líder de alto desempenho permanece no cargo por muitos anos. Os CEOs do S&P 500 têm um mandato médio de 7,2 anos; em comparação, os CEOs com melhor desempenho da HBR estão no cargo há 15 anos, em média (Nossa metodologia, que exclui CEOs com menos de dois anos de mandato, talvez explique por que este número é tão alto).
Os artigos que acompanham o ranking examinam diferentes aspectos desse longo mandato. A empresa de recrutamento Spencer Stuart discute os resultados de um estudo orientado por dados que revela um padrão comum na relação entre o desempenho do CEO e o tempo de casa. Entre suas descobertas: aqueles que se saem bem o suficiente para sobreviver até a segunda década tendem a passar por um período de desempenho acima da média — algo de que muitos dos CEOs da lista da HBR desfrutam atualmente. E Bill George, professor da Harvard Business School e que foi CEO da Medtronic por uma década, argumenta que muitos CEOs ficam tempo demais porque não conseguem escolher o momento certo para se aposentar e não têm ideia do que farão a seguir. Ele oferece um roteiro para abordar as duas questões.
Por enquanto, porém, os investidores das empresas cujos CEOs aparecem no ranking deste ano esperam que Huang e os demais fiquem onde estão — e mantenham o bom desempenho.
Fonte HBR